A demanda também cresceu em razão das rusgas entre o governo Trump e o México. Em busca de novos fornecedores, os mexicanos têm recorrido mais ao milho brasileiro. Segundo Andrea de Sousa Cordeiro, analista da Labhoro Corretora, em alguns casos oferecendo até mais do que pagariam pelo produto dos Estados Unidos.
Com esses "estímulos", em janeiro os embarques de milho pelo porto de Santos, por exemplo, aumentaram 193,1% na comparação com o mesmo mês de 2017, para 1,7 milhão de toneladas. Em janeiro, a demanda externa foi ao encontro da disposição dos produtores brasileiros em vender - até para abrir espaço nos armazéns para mais uma grande safra de soja -, o que já não aconteceu em fevereiro.
Embora cerealistas e cooperativas ainda tenham em estoque cerca de 18 milhões de toneladas de milho, muitos produtores voltaram a segurar as vendas no mês passado à espera de preços melhores. Mas a estratégia deverá ter vida curta, já que a colheita de soja não terminou e o volume da oleaginosa a ser armazenado é grande.
Ainda que o Brasil seja o segundo maior exportador de milho do mundo, o mercado doméstico absorve cerca de 70% da produção. Daí porque os frigoríficos de aves e suínos instalados no país também estarem na corrida pelo produto.
De acordo com Luiz Carlos Pacheco, analista sênior da T&F Consultoria Agroeconômica, para garantir o grão nas rações que alimentam os animais as empresas do segmento estão oferecendo até R$ 0,50 a mais por saca de 60 quilos que o preço de exportação. No mercado doméstico, o indicador Esalq/BM&FBovespa para a saca acumula alta de 19,62% em fevereiro. O valor de ontem, R$ 38,31, é quase 8% superior ao oferecido pelos exportadores.
Apesar dos estoques elevados no país, todas as projeções indicam que a disponibilidade vai diminuir nos próximos meses, sobretudo no segundo semestre, já que as estimativas para a produção no Brasil nesta safra 2017/18 indicam que haverá forte queda em relação ao ciclo passado. A partir de então será possível esperar altas mais sustentadas dos preços da commodity.
Novas altas de grãos
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos de segunda posição de entrega negociados na bolsa de Chicago mostram que a soja fechou o mês passado com valorização de 4,03% em relação a janeiro. Houve retração de 2,47% na comparação com fevereiro de 2017, mas foi a maior média desde então. O milho seguiu caminho semelhante e, como a soja, registrou em fevereiro a sua maior média desde o mesmo mês do ano passado.
No mercado de soja, o farelo também tem colaborado para puxar as cotações do grão, uma vez que a Argentina lidera as exportações globais do derivado - que fechou fevereiro com preço médio 10,21% ao de janeiro na bolsa de Chicago. E os ganhos só não são maiores porque, no Brasil, segundo maior exportador do grão, o clima tem se mostrado mais favorável que o esperado e a produção deste ciclo 2017/18 caminha para bater outro recorde. Também pesa contra a escalada as primeiras perspectivas para a próxima safra americana (2018/19), que tende a ser novamente robusta.
Independentemente desses fatores "baixistas", no curto prazo, por causa da Argentina a curva de alta poderá se tornar mais aguda. Segundo a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), na semana encerrada em 20 de fevereiro os gestores de recursos ("managed money") ampliaram as apostas na alta da soja e deixaram o pessimismo de lado no mercado de milho. Ontem, os futuros de segunda posição de entrega de ambas as commodities encerraram o pregão em Chicago com valores superiores às médias do mês.
Mas, se na área de grãos o comportamento do mercado foi positivo para os exportadores brasileiros em fevereiro, o mesmo não aconteceu no segmento de "soft commodities", referenciadas na bolsa de Nova York. O suco de laranja até que voltou a subir - a média de fevereiro foi 2,39% maior que a de janeiro -, mas açúcar e café, cujos embarques são encabeçados pelo Brasil, voltaram a cair.
As informações são do jornal Valor Econômico, resumidas e adaptadas pela Equipe MilkPoint.