China reforça seus esforços no setor lácteo

A China busca através de parcerias privadas, reformular o setor lácteo e garantir produtos seguros e de qualidade para sua população. A Nestlé é um exemplo de empresa que tem investido no país, com um instituto de lácteos e fazendas com 1.000 animais.

Publicado por: MilkPoint

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Em 1949, Mao Zedong entrou no poder defendendo a autossuficiência em alimentos, mas 10 anos depois, as reformas agrícolas sob seu "Grande Salto Adiante" resultou em fome que deixou pelo menos 30 milhões mortos.

Seis décadas mais tarde, o governo comunista ainda luta para desenvolver um sistema agrícola para se adequar às suas crescentes necessidades. Dessa vez, entretanto, conta com o setor privado estrangeiro - como a Nestlé, a maior companhia de alimentos do mundo, que foi pioneira no primeiro instituto de lácteos do país e na fazenda adjacente com 1.000 vacas.

Outras companhias do setor privado, incluindo Fonterra, da Nova Zelândia, e Arla, da Dinamarca, também estão ajudando a reestruturar a indústria de lácteos da China. Desde 2005, o Governo central forneceu 1,5 bilhão de yuan (US$ 238,1 milhões) em subsídios, de acordo com a Associação de Lácteos da China, com outros 260 milhões de yuan (US$ 41,2 milhões) sendo fornecidos nesse ano.

Os planos são ousados. Antes do escândalo de contaminação do leite com melamina em 2008, que deixou pelo menos seis bebês mortos e muitos outros hospitalizados, desencadeando uma reestruturação da indústria, mais de 80% do leite produzido na China era em pequenas fazendas. Fazendas leiteiras de grande escala, aquelas com mais de 1.000 vacas, contribuíam com apenas 7% do leite cru do país.

Porém, os esforços da China para mudar a estrutura foi além de reagir ao escândalo. Eles também precisam alimentar um crescente número de bocas a partir da mesma quantidade de terra e garantir produtos de qualidade e seguros.

"O desafio para nós é onde encontrar leite, grãos de cacau e o resto", disse o gerente de mercados emergentes da Nestlé, Nandu Nandkishore. "Esse é um desafio de negócio real, porque se nós não temos matérias-primas de qualidade, não temos um bom negócio".

A Nestlé já buscou uma forma de contornar isso criando uma série de estações "concentradoras", como se fossem tanques comunitários, que tem a qualidade avaliada na porta e é testado antes de ser enviado à fábrica.

Agora, o Governo estimula os processadores a terem fazendas maiores. A Nestlé, assim como suas concorrentes domésticas chinesas, Mengniu e Yili, bem como a Fonterra, está mudando para fazendas maiores. Porém, os pequenos rebanhos leiteiros não serão esquecidos: em algo que parece como um modelo comunista, a Nestlé criará currais comunitários de vacas onde rebanhos menores podem ser reunidos.

O diretor de operações na China da Nestlé, Roland Decorvet, disse que a transformação está ocorrendo "em uma velocidade muito rápida. Os produtores estão indo para a cidade, onde o salário mínimo é um pouco maior do que o que eles conseguem obter com cinco vacas e não há necessidade de acordar às cinco da manhã".

O plano de cinco anos da China para agricultura prevê que 40 milhões de produtores rurais deixarão suas fazendas e irão para as cidades entre 2010 e 2015.

Embora a lógica seja sólida, ninguém está iludido sobre a escala do projeto. A falta de treinamento é um problema, que explica a decisão da Nestlé de abrir um instituto de lácteos, que deverá funcionar em abril, em parceria com uma universidade dos Estados Unidos.

Nem todos estão convencidos de que isso será suficiente. Mark Voorbergen, um consultor internacional de lácteos, está cético. A China, disse ele, é o maior importador de leite do mundo - comprando mais de 5 milhões de toneladas no ano passado - e enfrenta um desafio enorme em transformar produtores "de fundo de quintal" em especialistas em produção leiteira. "A China, assim como a maioria da Ásia, nunca foi uma região produtora de leite", disse ele. O leite "nunca foi uma parte importante da dieta, de forma que não há cultura de vacas leiteiras, muito menos de tornar isso como uma fonte primária de renda".

Voorbergen também cita a falta de oferta de alimentos para as vacas leiteiras. À medida que a classe média da China continua crescendo, suas dietas estão mudando muito, o que significa que mais suínos e frangos estão sendo consumidos. Isso está pressionando as ofertas de alimentos animais para todos os produtores rurais.

No entanto, para alguns, a transformação acelerada da indústria de lácteos - a China importou quase 300.000 novilhas nos últimos três anos, de acordo com o China Confidential, serviço de pesquisa online do Financial Times bem como toneladas de sêmen bovino congelado.

O analista de lácteos do Rabobank em Xangai, Martin Wu, disse que a qualidade do leite na China tem melhorado bastante desde o escândalo da melamina. "A melhor evidência é que você pode ver mais e mais processadores de lácteos construindo fazendas leiteiras. Antes da crise da melamina, a maioria das indústrias tinha como foco as vendas, preocupadas mais com construção da marca, e menos com a oferta de leite cru".

Voorbergen não concorda. Ele disse que todos os outros países produtores de leite do mundo levaram gerações para completar a transformação que a China quer fazer dentro de apenas uma geração.

A reportagem é do The Financial Times Ltd, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
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Pablo Jonas Camilo
PABLO JONAS CAMILO

SALTO DO LONTRA - PARANÁ - ESTUDANTE

EM 26/10/2012

Não concordo com este discurso ideologico de que os comunistas não foram capazes de resolver o problema alimentar e que só com a entrada das empresas estrangeiras que a China avançou, em nenhum setor as empresas estrangeiras entram "sozinhas" na China. Sempre ocorre uma parceria com uma empresa chinesa que participa do negócio ( joint venture). Então a chamo atençao aos leitores da reportagem para nao cair na ingenuidade de  achar que a China vai permitir que empresas como a Nestlé controlar sozinhas um setor fundamental como o abastecimento de leite. O abastecimento alimentar é questão central para os chineses.
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