Especialistas da indústria estimam que até o final do ano, o Estado da Califórnia, o maior estado produtor de leite dos Estados Unidos, terá mais de 100 fazendas leiterias falidas, fechadas ou vendidas. As vacas leiteiras estão sendo abatidas a uma taxa acelerada por causa dos altos custos do milho. De acordo com o Western United Dairymen, um grupo comercial da Califórnia, três produtores de leite cometeram suicídio desde 2009, desesperados por perderem suas fazendas.
"Eu nunca tinha visto isso tão terrível como está agora", disse o produtor de leite de Tulare que faz parte da diretoria da Western United Dairymen, Frank Mendonsa. "As pessoas estão me chamando e perguntando o que fazer".
Os problemas começaram em 2009, quando os preços do leite caíram e os preços dos grãos aumentaram (parcialmente devido à lei do etanol do Governo). O Congresso está exigindo que os produtores de gasolina misturem 15 bilhões de galões de etanol, feito a partir do milho, na oferta de gasolina dos Estados Unidos até 2015. Os produtores de leite foram forçados a pedir empréstimos para pagar suas contas.
O gráfico abaixo mostra que a relação de troca dos produtores americanos (razão entre o preço do leite e o preço da ração) vem caindo desde o final de 2009. É possível observar que o produtor vem amargando prejuízos e comprometendo sua lucratividade.
Gráfico 1: Relação de troca do produtor americano

Esse ano, no meio oeste, está tendo a pior seca dos últimos 50 anos e os preços do milho aumentaram para mais de US$ 300 a tonelada. Historicamente, o preço do milho era em média US$ 130 por tonelada. Mesmo com os preços do leite subindo lentamente, em novembro, estará próximo ao nível recorde de US$ 51,08 por 100 quilos de leite fluido. Os produtores não estão conseguindo um equilíbrio por causa dos custos dos grãos e do feno. Especialistas acreditam que os consumidores começarão a ver um aumento de preços aos produtos lácteos em novembro.
Mapa da seca dos EUA (09/10/12)

Legenda: D0: seca normal; D1: seca moderada; D2: seca severa; D3: seca extrema; D4: seca excepcional
Agora, os produtores não conseguem pagar pelos alimentos animais, e também, não conseguem pagar seus empréstimos. Como resultado, os produtores estão tendo que abater vacas leiteiras produtivas, e estão recebendo apenas US$ 1.200 por cabeça. "Eu nunca vi um período em que a vaca leiteira vale mais para produção de carne do que para leite", disse o produtor de Turlock, Ray Souza.
O diretor executivo da Western United Dairymen, Michael Marsh, disse que em comparação com 2011, foram enviadas para abate mais de 24.900 vacas leiteiras.
As empresas de alimentos animais, com medo de não receber, estão pedindo que os produtores paguem adiantado ou na entrega. Para os produtores atrasados com seus pagamentos, algumas companhias estão pedindo medidas extras de garantia. Muitos produtores de leite estão simplesmente desistindo e deixando a atividade.
Marsh estimou que a indústria perderá 100 das 1.675 fazendas leiteiras da Califórnia nesse ano, equivalente à 6% das fazendas.
Muitos produtores de leite estão tendo que suplementar suas vacas com commodities locais, como cascas de amêndoas, semente de algodão ou polpa de maçã.
Os produtores planejam ir para Sacramento nessa semana, para falar com a secretaria de Agricultura e Alimentos da Califórnia, Karen Ross, para pedir ajustes nos preços do leite, que são fixados pelo Chicago Mercantile Exchange. Os produtores tem pedido a Ross para aumentar a porção do soro do leite na fórmula de fixação de preço do leite usado nos queijos em US$ 2 a mais por 100 libras. No entanto, o Departamento de Agricultura e Alimentos, que em julho fez uma concessão de 50 centavos no fator soro do leite, já disse aos produtores que não aumentará mais.
O porta-voz do departamento, Steve Lyle, disse que "Quando se considera mudanças nas fórmulas usadas para calcular o preço mínimo, o departamento é obrigado a equilibrar os impactos econômicos sobre os produtores, processadores e consumidores para garantir que exista leite suficiente para suprir a demanda e que a demanda continue consistente. Dados mostram que ajustes de preços de curto prazo não serão efetivos".
Ao invés disso, o departamento está montando o Dairy Future Task Force, uma coalizão de produtores de leite, processadores e cooperativas que farão recomendações para dar longevidade à indústria, disse Lyle.
A reportagem é do www.sfgate.com, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
