[Áudio] Paulo Amaral, da Cifra Leite: "o confinamento é a tendência no Sudeste brasileiro"

"Alguns produtores perdem tudo o que construíram na seca e no verão. Precisamos tirar as pedras do caminho para que o negócio seja economicamente viável, por isso, estamos vendo esse aumento no número de confinamentos, pois com eles, temos menos variações. Conseguimos ao menos entregar sempre uma vaca limpa para o ordenhador, o que é fundamental para o trabalho dele".

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 7 minutos de leitura

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Paulo Amaral da Cifra LeitePaulo Rafael Lemos Amaral é filho e neto de produtores de leite. Graduou-se em Zootecnia em 2005 e desde então, passou a atuar no setor leiteiro como consultor. Agregando outras pessoas ao seu negócio, fundou a Cifra Leite, localizada em Uberlândia/MG. Segundo ele, boa parte dos resultados de uma fazenda está atrelada a como enxergamos o negócio. “Meu pai, por exemplo, é um entusiasta da atividade. Ele é responsável por toda a gestão da propriedade, ‘come no mesmo prato’ que os funcionários e se faz presente todos os dias”.

Desafios do leite

Paulo enxerga que o grande problema da produção de leite hoje é o custo operacional. “Quem produz leite com o custo operacional de R$ 1,00, no Sudeste, consegue sobreviver na pior das crises. Assim que o mercado melhorar, esses produtores terão uma taxa considerável de retorno”.

Para ele, outro gargalo da leiteria é a insatisfação natural do produtor. “Concordo com eles nesse sentido, já que o preço do leite oscila muito. O UHT sai da casa de R$ 1,50 para R$ 4,00 em um curto período de tempo, o que sinaliza um desajuste grande da cadeia. Para comparar, na Europa, nos últimos 10 anos, o UHT se manteve praticamente com o mesmo preço. O sobe e desce prejudica a indústria e produtor. À medida que temos um excesso de leite, o varejo baliza o preço e isso se traduz na redução de margem do laticínio e ao menor preço pago ao produtor”, comenta ele, que destaca que os produtores devem enxergar o laticínio com um cliente e por essa razão, exigir uma política de pagamento.

“Creio que seria interessante uma previsibilidade do laticínio com relação à comercialização e - melhor ainda - se existisse a possibilidade de travar o leite na bolsa de valores como acontece com os grãos e a carne. Poucas fazendas que conhecemos trabalham com contrato e este é muito importante, pois sinaliza um grande passo para mudar a cultura do setor. O desafio dos laticínios é obter um indexador justo que balize os preços pagos aos produtores. O preço pago pelo leite dependerá da eficiência do produtor no campo e as informações precisam estar clareadas e controladas. Se a CCS (Contagem de Células Somáticas) aumentar, provavelmente ele receberá menos, mas ele precisa conhecer todo o contexto para agir e até cobrar da consultoria melhorias, tudo está interligado. A nossa missão é conhecer as ‘dores’ dos produtores e trabalhá-las. Muitas vezes chegamos na fazenda para trabalhar a qualidade do leite e o proprietário não compreende que este é um problema, focando em outros itens - o que prejudica a evolução maciça do desenvolvimento do negócio”.

Sistemas de produção e suas variações

Em entrevista ao MilkPoint, Paulo destaca que em algumas regiões de Minas Gerais, principalmente no Triângulo Mineiro e no Alto Paranaíba, os modelos confinados vêm crescendo, com destaque para o compost barn. Ele ressalta que para produzir leite é interessante diminuir as variações.

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“Eu não consigo concordar com um sistema produtivo que apresenta um decréscimo de 20 a 30% na produção no verão ou, que a sua taxa de prenhez caia de 30 a 40%, aumentando os descartes, a piora da CCS e da conversão alimentar, entre outros. Pensando em qualidade de leite, por exemplo, a maioria das fazendas ainda trabalha com o modelo tradicional: confina na seca e coloca os animais no pasto no período chuvoso, o que implica em outros desafios, como o barro que ‘impregna’ nas vacas. Assim, como vamos manter a qualidade o ano todo? Alguns produtores perdem as conquistas técnicas adquiridas no período seco durante os meses de chuvas aqui no Sudeste. Precisamos tirar as pedras do caminho para que o negócio seja economicamente viável, por isso, estamos vendo esse aumento no número de confinamentos, pois com eles, temos menos variações. Conseguimos ao menos entregar sempre uma vaca limpa para o ordenhador, o que é fundamental para o trabalho dele”.

Paulo reforça a necessidade de pensarmos sempre com a cabeça do funcionário. “Se perguntarmos aos funcionários da nossa fazenda qual é a função deles, o que eles precisam entregar e o que o laticínio deseja, vamos ficar abismados com a porcentagem que não sabe responder a essas questões. Isso é um sinal de que não há comunicação da liderança. Se eles não sabem o porquê daquilo que fazem, não vão se engajar”.

"Precisamos tirar as pedras do caminho para que o negócio seja economicamente viável, por isso, estamos vendo esse aumento no número de confinamentos, pois com eles, temos menos variações".

Ainda sobre o confinamento, ele comenta que a pecuária de leite caminha para esse sistema por um motivo primordial: diluição dos custos operacionais e da mão de obra e demais custos da fazenda. “O produtor para confinar também precisa ser um bom agricultor, produzindo forragem de boa qualidade e garantindo uma boa conversão alimentar”.

Itens que podem contribuir para o desenvolvimento da atividade

Com muita experiência no campo, Paulo já assistiu muitas fazendas de leite e fala com segurança sobre o que pode contribuir de fato com o negócio. “Pessoas são o principal negócio de uma empresa, e no leite, não é diferente. Falta engajamento das equipes e isso se faz com liderança. Para ter liderança, é necessário competência, e para ter competência, é preciso habilidade, conhecimento e atitude. Nas propriedades com um time comprometido e um sentimento de união, há uma vibração nítida em prol dos números, que são essenciais para os resultados. Alguns indicadores fundamentais nesse sentido são: produção por mão de obra acima de 700 litros, conversão alimentar acima de 1,5 e taxa de prenhez de 20%. Esse trio dita muito os resultados de uma propriedade”.

Em sua opinião, produzir leite não é simples. “São exigidos muitos conhecimentos, mas, reforço a necessidade do produtor na lida com as pessoas. Sem time, sem estrutura, sem a vibração das pessoas no dia a dia, não tem resposta. Não é a tecnologia que faz o produtor ganhar dinheiro, é a forma como ela é manipulada. Têm sobrevivido as fazendas tecnológicas e com um alto grau de gestão – ou – fazendas muito simplistas, onde há escala de produção com baixa tecnologia. O grande desafio deste segundo modelo é que quando você coloca a terra como fator, como capital, a atratividade do negócio é pequena. A meu ver, a solução é ter fazendas tecnológicas com gestão e será a forma como é executada a tecnologia que ditará o retorno”.

“São exigidos muitos conhecimentos para a produção de leite, mas, reforço a necessidade do produtor na lida com as pessoas. Sem time, sem estrutura, sem a vibração das pessoas no dia a dia, não tem resposta".

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Paulo não deixa de citar as políticas de maior comercialização interna. “O brasileiro ainda consome poucos lácteos, como os queijos, o que tem a ver com a renda per capita também, porém, deveriam existir políticas de valorização e comercialização dos produtos”.

Confira um trecho da entrevista gravada com Paulo Rafael Lemos Amaral:

Palestra no Interleite Sul 2018

Paulo será um dos palestrantes do Interleite Sul 2018 e falará em sua apresentação sobre “O que os melhores do leite estão conseguindo no Sudeste e Centro-Oeste? Quais as razões desse sucesso?”. Sua palestra compõe o painel “Economia da produção de leite”.

“O Interleite Sul 2018 inova e trará a tona o que há de mais atual na perspectiva futura para a cadeia. Temos que ser intolerantes ao insucesso e eu aposto que esse evento vai contribuir e muito para isso. É uma oportunidade para os produtores se situarem sobre a sua importância. O evento será revolucionário e quem participar, terá a oportunidade de enxergar o negócio de uma maneira mais evolutiva. Falta entendimento do negócio e esse entendimento começa com uma discussão robusta, como a que ocorrerá em Chapecó/SC. Por meio de dados reais, eu vou expor ao público sobre o perfil do produtor de sucesso e como sobreviver em uma margem tão estreita. Quero que todos enxerguem que há ainda muito espaço para melhorias da porteira para dentro, o que garante com certeza uma maior lucratividade”.

Inscrições para o Interleite Sul 2018 

As inscrições com desconto referentes ao segundo lote se encerram no dia 15/04. Se programe e venha participar conosco do melhor evento leiteiro da região Sul!

Aproveite para confirmar a sua presença na página do Interleite Sul no FacebookPor meio dela também serão publicadas novidades sobre o evento! A hashtag oficial do evento é: #interleitesul2018 

Para quaisquer informações ou dúvidas sobre o evento envie um e-mail para ana@agripoint.com.br ou ligue para (19) 3432-2199. 

patrocinadores Interleite Sul 2018

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Fagner Vitoria
FAGNER VITORIA

CACOAL - RONDÔNIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/04/2018

Ótimo artigo...
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