Aumento de custos, inflação, preço ao produtor paralisado e crescentes distorções pela intervenção são alguns dos pontos que os especialistas que participaram da "Jornada de Atualização no Setor Leiteiro" ressaltaram para explicar a má situação pela qual estão passando as fazendas leiteiras argentinas.
"O modelo econômico atual, que promove controles de preço da matéria-prima que não são reproduzidos nas gôndolas; inflação alta e aumentos dos custos sem relação com os preços ao produtor estão asfixiando o setor leiteiro. Necessitamos urgentemente que o Governo nos escute e comecemos a fazer juntos, Estado e produtores, um modelo de desenvolvimento que nos ajude a crescer e a fazer com que todos ganhem. Não é impossível, é só uma questão de vontade", explicou o deputado nacional radical e produtor de leite, Jorge Chemes, organizador da jornada.
Após escutar os relatos de técnicos e produtores presentes, Chemes se ofereceu para mediar ante ao presidente da Comissão de Agricultura, Luis Basterra, para buscar uma solução aos produtores de leite.
O presidente da Sociedade Rural, Hugo Luis Biolcati, concordou com Chemes, destacando a excelente situação internacional que a Argentina não está aproveitando. "Nunca vi na minha vida de produtor de leite uma oportunidade como a que temos hoje. Precisamos aproveitar o momento, não seguir desperdiçando oportunidades. O aumento da demanda de lácteos a nível mundial é um fato que não tem volta e que devemos poder aproveitar. Não são muitos os países que têm nossas condições para aproveitar isso".
Por sua vez, o economista e assessor da Câmara de Deputados, Hernán Neyra, destacou a ineficácia dos controles de preços atuais. "Para dar um exemplo, segundo a Defesa de Competição na Capital Federal, três grandes grupos (Carrefour, Disco-Jumbo e Coto) estão manejando a maior parte do mercado de alimentos (41%, 29% e 28%, respectivamente). Digam-se se isso não significa um verdadeiro poder de fixar os preços, que não está sendo considerado pelos órgãos oficiais na hora de controlar".
Neyra também ressaltou o fato de que, na hora de falar do setor leiteiro, a presidente da Argentina (Cristina de Kirchner) somente se refere ao setor para falar do boom de 2011, com 11 bilhões de litros, e comparar a evolução das fazendas leiteiras desde 2003. "Não é casual que se tenha partido de 2003, um ano péssimo para o setor leiteiro, para falar do suposto recorde. Agora, se compararmos nossa evolução com o Brasil, damo-nos conta de que nossa realidade não é tão feliz como marca a presidente".
O chefe de Pesquisa de Movimento dos Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola (CREA), Ricardo Negri, destacou o enorme investimento que os produtores de leite fazem ano a ano, em um contexto em que nem sempre se tem certezas de que haverá rentabilidade. "no ano passado, foram investidos mais de 15 bilhões de pesos (US$ 3,35 bilhões) no setor leiteiro, dos quais 85% são gastos diretos (pessoal, alimentação, etc). Cada produtor de leite investiu no ano passado 1,26 milhão de pesos (US$ 281,64 mil). São colocados em jogo um montão de dinheiro, ainda que nem sempre as condições são favoráveis como ocorre agora, onde estamos frente a preços do leite abaixo dos custos de produção. O mais notável é que, desses 15 bilhões de pesos (US$ 3,35 bilhões), 88% fica nas comunidades do interior, ou seja, é dinheiro que fica no poço e gera trabalho para pessoas daí".
Em seguida, os economistas Ezequiel de Freijoo (Sociedade Rural Argentina) e Juan Cruz Rey Kelly (Confederações Rurais Argentinas - CRA) enumeraram as propostas geradas na Mesa Nacional de Produtores de Leite para levar adiante a produção, com mais exportações, mais divisas para o país, mais trabalho e mais lucros ao produtor.
"Estamos propondo levar os reembolsos à exportação aos valores de 2005, compreendendo isso a 34 produtos lácteos, e compensar o litro de leite com uma soma de 30 centavos (6,70 centavos de dólar) para produtores de até 6.000 litros. A soma dos reembolsos significará 128 milhões de pesos (US$ 28,61 milhões) e as compensações do leite, 1,1 bilhões de pesos (US$ 245,87 milhões), mas geraria um impulso à atividade", disseram Freijoo e Rey Kelly.
"Também propusemos a supressão dos Registros de Operações de Exportações de Lácteos (ROEL), a desarticulação das distorções ao comércio de leite, a garantia de um comércio fluido no setor e a otimização do sistema de compras de lácteos por parte do Governo", disse Freijoo.
Segundo os economistas, o tipo de câmbio baixo, a inflação, o aumento de 154% nos custos de produção desde 2006 e dos custos trabalhistas em 27% em dólares desde 2009, além dos embargos para exportar, estão complicando fortemente o panorama dos produtores de leite, a ponto de por em jogo a sobrevivência dos pequenos e médios produtores do setor.
Na hora das conclusões, Chemes destacou a necessidade de obter um marco de regra estáveis para a atividade, para que essa possa crescer, gerar divisas e trabalho. "Nisso concordo com o que diz a Mesa Nacional de Produtores de Leite, que afirmam que os produtores não devem ter controles de preços em um país onde a maioria dos bens e serviços não tem controles como o nosso. Isso nos põe na situação de pagar custos de mercado livre, mas ter preços da matéria-prima congelados, o que nos gera um prejuízo enorme".
A reportagem é do Infocampo, traduzidas e adaptada pela Equipe MilkPoint.
Argentina: "Modelo econômico está asfixiando o setor leiteiro"
Aumento de custos, inflação, preço ao produtor paralisado e crescentes distorções pela intervenção são alguns dos pontos que os especialistas que participaram da "Jornada de Atualização no Setor Leiteiro" ressaltaram para explicar a má situação pela qual estão passando as fazendas leiteiras argentinas.
Publicado por: MilkPoint
Publicado em: - 4 minutos de leitura
Publicado por:
MilkPoint
O MilkPoint é maior portal sobre mercado lácteo do Brasil. Especialista em informações do agronegócio, cadeia leiteira, indústria de laticínios e outros.