No entanto, em Santa Fé, a situação é sumamente delicada. Segundo dados do Ministério da Produção da província, em março, o preço médio do leite foi de 2,78 pesos (US$ 0,34), o que o coloca abaixo do “nível técnico” que necessitam os produtores de leite para sobreviver. Para se ter uma ideia, com um valor disponível do milho de 1.426 pesos (US$) por tonelada no mês de abril, o preço do leite deveria ser de 3 pesos (US$ 0,37) por litro para que a relação leite/milho se mantenha em um nível equivalente ao de março passado.
Segundo um estudo realizado pelo site especializado Valorsoja.com, para que a relação de preços volte à vigente no mês de janeiro desse ano, o valor do leite deveria ficar hoje em não menos de 3,23 pesos (US$ 0,41) por litro. Por esse e outros motivos é que o ministro de Santa Fé, Carlos Fascendini, reclamou na CFA diante da presença do ministro da Agricultura, Carlos Casamiquela, que o setor leiteiro seja declarado como “uma atividade estratégica” em todo o país.
Em Buenos Aires, por outro lado, Daniel Scioli está consciente de que, se quiser ser presidente em 2015, precisa não somente melhorar a relação com os produtores de leite, mas também, fornecer soluções para aperfeiçoar o estado geral do setor. Para isso, seu ministro de Assuntos Agrários, Alejandro “Topo” Rodríguez, está se reunindo com a Mesa Provincial do Setor Leiteiro. Nesse contexto, a atitude dos governos das três províncias leiteiras (Buenos Aires, Córdoba e Santa Fé) foi reconhecida até pelos dirigentes da Mesa Nacional de Produtores de Leite (MNPL).
“Concordamos (com os três ministros) na descrição das dificuldades do setor e da necessidade de encontrar ajudas de forma urgente, para possibilitar a subsistência de todos os produtores de leite”, disse um recente comunicado de imprensa da MNPL. “Compartilhou-se a necessidade de trabalhar para recuperar o tempo perdido no que se denominaria um ‘Projeto Nacional do Setor Leiteiro’, que defina condições para inserir a Argentina como relevante exportadora de produtos lácteos”.
O certo é que, embora a crise do setor tenha se iniciado há vários anos com a intervenção oficial no mercado, o governo nacional sempre se encarregou de negá-la através de um grupo de produtores denominados de “produtores K”. Dessa maneira, longe de atender às reclamações das províncias, Casamiquela e todo o gabinete do Ministério da Agricultura se reuniram em Santa Fé com um grupo de produtores e prefeitos da região.
O dado chave é que, diferentemente de outros momentos, os atuais fechamentos das fazendas leiteiras se registram em um contexto em que o preço de exportação do leite em pó está em níveis recordes históricos, acima de US$ 5.000 por tonelada. A questão é que semelhante generosidade da demanda mundial não se pode aproveitar na Argentina pelo “estoque de lácteos” instrumentado pela Secretaria de Comércio que, em março, habilitou apenas 8.729 toneladas (o nível mais baixo desde dezembro de 2010).
Por outro lado, para traçar um paralelismo de nível da rentabilidade dos produtores argentinos, cabe destacar que no Uruguai, o preço do leite está em US$ 0,47 por litro (o que representa 3,76 pesos (US$ 0,46) por litro médio no tipo de câmbio oficial). Esses dados surgem de um relatório de março, publicado pelo Instituto Nacional de Leite do Uruguai (Inale), que mostra com toda crueza que no país vizinho, os produtores recebem 1 peso (US$ 0,12) a mais por litro de leite que na Argentina.
A reportagem é do www.iprofesional.com, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint Brasil.
