Apontamentos sobre a origem do gado Holandês

Raças e genética: Denomina-se AUROCHES ou UROCHS, o ancestral mais remoto da espécie bovina encontrado entre os achados arqueológicos. Em épocas remotas habitava a Europa de Portugal a Grécia e no oriente da Sibéria a Índia. Linhagens mais dóceis teriam sido selecionadas e domesticadas pelo homem no centro e sul do continente europeu, dando origem ao BOS TAURUS. Por Jonas Plínio do Nascimento Júnior (Pesquisador e Criador)

Publicado em: - 9 minutos de leitura

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Denomina-se AUROCHES ou UROCHS, o ancestral mais remoto da espécie bovina encontrado entre os achados arqueológicos. Em épocas remotas habitava a Europa de Portugal a Grécia e no oriente da Sibéria a Índia. Linhagens mais dóceis teriam sido selecionadas e domesticadas pelo homem no centro e sul do continente europeu, dando origem ao BOS TAURUS. Na Europa, mais corretamente na Holanda pré-histórica, multiplicavam-se numerosos bovinos. Possuímos prova disto nas escavações feitas para drenar os Pölders (espécie de diques e barragens que permitem que a água se retire com a maré vazante) de Nierngemeer e Zuiderzee em 1170, Pólen em 1627 e Elevomeer antes de 1212, onde foram encontrados vários esqueletos fossilizados do BOS TAURUS.

Na Frísia, mais exatamente na região de Groningenterpen, pesquisadores e paleontólogos, conseguiram montar um esqueleto completo. Na formação do gado europeu que se espalhou pelo mundo inteiro e descendente do BOS TAURUS, fizeram parte três variedades:

1ª - BOVINOS DE CHIFRES CURTOS (BRAQUICEROS), denominados LONGIFRONS pelo geólogo inglês Owen, por achar o tamanho dos chifres uma influencia bastante variável, mas constante proporcionalmente entre a testa e a face.

2ª -- BOVINOS DE TESTA GRANDE (FRONTOSUS), segundo Nehring, zoólogo alemão resultante do cruzamento entre a variedade LONGIFRONS e o BOS TAURUS.

3ª -- BOVINOS SEM CHIFRES (AKERATOS). A hipótese mais provável é que o gado mocho tenha surgido com a natural tendência que tem o gado aspado em criar os chifres caídos sobre os lados da face.

No início da Era Cristã, viviam na Holanda as variedades citadas que deram origem aos animais hoje existentes, porém em um espaço curto de tempo, houve uma ocorrência nociva ao desenvolvimento natural dessa espécie, devido as grandes inundações onde as perdas foram quase totais até os habitantes dessas terras adotarem o hábito de construir suas residências em lugares mais elevados denominados TERPENS. Esses lugares eram elevações artificiais construídas com primitivos carros, cestos de vime e suas próprias mãos, sendo que alguns mediam 160.000 metros quadrados de extensão.

No princípio os TERPENS tinham a finalidade de armazenar e proteger o estêrco das inundações, por este ser ótimo combustível e durante as cheias abrigavam as famílias dos habitantes e seus animais como atestam escavações arqueológicas realizadas nestes sítios. Mais tarde para proteger as terras das inundações foram construídos diques e barragens que permitiam as águas retirarem-se na vazante e impediam seu retorno na maré alta. No começo do século XV entra em cena o uso de moinhos que através de alcatruzes retiravam a água do fundo dos canais de drenagem transferindo-a para um poço circular mais acima em torno do pölder de onde poderia voltar ao mar.

Voltando a falar a respeito da formação do gado europeu como citamos anteriormente, houve cruzamentos entre as variedades LONGIFRONS, AKERATOS e o BOS TAURUS, sendo evidenciado pelos diversos tipos de crânios encontrados e estudado pelos paleontólogos que vem provar o que foi dito sobre os cruzamentos havidos entre as três variedades mencionadas. O gado mocho (AKERATOS) desapareceu na grande inundação ocorrida em 800 A. C.. O BOS TAURUS desenvolveu-se no princípio da nossa era com mais facilidade, por ser aclimatado em terrenos alagadiços. Depois que as planícies foram drenadas pela ação dos pölders rudimentares, começa ainda a predominar o LONGIFRONS e depois da grande inundação, seu domínio torna-se absoluto. Através das escavações mencionadas anteriormente foram encontrados fósseis da variedade LONGIFRONS. Provavelmente, a maior população bovina habitava o norte da Frísia, o oeste de Saksers, o sul de Franken e toda a fronteira da Alemanha.

Nos gados germânicos, o LONGIFRONS também se tornou dominante. O gado desta variedade conforme aparece em pinturas antigas holandesas era muito pequeno. No século I de nossa era esses animais possuíam baixa estatura, medindo cerca de 1,10 metros na altura da cernelha, só evoluindo depois do cruzamento com o BOS TAURUS.

O costume de apascentar os rebanhos em locais permanentes e com fins lucrativos entre aqueles povos no quinto século D.C. só foi despertado quando lhes foi exigido por seus dominadores, povos romanos, o pagamento de tributos em forma de queijo. Os negócios de carne eram feitos sem nenhuma organização básica. Só no século XII com o surgimento dos primeiros mercados é que desponta o desenvolvimento áureo da criação de gado. O mais antigo mercado de carnes era o de Amsterdã fundado em 1220 e tão somente para o abastecimento da população onde os holandeses sofriam a concorrência dos animais vindos da Dinamarca. Em 1266 no reinado de Floris V surge o mercado de Harlem; em 1270, Shiedam, e em 1303, o de Leiden onde eram realizadas duas feiras anuais, sendo a primeira de gado magro, em abril e a segunda em novembro para gado gordo. Em 1311, foi construído o mercado de Hoorn e em 1365, o mercado de Gouda sendo este último o principal a incentivar o comércio de laticínios. Em 1494 fundou-se o mercado semanal de carnes em Enkhuisen. O mercado de Hoorn foi dominado em 1605 pela Dinamarca, tornando-se um dos mais importantes, pois só no ano da graça de 1624, foram leiloadas 11769 cabeças de gado. Os dinamarqueses dominaram ainda em 1740 o mercado de Enkhuisen e mais tarde o de Amsterdã com o comércio de carne pois os holandeses dedicavam-se então a industria de laticínios em notável desenvolvimento.

Exportações com finalidade de melhoramento de aptidões leiteiras aconteceram através de comercializações com outros países. A Inglaterra para melhoramento leiteiro do gado Shorthorn então em formação importou em 1640 vários reprodutores holandeses. Em 1655 foram exportados os primeiros reprodutores da raça batávica para a África do Sul para cruzamento com gado crioulo. A partir de 1700, começa então o momento áureo da criação de gado com vistas a indústria de laticínios. Fundam-se por toda a Holanda, mercados para a venda de derivados de leite. Mercados como Hoorn, Alkmaar, Pumerend e Edam vendiam mais de 20 milhões de libras de queijo ao ano. O comércio nesses mercados negociava com a Inglaterra, Dinamarca, Suécia, França, Espanha e Portugal. Da Dinamarca, Suécia e Alemanha importavam animais para consumo e cruzamento e para os restantes exportavam reprodutores com o fim de melhoramento leiteiro e de tipo dos gados naturais em formação nos seus países; respectivamente as raças Shorthorn, Normanda e Turina. Mais tarde deixa de importar, mas serve de passagem para os rebanhos que vem do norte da Europa para Espanha e Portugal.

Em princípio do século XVI, a Frísia era a província de maior e melhor qualidade de gado onde o comércio com a Europa era baseado no excelente estado de saúde dos animais e pelo tipo morfológico uniforme, exercendo notável influência como agentes melhoradores dos rebanhos por serem longevos rústicos e terem ótima constituição física. Eram promovidos concursos comparativos de seleção elegendo os melhores quanto à produção de leite. Essas características eram anotadas e nos concursos seguintes esses animais eram comparados quanto a desenvolvimento e aptidão leiteira.

Na história da Holanda, houve de tempos em tempos a regressão ou mesmo o estacionamento de sua criação de gado. Grandes epidemias causavam perdas irreparáveis e significativas aos criadores. Na região de Zuiderzee entre 1170 e 1222, na zona do canal de Ultrechse surgiu uma peste que matou muitos animais. Por volta de 1420, no distrito de Biebos, aniquilou completamente os rebanhos. Entre os anos de 1833 e 1849 a tuberculose fez em toda a Holanda 109.573 vítimas. Perdas aconteceram por vários anos até que os holandeses notaram que o gado cruzado para fins de consumo vindo de outros países, principalmente da Dinamarca, eram resistentes a doença e por essa descoberta passaram a importar reprodutores desse tipo específico para cruzamento com seu gado obtendo já na segunda geração, animais resistentes aos surtos epidêmicos. Com a importação de gado da Dinamarca descendente de seus antigos rebanhos a magnífica raça vermelha e branca quase desaparece, pois nas províncias de Gelderland, Overijsel, Ultrecht estavam definindo o cruzamento com o gado dinamarquês preto e branco que assim restituía ao gado batávico a velha rusticidade. A importação dos grandes touros oveiro negros da Dinamarca teve o propósito de cruzar com animais de pelagem vermelha e branca da Brabancia, por possuírem esses pouca estatura. Somente com o cruzamento de touros oveiro negros a partir de 1779 é que surge a pelagem atual logo selecionada pelos criadores que a ela atribuíram grande importância vindo mais tarde dominar a seleção. No ano de 1819 a raça não existe mais em seu estado de pureza devido ao cruzamento com gado estrangeiro vindo para a Holanda depois da grande peste ocorrida nos anos de 1713, 1744 e 1769 respectivamente.

A Frísia se vê obrigada a importar gado da Jutlãndia. Importado em grandes manadas durante os séculos XVI e XVII e XVIII, para as províncias da Frísia, Groninge, norte, sul e oeste da Holanda foi o primeiro produto de exportação da Dinamarca para o país batavo. Ainda no século XVIII importa da Alemanha para povoar o sul e leste. O gado Alemão era da variedade LONGIFRONS já o Jutlandes era diferente em aspecto físico e pelagem. De acordo com Buffon, o gado holandês depois que recebeu o sangue Jutlandes resultou em um touro grande e uma vaca pequena de pelagem vermelha enquanto o gado vindo da Dinamarca tinha boa estatura e pelagem preta e branca. Jean Le Francq Van Berkley aconselhando sobre o acasalamento de um touro e uma vaca observou: Devemos procurar animais mais próximos das pelagens que os holandeses exigem, sendo os de coloração vermelha os melhores, e mais adiante devemos comparar os animais com o grande touro pintado por Paulus Potter, que sempre produziu filhos com proporções anatômicas perfeitas dos representantes da raça holandesa.

A partir do século XVIII é que encontramos o gado com a pelagem preta e branca, então aparecem com mais freqüência variações com a cabeça branca e demais tipos de pelagens com as duas cores citadas, mas mesmo assim, a pelagem vermelha e suas variantes ainda dominavam. Também os velhos escudos das comunidades holandesas mostram e detalham tipos de animais e sua variação de pelagem. No brasão da cidade de Beemster encontramos uma vaca cevada de pelagem vermelha rosada, muito diferente em tipo do gado inferior representado nos brasões das cidades de Hoorn, Francken e outras. Entre alguns brasões ao lado de moinhos encontram-se animais bem desenvolvidos com bom porte e de coloração vermelha. Os arquivos dos açougues atestam a média do gado abatido com 1828 libras para um boi e 1366 libras para uma vaca de médio peso.

O gado holandês primitivo antes do cruzamento com animais germânicos vermelhos rosados sofreu influencia do LONGIFRONS. Até os nossos dias a pelagem vermelha predomina nas raças puras inglesas e muitas outras descendentes desta variedade. Ainda segundo antigas literaturas as características raciais do gado frísio desapareceram bruscamente entre os anos de 1713 e 1769 substituídos pelos caracteres marcantes do gado dinamarquês vindo da Jutlandia e originário do BOS TAURUS. As três variantes criadas até os nossos dias na Holanda, a saber: A oveira negra, oveira colorada do Mosa, Yssel e Reno e o gado de Groningue, preta com a cabeça branca, tem por tronco a mesma árvore genealógica, sofrendo influência das importações e propagação dos animais de outras regiões através de toda costa batávica. Houve tentativa infrutífera na introdução de touros Dhurham, mas em razão de ter diminuído a produção láctea essa prática foi abandonada. Em 1874 foi fundado o RUNDVEE-STAMBOEK NOORD-HOLAND e reorganizado em 1901 pelo Doutor Iman Van den Bosch que depois de visitar as fazendas de criação, fixou as formas exteriores pelas medidas múltiplas e também informações etnográficas,e suas relações com a natureza concluindo que a raça holandesa reunia-se em grupo de três variedades anteriormente citadas que o Herd-Book resolveu selecionar.

BIBLIOGRAFIA:
Paul Diffloth-Enciclopédie Agricole-Zootechnie - RACES BOVINES-edição,1909.
E. Thierry-LES VACHES LAITIÈRES-edição, 1905.
Revista da sociedade criadora e exportadora da frísia em Deersum-edição, 1910.
Nederland Rundvee Stamboek-N. R. S. - informações históricas-edição, 1905.
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Jonas Plínio do Nascimento Júnior

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Rafael Martins Garcia
RAFAEL MARTINS GARCIA

SÃO GOTARDO - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 25/06/2012

Muito importante os relatos históricos do surgimento das raças!
sergio edgar da fontoura gomes
SERGIO EDGAR DA FONTOURA GOMES

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL

EM 19/06/2012

Excelente artigo!
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