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O teor de proteína da dieta pré-parto é importante?

VÁRIOS AUTORES

RODRIGO DE ALMEIDA

EM 16/03/2020

8 MIN DE LEITURA

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Há muito tempo reconhece-se a importância da nutrição durante o período pré-parto de vacas leiteiras, que compreende de 21 a 30 dias antes da data prevista para o parto. Essa dieta deve ter o objetivo de atender as necessidades nutricionais dos animais e também garantir a saúde no pós-parto imediato (Drackley & Cardoso, 2014), impactando diretamente no sucesso da lactação. De forma geral as principais preocupações das dietas pré-parto, abordadas nas pesquisas e geralmente avaliadas por nutricionistas, se resumem aos teores de minerais e vitaminas, além da densidade energética da dieta nessa fase.

Entretanto, na realidade das fazendas brasileiras pouco se discute sobre o aporte de proteína metabolizável (PM) na dieta dessa fase importante do ciclo produtivo. Em parte, isto se deve ao fato de que os modelos nutricionais utilizados pelos nutricionistas não levam em consideração a exigência de PM para o crescimento do tecido mamário. Isso faz com que o suprimento desse nutriente seja atingido com relativa facilidade. Por exemplo, para que a recomendação de PM para multíparas (vacas) do modelo NRC para bovinos leiteiros (2001) seja alcançada, deve-se suprir 470g de PM para a mantença e outras 316g para a gestação (crescimento fetal e anexos fetais), ou seja, cerca de 790g de PM seriam suficientes. Dietas contendo em torno de 12 a 13% de proteína bruta (PB) já seriam suficientes para suprir essa demanda mínima.

Como citado acima, essa recomendação parecer ser insuficiente, pois não contabiliza a demanda proteica para o desenvolvimento da glândula mamária, que nessa fase está acelerado, objetivando a lactação que será iniciada em breve. Há, inclusive, relatos já antigos (Bell et al., 2000) recomendando um suprimento adicional de 120 a 130g de PM na dieta pré-parto, visando o adequado crescimento da glândula mamária. Outro ponto de preocupação é de que as dietas de pré-parto geralmente são formuladas pensando em multíparas, as quais possuem taxa de crescimento corporal reduzido ou mesmo nulo.

Se quisermos nos aprofundar um pouco mais nos possíveis problemas dessa fase, podemos citar a questão da ingestão de matéria seca (IMS) que geralmente é reduzida na fase final da gestação, podendo ser ainda mais limitado em nulíparas (novilhas) que naturalmente possuem um consumo menor. Ou seja, os animais podem não estar ingerindo quantidade suficiente de PM justamente em uma fase de relativa alta demanda para o desenvolvimento da glândula mamária.

Com isso surgem algumas dúvidas: será que o suprimento de PM está sendo adequado para um bom desenvolvimento da glândula mamária desses animais? Será que nulíparas (novilhas) no pré-parto se beneficiariam de uma dieta com maior suprimento de PM? Buscando responder essas questões, pesquisadores da Universidade da Flórida (Husnain & Santos, 2019) publicaram uma meta-análise avaliando os efeitos dos níveis de proteína na dieta pré-parto sobre o desempenho lactacional de vacas leiteiras.

De forma resumida, uma meta-análise reúne os resultados de diversos artigos científicos distintos em uma única análise estatística, aumentando assim o poder estatístico de trabalhos isolados. Essa é uma prática frequente e importante para a área de produção e saúde animal, pois de certa forma consegue “driblar” algumas diferenças entre trabalhos e resume de forma confiável as informações relevantes sobre determinado assunto.

Voltando ao artigo citado anteriormente, os autores reuniram dados de 27 trabalhos distintos publicados entre os anos de 1984 e 2017, totalizando 125 médias de tratamentos e 1.801 animais avaliados, sendo que 510 eram nulíparas. Como na base de dados utilizada havia dados de nulíparas e multíparas, as avaliações foram feitas separadamente para essas duas categorias. Na Tabela 1 podem ser visualizados alguns dos valores médios e suas respectivas variações obtidas dos artigos utilizados pelos autores para a realização da meta-análise.

Tabela 1 - Valores médios e variações obtidas nos artigos utilizados na meta-análise.

Podem-se dividir os resultados encontrados nessa meta-análise em duas avaliações distintas e em ambas os resultados são diferentes para nulíparas e multíparas:

1. Efeitos do teor de PB na dieta pré-parto sobre o desempenho no pré e no pós-parto.

2. Efeitos do suprimento de PM na dieta pré-parto sobre o desempenho no pré e pós-parto.

Efeito do teor de PB da dieta pré-parto sobre o desempenho pré e pós-parto

De forma geral as avaliações foram realizadas usando um incremento de PB de 12 para 15% na dieta pré-parto para ambas as categorias. Essa elevação da PB acarretou em um acréscimo (P=0,05) de 0,5 kg de IMS no pré-parto para nulíparas, enquanto que em multíparas esse aumento na PB tendeu (P=0,10) a apresentar um efeito contrário, ou seja, diminuir a IMS no pré-parto. O mesmo comportamento se repete quando observamos a IMS no pós-parto, já que o aumento do %PB na dieta pré-parto propiciou uma IMS 2,2 kg/dia maior (P=0,02) para nulíparas, porém sem efeito para multíparas. Entretanto, esse aumento de IMS não refletiu em ganhos produtivos (Tabela 2).

Tabela 2 - Médias seguidas de desvios-padrão para algumas das variáveis mensuradas no pré e no pós-parto em relação ao teor de PB na dieta pré-parto.

Efeito do aporte de PM da dieta pré-parto sobre o desempenho pré e pós-parto

Quando avaliado sob o aspecto de suprimento de PM no pré-parto, a IMS no mesmo período teve correlação positiva com essa variável. Contudo, isso já era esperado, pois quanto maior o consumo da dieta, maior a ingestão de proteína total. Para nulíparas as avaliações foram realizadas utilizando um intervalo de 800 a 1000g/d de PM, já para multíparas o intervalo utilizado foi de 900 a 1200g/d de PM. Isso ocorreu devido a grande diferença entre as dietas e a IMS entre essas categorias.

O aumento de PM na dieta pré-parto elevou o peso corporal em ambas as categorias ainda durante o pré-parto (Tabela 3), porém somente em nulíparas também houve aumento do escore de condição corporal (ECC), sendo esse mais expressivo (P=0,03) no pós-parto. Os autores ressaltaram que mesmo com o incremento em peso e escore corporal, não houve prejuízos ao período de transição e nem à saúde das vacas.

Em linhas gerais avaliando-se o desempenho no pós-parto, o incremento de PM no pré-parto afetou de maneira positiva somente as nulíparas, visto que as únicas diferenças significativas (P≤0,02) para multíparas foram encontradas em produção de proteína do leite (kg/d) e no ECC.

Como contraponto aos resultados das multíparas, para as nulíparas a elevação do suprimento de PM no pré-parto apresentou efeitos benéficos mais pronunciados, já que apresentou maior (P≤0,04) produção de leite corrigida para gordura, maior teor de proteína do leite, além de maiores produções de proteína e gordura do leite.

Tabela 3 - Médias seguidas de desvios-padrões para algumas das variáveis mensuradas no pré e no pós-parto em relação ao suprimento de PM na dieta pré-parto.

De forma resumida pode-se salientar que os animais mais beneficiados por um acréscimo no teor de PB e no suprimento de PM na dieta pré-parto são as nulíparas (novilhas). Isso vai de encontro a recomendação do NRC para gado leiteiro (2001) para o suprimento de PM na dieta do pré-parto, o qual deve ser maior para nulíparas. Os autores destacaram ainda que as 1000g/d de PM no pré-parto necessárias para as nulíparas são alcançadas com dietas variando de 14 a 15% de PB na MS.

Em nossa experiência, esses teores de proteína usualmente não são alcançados nas dietas pré-parto, particularmente nas dietas baseadas em silagem de milho. De fato, num recente levantamento do nosso Grupo do Leite da UFPR, Askel (2020) caracterizou o período de transição de 30 rebanhos leiteiros especializados do Paraná. Estes rebanhos monitorados eram predominantemente grandes (401 ± 273 vacas) e de alta produtividade (35,6 ± 4,7 kg/d). O teor de proteína bruta médio destes rebanhos ficou em 13,5 ± 2,8%. Se nestes rebanhos especializados o %PB está aquém do recomendável, isto talvez seja ainda mais preocupante em propriedades medianas ou pequenas, que utilizam com menor frequência os serviços de assistência técnica, apresentam menores níveis tecnológicos e outras dificuldades que impactam direta e indiretamente a nutrição dos animais.

Um senão que pode ter limitado os resultados encontrados no estudo é de que o suprimento de PM para nulíparas foi limitado a 1000g diárias, mas com comportamento positivo e linear de resposta. Será que esse é o limite de resposta desses animais? Ou há espaço para novos incrementos? Isso ainda permanece sem resposta. Além dessa limitação, há a questão de que não foi discutido o perfil de aminoácidos (AA) da PM fornecida aos animais. Como bem sabemos, o animal utiliza os AA para sintetizar suas próprias proteínas e não a PM em si, entretanto o perfil ideal de AA na PM é outra pergunta que permanece sem resposta e abre a possibilidade de mais estudos sobre o tema.

Como as multíparas não se beneficiam desses incrementos será que é interessante trabalhar com dois lotes e duas dietas no pré-parto? Sabemos que esta é uma pergunta de difícil resposta, já que os fatores envolvidos variam de propriedade para propriedade, com questões envolvendo estrutura física, mão de obra, otimização de tempo e equipamentos, etc. Novamente no trabalho de Askel (2020), em 30 rebanhos leiteiros especializados do Paraná, somente 1/3 dos rebanhos monitorados separavam vacas e novilhas no pré-parto, enquanto que nos 2/3 restantes, vacas e novilhas permaneciam juntas e tinham acesso à mesma dieta no pré-parto. Não há dúvida que em rebanhos menores, a praticidade de separar novilhas e vacas no pré-parto é ainda menor.

Enfim, no caso de fornecermos uma dieta única com maior teor de PB e maior aporte de PM no pré-parto (para vacas e novilhas no mesmo lote), visando suprir as necessidades proteicas de nulíparas, teríamos que aceitar um sobrefornecimento de proteína às multíparas. Cremos que este ainda seja um ponto de indagação importante dentro de nossos rebanhos.

Referências bibliográficas

Bell, A. W.; W. S. Burhans; T. R. Overton. 2000. Protein nutrition in late pregnancy, maternal protein reserves and lactation performance in dairy cows. Proc. Nutr. Soc. 59:119-126.

Drackley, J. K.; F. C. Cardoso. 2014. Prepartum and postpartum nutritional management to optimize fertility in high-yielding dairy cows in confined TMR systems. Animal 8(Suppl. 1):5-14.

Husnain, A.; Santos, J. E. P. 2019. Meta-analysis of the effects of prepartum dietary protein on performance of dairy cows. J. Dairy Sci. 102:9791-9813.

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ALFREDO CASTRO

EM 15/06/2020

Muito interessante. Qaual seriam esses niveis de PM para primaparas Jersey??
DEIVID RONI RIBEIRO

CURITIBA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/06/2020

Prezado Alfredo, obrigado pelo questionamento.
A princípio a lógica continua a mesma, ou seja, quando comparada a dietas de multíparas, é necessário uma maior PM para primíparas devido a maior demanda para o desenvolvimento mamário. Entretanto, não podemos afirmar qual é o valor ideal, visto que não encontramos referências que avaliem isso especificamente para jerseys.

Atenciosamente.
GUILHERME DA SILVA FURTADO BARBOSA

POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/03/2020

Parabéns, boa base de dados que nos faz refletir como podemos evoluir nas dietas pré-parto.
RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 26/03/2020

Obrigado Guilherme, abraços e se cuide!
ALEXANDRE TANIA

SANTA MARIA - RIO GRANDE DO SUL - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 16/03/2020

Muito bom artigo..... Parabéns
DEIVID RONI RIBEIRO

CURITIBA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/03/2020

Em meu nome e de meus colegas, obrigado Alexandre.

Abraço!

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