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Rusticidade e adaptabilidade de animais oriundos de cruzamento de raças leiteiras - Parte 2

POR NATHÃ CARVALHO

E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

NATHÃ CARVALHO E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

EM 11/05/2017

7 MIN DE LEITURA

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Na primeira parte da abordagem sobre rusticidade e adaptabilidade, explanamos os fatores que estão relacionados especialmente com o “estresse térmico” devido sua importância para a bovinocultura leiteira dos trópicos e subtrópicos. Nesta segunda parte, vamos retratar a prática de cruzamentos entre raças leiteiras na obtenção de animais mais adaptados e rústicos (resistência aos carrapatos, carga parasitária).

O cruzamento entre taurinos e zebuínos tem evidenciado vantagem para várias características econômicas nas condições de criação dos países localizados nas regiões tropicais (LEDIC e TETZNER, 2008). Puros ou emprestando rusticidade e genética própria para os cruzamentos com raças de origem europeia, os zebuínos vêm transformando a história da pecuária de leite no Brasil (LEMOS, 2006).

Ledic e Tetzner (2008) explicam que os cruzamentos entre raças taurinas especializadas com zebuínas, resultam animais denominados F1, que a despeito das limitações de ambiente, principalmente nos aspectos de adaptação aos trópicos, são capazes de maximizar o potencial econômico da pecuária. Para Lemos (2006) estes animais são os mais adequados para sistemas de produção a pasto, como os que predominam no Brasil, em virtude da fertilidade, precocidade sexual, longevidade, tolerância ao calor, resistência aos parasitas, que combinadas com suas produções de leite e maior adaptação, se refletem em menor custo de produção.

Figura 1 – Cruzamentos possibilitam a geração de animais capazes de produzirem altos níveis de leite e serem mais tolerantes às elevadas temperaturas, como é o caso do Guzersey (Guzerá Leiteiro x Jersey). Foto: Jadir Bison.

Cruzamentos possibilitam a geração de animais capazes de produzirem altos níveis de leite

A lucratividade e a sustentabilidade dos sistemas de produção nos modelos estudados no Brasil estão ligadas a utilização de animais de genética própria para os trópicos e a baixa utilização de insumos (LEDIC e TETZNER, 2008). Cruzar bovinos leiteiros mais adaptados às regiões mais quentes com aqueles caracterizados pela elevada aptidão leiteira, preconizam a geração de animais capazes de produzir altos níveis de leite e serem mais tolerantes às elevadas temperaturas (STUMPF, 2014).

Ledic e Tetzner (2008) exemplificam mediante a formação da raça Girolando, o objetivo de criar esse tipo de grupamento étnico capaz de produzir leite em sistemas de produção economicamente viáveis nas condições tropicais e subtropicais. Outros exemplos são o Guzolando (Guzerá Leiteiro x Holandês), o Girsey (Gir Leiteiro x Jersey), o Guzersey (Guzerá Leiteiro x Jersey), o Indolando (Indubrasil x Holandês) e o Sinjer (Sindi x Jersey).

De forma adicional, Daltro (2014) conjectura que uma das formas de se avaliar a capacidade fisiológica dos animais em tolerar melhor o calor se dará pela eficiência dos mesmos em dissipar este calor, o que varia entre as espécies, raças e indivíduos. Assim Stumpf (2014) postula que em um mesmo nível produtivo e sob condições climáticas semelhantes, vacas puras Holandesas apresentam menor tolerância ao calor do que vacas resultantes do cruzamento entre o Holandês e o Gir Leiteiro (Girolando).

Por ora, trabalhos conduzido por Stumph (2014) (Tabela 1), utilizando-se de 19 fêmeas Holandesas e 19 Girolandos (½ Holandês x Gir Leiteiro e ¾ Holandês x ¼ Gir Leiteiro) em Coronel Pacheco/MG, avaliando as consequências do estresse térmico por privação de sombra, porém com água a vontade, mediante a mensuração de alguns parâmetros relacionados com os mecanismos de dissipação de calor (frequência respiratória, frequência cardíaca, escore de ofegação e temperatura retal); demonstraram alterações fisiológicas mais pronunciadas no grupo constituído pelas fêmeas puras.

Tabela 1 - Alterações fisiológicas em vacas com diferentes porcentagens da participação do sangue Holandês em cruzamento com Gir Leiteiro (100% - Holandês puro; 75% - ¾ Holandês x ¼ Gir Leiteiro; 50% - ½ Holandês x Gir Leiteiro).

Alterações fisiológicas em vacas com diferentes porcentagens da participação do sangue Holandês em cruzamento com Gir Leiteiro

De maneira semelhante, em avaliação conduzida por Daltro (2014), também em Minas Gerais, se mensurou a sensibilidade ao estresse pelo calor em vacas Holandesas e Girolando, por meio da coleta dos parâmetros fisiológicos (temperatura retal, frequência respiratória e a frequência cardíaca); parâmetros ambientais [temperatura ambiental (ºC), umidade do ar (%)], além de imagens termográficas dos animais; evidenciando-se que a frequência respiratória mínimo foi de 24,00 mov/mín e máximo 140,00 mov/mín para vacas Girolando e mínimo 32 mov/mín e máximo 168 mov/mín para vacas Holandês. Assim, conforme sugerido pelo próprio autor, os animais F1 Holandês x Gir Leiteiro por apresentarem menor frequência respiratória e temperatura retal, puderam ser considerados mais tolerantes ao calor. Por fim, a pesquisa concluiu que os animais da raça Holandesa apresentaram menor tolerância ao calor em relação aos Girolando.

Resistência aos endo e ectoparasitas

Os bovinos, em condições tropicais e subtropicais, estão constantemente ameaçados por enfermidades e prejuízos causados por endo e ectoparasitos que têm, neste meio, as condições propícias ao seu ciclo evolutivo (TEODORO et al., 1994). Orsine et al. (2007) revelaram que o carrapato (Riphicephalus microplus) é um ectoparasito hematófago, que se apresenta em áreas tropicais e subtropicais, cujo principal hospedeiro é o bovino sendo vetor de agentes da tristeza parasitária bovina, tais como Babesia bigemina, Babesia bovis e Anaplasma marginale.

De acordo com Teodoro et al. (1994), são grandes os reflexos econômicos em razão da morte de animais, doenças e queda no desempenho, resultantes da infestação por carrapatos. Os autores ressaltam que estes, representam sério obstáculo à exploração de bovinos leiteiros, em razão de distintos fatores relacionados com sua condição parasitária. Madalena (2015) aborda que a resistência genética dos bovinos aos carrapatos pode ser convenientemente utilizada no combate a este parasita e na busca por animais mais rústicos.

Conforme Sutherst (1987) apud Teodoro et al. (1994), a resistência ao carrapato é a habilidade do hospedeiro de limitar a proporção de carrapatos sobre sua superfície corporal. O hospedeiro resistente influencia no tamanho das populações, reduzindo as prováveis perdas na produção de leite. O autor acrescenta que a raça é um dos determinantes dessa resistência e à medida que aumentam os genes de Zebu, maior é a resistência do animal. Corroborando com esta afirmação, Santos (2013), admite que pesquisas têm mostrado que os carrapatos afetam 4,7% dos zebuínos enquanto atingem 88,5% de animais europeus.

Madalena (2015) defende ainda que há importantes vantagens na exploração da variação genética dos bovinos na sua resistência aos carrapatos, tanto nos cruzamentos quanto na seleção de reprodutores. Pereira (2012), cita dados de Lemos et al. (1985) que comparou a carga parasitária de novilhas de cinco graus de sangue do cruzamento entre Holandês e Zebu com animais puros da raça Holandesa. Houve redução da resistência com o aumento do “grau de sangue” da raça Holandesa, sendo que a média de carrapatos foi crescente. Enquanto animais ¼ Holandês e ½ sangue Holandês/Zebu (figura 2) apresentaram 44 e 71 carrapatos em média, respectivamente, a média nos exemplares puros da raça Holandesa foi de 501, seguidos pelos indivíduos 7/8 Holandês com 282, ¾ Holandês com 223 e 5/8 com 151. O mesmo trabalho também observou maior média de bernes, encontrando 8,43 para animais puros e 4,34 e 4,18 para novilhas ½ sangue e ¼ de sangue Holandês, respectivamente.

Figura 2 - Em estudo, animais ¼ Zebu/Holandês e ½ sangue Zebu/Holandês (foto) apresentaram menor contagem de carrapatos.

Em estudo, animais ¼ Zebu/Holandês e ½ sangue Zebu/Holandês (foto) apresentaram menor contagem de carrapatos.

Ao mensurar a carga parasitária em animais nascidos de vacas meio sangue Holandês/Gir leiteiro cujos os pais pertenciam às raças Holandesa, Jersey e Pardo Suíço, Teodoro et al. (1994), não observaram diferenças estatisticamente significativas na carga de carrapatos entre animais.

Referências bibliográficas

DALTRO, D. S. Uso da termografia infravermelha para avaliar a tolerância ao calor em bovinos de leite submetidos ao estresse térmico. 2014. 65 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.

LEDIC, I. L.; TETZNER, T. A. D. Grandezas do Gir Leiteiro: O milagre zootécnico do século XX. Uberaba: 3 Pinti, 2008. 324 p.

LEMOS, J. O. Zebu para beber. Uberaba: Museu do Zebu, 2006. 176 p.

MADALENA, F. E. Resistência aos carrapatos no melhoramento de bovinos. 2015. Disponível em: . Acesso em: 13 nov. 2015.

ORSINE, G. F. Incidência de Boophilus microplus e avaliação dos parâmetros sangüíneos em bovinos mestiços (Holandês x Zebu) alimentados com girassol. Ciência Animal Brasileira, v. 8, n. 2, p. 177-184, abr./jun. 2007

PEREIRA, J. C. C. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal. 6. ed. Belo Horizonte: FEPMVZ Editora, 2012. 758p.

SANTOS, R. Zebu: A pecuária sustentável – Edição comemorativa dos 75 anos de Registro Genealógico e 80 anos da ABCZ. Uberaba: Agropecuária Tropical, 2013. 856 p.

STUMPF, M. T. Respostas biológicas de bovinos das raças Holandesa e Girolando sob estresse térmico. 2014. 66 f. Tese (Doutorado em Zootecnia)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.

TEODORO, R. L.; LEMOS, A. M.; MADALENA, F. E. Carga parasitária de Boophilus Microplus em vacas mestiças europeu x zebu. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 23, n. 2, p. 223-228. 1994.

NATHÃ CARVALHO

Zootecnista formado pelo Instituto Federal Farroupilha (campus Alegrete/RS) e discente do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (área de Melhoramento Genético Animal).

EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

Médico Veterinário e Doutor em Zootecnia pela UFSM. Docente do Instituto Federal Farroupilha (Alegrete/RS), onde é professor do curso de Zootecnia.Coordenador de produção e orientador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Ruminantes na mesma instituição

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