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Paralisação: tratando câncer com morfina

POR ROBERTA ZÜGE

NA MIRA

EM 28/05/2018

4 MIN DE LEITURA

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É difícil um cidadão brasileiro que não conheça alguém que tenha sucumbido ao câncer. Outros tantos conhecem casos de sucesso, onde o doente se recuperou da enfermidade. Quem acompanhou de perto um paciente que tenha vencido a doença, conhece as dores e mazelas que passam a maioria deles. Os tratamentos, de modo geral, trazem consequências que são percebidas por todos e, pior ainda, sentidas pelo paciente. Mas, para os que desejam a cura, este é o caminho a ser percorrido.

Em paralelo, as pesquisas demonstram que muitos conseguem, ao menos, minimizar a dor com a utilização de medicamentos. É clássica a premissa entre os profissionais da área, que de todos os sintomas de um enfermo com diagnóstico de câncer, a dor é o mais receado, mesmo quando comparado à expectativa da morte.

No entanto, nem precisa ser especialista para saber que, somente tratar a dor, não irá proporcionar a cura. A dor acomete de 60 a 80% dos pacientes com câncer, sendo 25 a 30% na ocasião do diagnóstico e, de 70 a 90% dos pacientes com doença avançada, classificam a dor como de moderada a grave. A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a dor associada ao câncer uma Emergência Médica Mundial e, em 1986, publicou um guia de tratamento que pode proporcionar alívio da dor em 90% dos pacientes.

A mesma OMS publicou uma escala de analgesia para tratamento da dor oncológica e orientou o uso de anti-inflamatórios não esteroides para dor leve no primeiro degrau, opioide fraco para dor moderada no segundo e opioide potente para dor intensa no terceiro degrau.

Caso um paciente queira somente não sentir a dor, poderá ter o alívio com o uso de opioides potentes. Utilizando apenas morfina, não terá as consequências do tratamento, os enjoos, as fraquezas, as quedas de cabelo, etc.  Mas, claro, o câncer irá corroer por dentro. Gradativamente irá tomando os órgãos e, dependendo da origem e malignidade, irá sucumbir em poucos meses ou após alguns anos.

Em um paralelo ortodóxico, a greve dos caminhoneiros  faz pensar num câncer não tratado. Temos uma frota imensa de caminhões “aviltada” pelos subsídios de  governos anteriores inundando a frota nos últimos anos. Várias empresas foram abertas e equipadas com muitos caminhões. O livre mercado é cruel, a lei da concorrência não se revoga facilmente. Quem precisa trabalhar, diminui sua margem e ganha a concorrência.

Mas, o problema é bem anterior a isso, arrisca-se até a dizer que o diagnóstico do câncer era precoce. Não há país sério que tenha sua logística baseada em rodovias. O transporte por caminhões, que chegam praticamente a qualquer lugar, deve ser utilizado para curtas distâncias: buscar o leite nas propriedades, levar ração aos animais, transportar produtos nas cidades, etc. Grandes nações utilizam meios mais baratos, menos impactantes – seja do ponto de vista ambiental ou sócia –, e com menos perdas. Utilizam ferrovias, transportes fluviais, transporte tubular (para gases e fluidos), entre outros.

Uma hora o sistema iria sucumbir. Hoje o Brasil está como aquele paciente que não quis sofrer os impactos do tratamento com câncer; preferiu a morfina.

Todos os governos, inclusive o regime militar, deixaram de investir em ferrovias e hidrovias (e Brasil tem um imenso potencial, pois a natureza presenteou o país com grandes rios navegáveis). Houve a preferência pelas grandes montadoras, assim os empregos eram gerados nas cidades e a população criava uma ilusão de desenvolvimento. Por meio de concessões equivocadas criaram-se muitas empresas de pedágios, com contratos muitas vezes duvidosos, e com altos custos para os veículos de cargas.

Somente diminuir os custos do combustível ou desonerar as folhas de pagamento das transportadoras é o mesmo que aplicar mais uma dose de morfina. A doença irá continuar corroendo o país e logo a dose terá que ser mais alta. E depois a concentração do opioide não será mais suficiente.

O transporte rodoviário exige o uso de combustível fóssil e é desnecessário explicar algo finito. Continuar investindo em uma matriz suja, que irá acabar, é debilitar ainda mais o já frágil sistema de transporte, ao mesmo em que é empurrar o problema para as futuras gerações.

O momento de apreensão e desordem pública é até compreensível, o brasileiro não aceita mais a carga tributária, que não é revertida em serviços, mas transformadas em benesses e regalias para o governo. Óbvio que isto deve cessar. O carcinoma está corroendo o paciente, mas tratá-lo somente com opioides não irá resolver o problema.

A luta do povo não deve ser apenas pela desoneração de impostos, mas pelas mudanças de políticas, melhorias na logística de cargas e nos transportes de modo inteligente. Uma premissa básica na linha da solução é incentivar a utilização de combustíveis renováveis, ferrovias, hidrovias e outros modais menos onerosos.

Os representantes do povo devem espelhar seus eleitores. Estes também devem cumprir os preceitos legais que regem uma nação desenvolvida. A mudança deve começar pela educação e pelo comportamento da sociedade. Enquanto isto não for alterado, teremos os mesmos legisladores que só buscam o seu bem-estar. “E, não, não há um salvador que irá magicamente após a próxima eleição resolver todos esses problemas, menos ainda sem cortar benefícios". 

E antes que o câncer consiga vencer esta nação, deixem o agronegócio gerar a riqueza que move o país. Impedir os produtores de escoar suas cargas ou matar de fome os animais irá trazer graves consequências. Os caminhoneiros desligaram seus motores, entretanto as vacas não podem ser desligadas. O tratamento efetivo gera dores e sintomas, mas eles não podem ser apenas num setor. Especialmente naquele que tem salvado o país.  Precisamos de racionalidade neste momento.

ROBERTA ZÜGE

Membro do CCAS.
Consultora técnica em fazendas e industrias de alimentos com foco no atendimento a requisitos legais e normas de qualidade. Coordenou o projeto da norma Brasileira de Certificação de Leite (MAPA/Inmetro).
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TEODORO TELES MARTINS

VARGINHA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/06/2018

Excelente texto!
NEI ANTONIO KUKLA

UNIÃO DA VITÓRIA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/06/2018

Parabéns pelo texto, com destaque ao último parágrafo.
Vamos abolir a morfina!
OSMAR REDIN

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/06/2018

Concordo plenamente com o texto. Foi colocado com muita propriedade. Parabéns.
Esperamos que as estratégias do complexo modal do transporte neste país seja revisto. Se continuar como está logo ali vamos estar parados novamente, pedindo mais descontos.
ELDO LAURO BERGER

PONTA GROSSA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/06/2018

Concordo plenamente com a Roberta.
O problema realmente vem de longa data e é agravado pelos conchavos dos partidos políticos. Enquanto não houver uma reforma para implantar o voto distrital, a situação não parece ter início de solução. A população econômicamente menos favorecida e, menos favorecida culturalmente - falta de educação - continua sendo massa de manobra da concentração de capital e renda que fica bem mais distante das crises.
CARLA SILVA

EM 29/05/2018

Excelente texto!!! Perfeito!!
Já me desculpando pela má palavra,devo dizer que essa greve,da forma q foi feita,foi a decisão mais "burra" q se poderia tomar! Um verdadeiro "tiro no pé".....
ALESSANDRO CAMPOS

BARBACENA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 29/05/2018

Parabéns pela materia nossos governantes fingem não ver os caminhos corretos para nosso pais.
ARIEL FERAREZE

VARGEÃO - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/05/2018

Parabèns pela matèria.
JOSIANO GOMES CHAVES

CARLOS CHAGAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/05/2018

Estão quase todos buscando soluções simplistas para um problem acomplexo. Parabéns pelo seu artigo!
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 28/05/2018

Parabéns Roberta. Para a população dos grandes centros, os transtornos existem, mas são ínfimos se comparados a produtores de perecíveis, que estão pagando uma conta que não é deles. As lideranças precisam ir à mídia, precisam mostrar a realidade, precisam buscar ajuda/aliança nos defensores dos animais, cuja causa, nessa questão está alinhada à do setor produtivo. Só assim o o público das grandes cidades se sensibilizará com a causa dos produtores.
MANOEL MAURILO TORRES TORRES

EM 28/05/2018

Dra. Adorei seu artigo, concordo cem por cento.
NELSON JESUS SABOIA RIBAS

GUARACI - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/05/2018

Impressionante! Todo mundo sabe disso a décadas, e ninguém tem coragem de fazer as mudanças. O eleitor é culpado, mas como é despreparado não consegue diferenciar o joio do trigo, e assim nossa doença continua.
DANIEL DAVILA

LAJEADO - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/05/2018

Parabéns ROBERTA ZÜGE. Texto lúcido, que escancara a raiz do problema e que deixa claro que os "placebos e opioides" não serão suficientes para retomarmos o rumo deste país.
ADELAIDE CASSEL

EM 28/05/2018

Muito triste os animais morerem de fome pelos eros dos humanos...

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