A Tetrapak divulgou seu Dairy Index o qual prevê um aumento na demanda de produtos lácteos (leite, manteiga e queijo) de 36% para 2024. Os impulsionadores dessa demanda serão os países da Ásia, África e América Latina. Na América do Norte e Europa o consumo é decrescente. Até aí sem muitas novidades!
Como também não é novidade a previsão de que o aumento da produção nos países em desenvolvimento deve considerar “
os desafios relacionados com o ambiente, os recursos naturais e a disponibilidade de conhecimentos.” Acredito que esse não seja o entendimento do estudo, mas irei considerar a disponibilidade de conhecimentos como a disponibilidade de profissionais agropecuários e produtores em praticar os manejos residual e ambiental das propriedades.
Apesar dos desafios colocados, a pergunta que faço é: a produção leiteira brasileira está pronta para enfrentá-los?
A fim de facilitar essa resposta, tente responder a questões mais simples: Quais são e como estão distribuídas as tecnologias disponíveis para o manejo dos efluentes e estercos dos animais? Qual o manejo de carcaças que predomina? No uso dos efluentes e estercos como fertilizante são consideradas as cargas orgânicas? As águas nos sistemas de produção são manejadas de forma eficiente e qual a eficiência hídrica? Insumos como nitrogênio, fósforo e energia são manejados de forma eficiente e qual a eficiência? Nossos profissionais e produtores estão capacitados para fazer os manejos de resíduo e ambiental? Fazemos os manejos de resíduo e ambiental com eficácia (fazer o que é preciso) e eficiência (fazer bem feito)?
Se a maioria das respostas às perguntas for NÃO, podemos dizer que NÃO estamos prontos para os desafios colocados pelo estudo. Certamente, estamos prontos para o desafio do aumento de nossa produção, mas sabemos que hoje isso não é o bastante. A sociedade tem outros interesses além do acesso a alimentos em quantidade e qualidade. Produção com qualidade ambiental é um deles.
Alguns argumentarão que a sociedade quer qualidade ambiental, mas não está disposta a pagar por ela. Cabe a nós mostrar o quanto isso custa. Mais um desafio! Ainda não sabemos o custo ambiental de nossa produção.
Independente dos interesses da sociedade, se todos concordam que o Brasil possui ativos ambientais como solo e água em quantidade e com qualidade, e se esses ativos são fatores competitivos que nos diferenciam dos outros países e por isso podemos aumentar nossa produção, temos que ter respostas às questões colocadas. Ativos ambientais são finitos em quantidade e qualidade, isso impõe limites à produção e, se os limites são ultrapassados, a produção não se sustenta.
Temos uma década para chegar a 2024. A questão não é se chegaremos lá produzindo mais, chegaremos! A questão é como queremos chegar? Produzindo mais, mas com exaustão dos ativos ambientais ou produzindo mais e sendo referência em qualidade ambiental?
Por onde começar? Tenho uma sugestão: discutindo manejo de pastagens, nutricional, sanitário, de bem-estar, mas também de resíduos e manejo ambiental. Enquanto não internalizarmos essa discussão em nosso cotidiano, pouco vamos avançar e fazer.
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