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"Passinho à frente, por favor"

JULIO CESAR PASCALE PALHARES

EM 08/03/2013

4 MIN DE LEITURA

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Há uma afirmação que diz, “só medimos o que damos valor e só damos valor ao que medimos.” Refletindo sobre a frase e a informação ambiental que dispomos de nossos sistemas de produção de leite, fica a questão: estamos dando o devido valor ao manejo ambiental de nossas produções?

Responder a essa pergunta é fundamental quando se fala em Brasil, quinto maior produtor de leite do mundo e com potencial para assumir a quarta posição, e quando se fala em expansão da produção leiteira, aumento da produtividade, capacidade de exportação de lácteos, etc. Certamente, devemos buscar o aumento da produção e da produtividade, além de conquistar novos consumidores e mercados. Mas, considerando os atuais e futuros valores das sociedades, só isso basta? A maioria responderia, não! Isso deve ser feito com sustentabilidade.

Vou me ater somente à dimensão ambiental dessa tão almejada sustentabilidade para colocar algumas reflexões. Aqui vale uma ressalva. Devemos entender que não existe uma sustentabilidade ambiental, assim como não existe uma econômica e outra social, ela é uma só. Não podemos dizer que temos uma unidade produtiva sustentável simplesmente por ela possuir licença ambiental e sistema de tratamento de efluentes, mas que ao mesmo tempo faz uso incorreto do solo e dos insumos, além da ausência de saneamento doméstico, passivos trabalhistas, problemas econômicos e um entorno não sustentável. Sustentabilidade é multifatorial. Por mais que o termo esteja consagrado, a maioria das pessoas não conhece seu conceito e suas premissas necessárias. Esse seria um passo à frente, o entendimento do que isso significa e do que devemos ter para sermos sustentáveis.

Acredito que no “país com futuro”, e não no “país do futuro”, não bastará ser somente um grande produtor de leite, será preciso ter algo diferente para ofertar. Muitos ressaltam nossas riquezas naturais como fatores de competitividade frente aos concorrentes. Portanto, temos uma diferença, mas limitada em quantidade e qualidade e que, se não for manejada da forma correta, nos fará ser iguais aos outros produtores de proteína animal com limitações ambientais. Em um cenário competitivo, a diferenciação é um trunfo de que não se deve abrir mão. Ter recursos naturais é um deles. O passo à frente é internalizar o manejo desses recursos no cotidiano produtivo, algo ainda muito distante de nossa realidade. Entenda que internalizar manejo ambiental não é cumprir a lei, entretanto, se a internalização ocorrer o cumprimento da lei será mais fácil, pois se dará com menos esforço e a um menor custo.

Na atualidade, o que nos diferencia ambientalmente dos outros países produtores de leite? Difícil responder se não conhecemos a realidade ambiental de nossa produção. Qual é o consumo médio de água de uma vaca em lactação e de uma vaca seca, considerando os diferentes biomas, sistemas de produção e programas alimentares? O que está sendo feito com a água de lavagem da ordenha, qual a quantidade utilizada e qual a sua constituição? Quantas unidades produtivas no país possuem sistemas de armazenamento e de tratamento de resíduos? O que está sendo feito com as carcaças dos animais mortos? Quantas propriedades possuem licença ambiental? Quantas propriedades, agroindústrias e cooperativas possuem pessoal capacitado para o manejo ambiental da produção? Qual a pegada hídrica e de carbono de nossos sistemas? Acredito que não temos as respostas a todas essas perguntas. Podemos responder de forma pontual a algumas delas, mas isso não será suficiente para nos diferenciar ambientalmente. O passo à frente é ter essas respostas, organizar a informação, transformá-la em conhecimento e fazer com que este retorne à cadeia produtiva na forma de ações, programas e políticas.

No Brasil temos o péssimo hábito de gerar informação, que demanda tempo e tem alto custo, mas não de transformá-la em conhecimento. Estamos sempre gerando novas informações, pois as anteriores estão sempre desatualizadas ou não foram geradas com bases confiáveis, entretanto nem sempre fazemos o adequado uso delas.

A geração de informação é responsabilidade de todos os atores produtivos e não somente do produtor. Enquanto a transformação desta em conhecimento é de responsabilidade das instituições técnicas e científicas, a tomada de decisão e a mudança dos padrões culturais são também responsabilidade de todos e envolvem decisões políticas. Se tivéssemos um bom histórico de informações ambientais poderíamos aprender com os erros e corrigi-los, mudando modelos e propondo novas soluções.
Não há manejo ambiental sem informação, não há sustentabilidade sem informação, não há diferenciação comercial sem informação. Se não houver um pacto para que todos os atores da cadeia produtiva sejam parceiros na geração destas informações, pouca evolução ocorrerá e continuaremos a ser iguais, apesar de nosso potencial ambiental. O passo à frente é ter uma rede viva e dinâmica capaz de se organizar com um objetivo comum: dar valor ambiental à atividade leiteira brasileira.

Por mais que seja lugar-comum, vale a afirmação: precisamos mudar! Caso isso não ocorra, corremos o risco de ver a história se repetir. Produziremos muito, mas com passivos ambientais significativos e seremos atacados pela sociedade pelo que fazemos. Por isso, o passo à frente é não ter como fim os mercados. Estes são dinâmicos, móveis e voláteis. Sempre estarão disponíveis. Devemos ter como fim nossa diferença, os recursos naturais. Estes são finitos, em quantidade e qualidade, estão disponíveis somente em locais específicos e sua forma de uso determinará sua perenidade. É utopia essa mudança de paradigma? Muitas utopias produtivas se tornaram realidade e hoje são fatos.

Respondendo à pergunta do início do texto. Estamos dando o devido valor ao manejo ambiental de nossas produções? Responderia que não! Podemos mudar, sim. Basta dar o passo à frente.
 

JULIO CESAR PASCALE PALHARES

Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste

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JULIO CESAR PASCALE PALHARES

SÃO CARLOS - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 21/03/2013

Marcello,



Agradeço o comentário e fico feliz em saber que entenda a questão da mesma forma, que precisamo dar o passo a frente.

Como escrevo, esse passo, não depende interiramente do produtor, deve haver um cenário amigável para que ele faça isso, mas sem dúvida, no dia a dia da produção o manejo ambiental está nas mãos dele, então é elo fundamental na cadeia.

Também é fundamental a assitência ambiental a esse produtor, sem isso, não iremos muito longe.

Julio
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/03/2013

Prezado Júlio Palhares



Parabens pelo artigo.



Realmente o produtor de leite está alheio às questões ambientais relacionadas à produção, e o III Workshop Leite São Paulo, para o qual você deu colaboração com uma palestra, onde  trouxe importantes informações sobre o uso da água e do tratamento de carcaças nas propriedades leiteiras, evidenciou isso.



Essa situação pode mudar? Como  você diz, pode desde que o produtor se disponha a dar um passo para frente.



Eu alerto que o produtor que não der no curto prazo esse passo para frente poderá no futuro ser atropelado pelas questões ambientais que ignorou no presente.



Grande abraço



Marcello de Moura Campos Filho

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