A pegada hídrica azul é definida como a água consumida de fontes superficiais e subterrâneas. Num sistema de produção de leite esse tipo de água é utilizada para irrigação das culturas, dessedentação dos animais e serviços (limpeza, climatização, etc.).
No estudo foram avaliados, no período de um ciclo produtivo (12 meses), os Sistemas de Produção Convencional e Orgânica de Leite a Pasto, com manejo alimentar baseado em sistemas rotacionados de pastejo de gramíneas. No período seco foi realizada a suplementação de volumoso com silagem de milho na propriedade convencional e com silagem de cana-de-açúcar na orgânica. Ambos os sistemas utilizavam irrigação para aumento da oferta de alimentos na seca. Na Tabela 1 são apresentados os valores de pegada azul.
Tabela 1. Valores da Pegada Hídrica Azul nos sistemas Convencional e Orgânico
* Volume de Leite corrigido: expressa a quantidade de energia no leite produzido e ajustado para 3,5% de gordura e 3,2% de proteína
Tanto no convencional, como no orgânico, o consumo de água para irrigação representou a maior percentagem de água azul. Os resultados são importantes para mostrar o impacto que essa técnica tem na demanda hídrica de um sistema de produção de leite, principalmente, em regiões e bacias hidrográficas onde já existem conflitos pelo uso da água. Nesta situação, a irrigação deve ser planejada e manejada buscando a máxima eficiência de uso do recurso natural. Se não houvesse irrigação nos sistemas, a pegada azul para o sistema convencional seria de 3 litros/kg de volume de leite corrigido e de 4 litros/kg de volume de leite corrigido para o sistema orgânico.
A manutenção da produção de leite por ano nos dois sistemas poderia ser alcançada sem irrigação, mas utilizando-se elevadas quantidades de concentrado na dieta. Esta seria uma estratégia recomendada para regiões e bacias hidrográficas com escassez de água, ainda que o custo de produção de leite seja superior.
Outra estratégia seria reutilizar o efluente da sala de ordenha para fertirrigação. Com isso, além de reduzir os valores de pegada azul, também haveria impactos positivos sobre a eficiência de utilização de nutrientes presentes nas águas de lavagem da ordenha.
Pode-se argumentar que não é necessário reduzir a pegada azul em bacias hidrográficas onde não ocorrem conflitos pelo uso e escassez de água. No entanto, a utilização mais eficiente desse recurso, mesmo em regiões de abundância, resultará em uma produção com a mesma quantidade de água, reduzindo a pegada azul e proporcionando a possibilidade de alocação de água para a produção de outros bens e serviços.
Também foi calculado o indicador de escassez de água azul em ambas as propriedades. No sistema convencional o valor foi de 0,11 e, no orgânico, de 0,13. Os resultados mostram que o sistema convencional consumiu 11% da água azul disponível no ano de referência e, o orgânico, 13%. Isso ocorreu devido às menores disponibilidades de águas superficiais e subterrâneas na propriedade orgânica. Para calcularmos essas disponibilidades consideramos os volumes de água outorgados e a vazão ecológica dos rios que atravessam as propriedades.
A transição para o estresse hídrico ocorre com valores de 0,2 e de estresse para escassez com 0,4. Apesar dos indicadores de escassez de água azul serem confortáveis, melhorias na eficiência de uso da água azul podem permitir a distribuição de água para outros usos e consumidores, além de contribuir para a redução dos conflitos sociais.
O cálculo da pegada hídrica azul e sua relação com a disponibilidade de água na região de produção auxiliam na tomada de decisão, pois fornecem informações para se avaliar o risco de escassez hídrica da atividade.