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A história do protocolo Ovsynch:Como uma pergunta mudou o manejo reprodutivo?

POR RICARDA MARIA DOS SANTOS

JOSÉ LUIZ M.VASCONCELOS E RICARDA MARIA DOS SANTOS

EM 30/06/2023

6 MIN DE LEITURA

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Você consegue se lembrar da época em que a monta natural era o protocolo de reprodução mais comum, a detecção de cio era a tarefa mais importante e a prostaglandina era o único hormônio usado no manejo reprodutivo? Os dias anteriores à introdução do protocolo Ovsynch na pecuária leiteria parecem uma memória distante.

Como exatamente esse protocolo comumente usado na pecuária leiteira surgiu? Como acontece com a maioria das inovações, começou com uma pergunta. Na verdade, começou com algumas.

Richard Pursley e Milo Wiltbank estavam estudando como ocorria o reconhecimento materno da gestação na vaca, na Universidade de Wisconsin - Madison em 1993. Wiltbank era um membro novo do corpo docente da universidade e Pursley um estudante de pós-graduação que retornava aos estudos depois de trabalhar na sua própria fazenda leiteria.

A dupla estava tentando entender o reconhecimento materno da gestação – por que o corpo lúteo não regride quando a vaca esta gestante? Pursley estava tranferindo embriões e estudando essa questão quando ele e Wiltbank começaram a conversar sobre alguns dados que haviam visto, nos quais os folículos ovulavam em diferentes estágios do ciclo estral após uma dose do hormonio liberador das gonadotrofins (GnRH).

Depois de muitas conversas e “brainstorms”, Wiltbank fez a pergunta: E se você pudesse usar o GnRH para sincronizar a inseminação?

Buscando essa resposta, a dupla usou 10 vacas holandesas do rebanho da Universidade de Madson para começar a testar. Eles começaram administrando uma injeção de GnRH (Dia 0) e no Dia 7, uma injeção de prostaglandina F2 alfa (PGF2α). No dia 9 foi dada outra injeção de GnRH e a inseminação feita no dia seguinte. Todos os dias, os ovários de cada animal era escaneado por ultrassom, medindo os folículos e corpos lúteos presentes.

“Nós realmente não sabíamos qual era o momento ideal para nada disso”, lembra Pursley. “Basicamente, nosso pensamento era: quanto tempo precisamos esperar da injeção de GnRH à prostaglandina para regredir o novo corpo lúteo (CL)? Quanto tempo devemos esperar da dose de prostaglandina até a dose final de GnRH para que possamos controlar o tempo do pico de LH?” Das 10 vacas originais, sete ficaram gestantes.

“Obviamente, estávamos muito empolgados com isso porque não havia nada na indústria que pudesse fazer setenta porcento de vacas gestantes”, diz Pursley. “Mas decidimos que deveríamos tentar isso com outras 10 vacas.

Pursley se lembra que e apenas três vacas das 10 seguintes tratadas ficaram gestantes, considerando isso uma lição de estatística. Ele e Wiltbank decidiram que precisavam de mais tempo para provar que esse protocolo melhorava a fertilidade. A dupla publicou o estudo original sobre as primeiras 20 vacas, que se tornou um dos artigos mais citados  da área de reprodução - ocupando o 7º lugar na lista de "100 artigos para ler antes de morrer" da Oxford Academic.

A dupla começou a estudar essa ideia e começou a realizar experimentos “reais” – comparando a sincronização da ovulação com o estro regular, determinando o momento ideal da IA em relação à injeção final de GnRH do protocolo, entre outros detalhes do tratamento.

Como Pursley e Wiltbank dedicaram mais tempo à “sincronização da ovulação”, os dois concordaram que o nome era um pouco longo. “Lembro-me de sentar em frente ao que possivelmente era a primeira versão de um Mac em meu escritório e dizer a Milo Wilbank um dia: 'Precisamos encontrar um nome mais simples para isso'”, lembra Pursley. “Eu disse: 'E o Ovsynch?' Milo apenas riu e nós dois sabíamos que era isso.”

Antes da introdução do Ovsynch, muitos produtores inseminavam as vacas o mais cedo possível no pós-parto, com medo das vacas não terem chances de emprenhar antes do final da lactação, o que poderia resultar em descarte. Com o Ovsynch, os produtores agora têm a oportunidade de selecionar o momento ideal para a inseminação e planejar, obtendo maiores taxas de prenhez.

“A vantagem é que você pode realmente aumentar as taxas de prenhez ”, diz Pursley. “As pessoas realmente gostaram disso porque estão conseguindo muito mais vacas gestante e mais cedo”.

A próxima pergunta feita foi: Como o Ovsynch pode melhorar as taxas de concepção?

Inicialmente, as vacas submetidas ao protocolo Ovsynch não tinham taxas de concepção mais altas do que as vacas inseminadas após estro natural. À medida que a indústria começou a usar esse programa, outros pesquisadores começaram a fazer experimentos para melhorar as taxas de concepção.

“Acho que a primeira vez que alguém fez isso, eles deram duas injeções de prostaglandina com 14 dias de intervalo”, diz Pursley. “O período da segunda injeção de prostaglandina até a primeira injeção do Ovsynch foi testado: 11 dias, 12 dias, 14 dias. Ao usar esse período de 11 ou 12 dias, começamos a ver uma melhor fertilidade”.

Motivo: o protocolo Ovsynch estava sendo iniciado em um momento melhor do ciclo estral. À medida que os pesquisadores começaram a entender as ondas de crescimento folicular, eles foram capazes de ajustar o protocolo Ovsynch. Descobrir como sincronizar o inicio do crescimento do folículo foi um avanço.

Em comparação com o programa original, hoje quase todas as vacas estão sendo sincronizandas de forma que o desenvolvimento do folículo e o desenvolvimento do CL sejam quase totalmente controlados”, diz Pursley. “Os dados do Milo Wiltbank indicavam que estávamos tendo problemas para regredir o CL; um de seus alunos com quem estávamos trabalhando adicionou uma segunda injeção de prostaglandina 24 horas depois da primeira nos programas Ovsynch e Double Ovsynch e isso melhorou a fertilidade em cerca de cinco pontos percentuais.

Antes que o protocolo Ovsynch fosse oficialmente publicado, artigos foram escritos sobre a prática e o novo método começou a se espalhar.

“Recebemos muitos telefonemas”, diz Pursley. “Os bons e os ruins – principalmente bons. As pessoas nos ligavam depois de experimentar o Ovsynch por alguns meses e diziam: 'Isso está realmente funcionando!' Recebemos muitos comentários positivos desde o início."

"Os telefonemas ruins eram principalmente em relação ao preço do GnRH e da prostaglandina – havíamos citado um preço naquele artigo que estava um pouco abaixo do preço real dos medicamentos. Ambas as drogas eram caras naquela época em comparação com hoje. A ligação de que provavelmente me lembro mais foi do Dr. Bill Thatcher, da Universidade da Flórida”, lembra Pursley.

E complementa, “ele ligou para Milo Wiltbank e disse que estava usando Ovsynch. Ele disse algo sobre como raramente você pode repetir o trabalho de outra pessoa e obter o mesmo resultado; isso realmente nos deu muita satisfação que uma pessoa de sua competência nos ligasse e nos informasse que este protocolo saiu exatamente como dissemos quando o publicamos.”

Hoje Ovsynch é uma prática padrão usada na pecuária leiteria de boa parte do mundo, a pecuaria do corte interessou por essa prática e tem sido usada também em búfalos e iaques. Existem sete variações diferentes do protocolo Ovsynch original: Presynch, Double Ovsynch, G-6-G, Ovsynch 56, Ovsynch 48, Cosynch 72, 5-day Cosynch.

“É divertido olhar para trás de um ponto de vista histórico e colocá-lo em perspectiva agora”, diz Pursley. “O que isso significa agora e o que pode significar no futuro.”

Um fato bastante interessante é que o protocolo Ovsynch foi apresentado pela primeira vez no Brasil pelo Dr. Richard Pursley e Dr. Milo Wiltbank que foram os pesquisadores que o desenvolveram o protocolo e isso ocorreu em 1995 no primeiro Curso “Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos” organizado pelo Prof. Jose Luiz Moraes Vasconcelos, o Zequinha, que tinha acabado de voltar ao Brasil depois de um estágio com Dr. Milo Wiltbank, na Universidade de Wiscosin.

 

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Referências

Este texto é parte do pubicado na Progressive Dairy, pela Matti McBride.

RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

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RODRIGO LUIS SECHI

IJUÍ - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/07/2023

Bem interessante o texto, parabens.
RICARDA MARIA DOS SANTOS

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 14/07/2023

Prezado Rodrigo,
Obrigada pela participação!!!
O desenvolvimento dos protocolos de IATF fizeram uma revolução no manejo reprodutivo de fazendas leiteiras e de corte aqui no Brasil!!!

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