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O que podemos fazer hoje mesmo para ter sucesso no tratamento da endometrite clínica?

GRUPO APOIAR

EM 09/01/2019

9 MIN DE LEITURA

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Autores:

Alvaro Moriya Shiota - Grupo Apoiar.

João Paulo Elsen Saut – Prof. Phd responsável pelo grupo de pesquisa e Laboratório de Saúde em Grandes Animais, Universidade Federal de Uberlândia (LASGRAN-UFU).

Layane Queiroz Magalhaes – Doutoranda e membro do grupo de pesquisa e Laboratório de Saúde em Grandes Animais, Universidade Federal de Uberlândia (LASGRAN-UFU).

As doenças uterinas são um grande desafio no pós-parto de vacas leiteiras, acometendo cerca de 20 a 30% dos animais (GALVÃO, 2012). Apesar de ser tão comum, ainda a definição destas doenças é equivocada por grande parte de médicos veterinários e produtores de leite, influenciando significativamente na performance reprodutiva.

Abaixo discutiremos pontos cruciais para que se tenha o sucesso esperado no tratamento das endometrites clínicas. Neste texto, mostraremos que os medicamentos, indicados no tratamento desta infecção, não são os únicos responsáveis pelo sucesso de cura, por incrível que pareça!

Nosso objetivo será de mostrar que muitas propriedades leiteiras estão errando no acompanhamento destas vacas no pós-parto, não fazendo um diagnóstico adequado de endometrite clínica e, desta forma, tendo maior ocorrência, com casos mais graves e que respondem menos ao tratamento proposto, interferindo diretamente no atraso à vida reprodutiva ou até mesmo tornando esta vaca infértil.

Qual a definição de endometrite clínica?

O primeiro ponto é conhecer a doença que pretendemos controlar, para que se possa propor um tratamento eficiente e medidas de prevenção. Hoje em dia, a melhor definição de endometrite clínica está relacionada ao período em que ela ocorre no pós-parto de vacas leiteiras, sendo entre 21 e 34 DPP (dias pós parto) (SHELDON et al., 2006). Esta proposta de definir por dias pós-parto tem como objetivo facilitar o manejo dentro da propriedade, isto é, definir o melhor momento de diagnóstico e tratamento.

Um dos erros mais comuns observados no pós-parto é a confusão feita entre as doenças endometrite clínica e metrite, entretanto, a metrite ocorre mais cedo após a parição até os 21 dias pós-parto (SHELDON et al., 2006).

No pós-parto, o útero é inevitavelmente contaminado por bactérias, não significando que haverá uma infecção sempre que a contaminação esteja presente, pois a infecção é dependente da patogenicidade e da quantidade dessas bactérias, e mais importante, da imunidade da vaca a esses agentes infecciosos (SHELDON et al., 2009). Dessa forma, a endometrite acontece quando os agentes bacterianos são mais patogênicos ou quando essa resposta imune não é eficiente. Fatores como retenção de placenta, distocia e abortos contribuem para a redução da resposta imune uterina no pós-parto (GRÖHN; RAJALA-SCHULTZ, 2000; KIM; KANG, 2003).

Momento correto do diagnóstico da endometrite clínica

O diagnóstico da endometrite clínica deve estar compreendido entre os dias 21 e 34 DPP (SHELDON et al., 2006), sendo o mais comum entre os dias 28 e 35 DPP. Neste momento espera-se que o útero tenha retornado ao seu tamanho normal e com os cornos uterinos simétricos e sem secreção uterina (SHELDON et al., 2008). Entretanto, nos casos de endometrite clínica o útero ainda não estará completamente involuído e com cornos assimétricos e ainda com pouca secreção uterina e a presença de secreção vaginal mucopurulenta ou purulenta (SHELDON et al., 2006).

Há diversos métodos de diagnóstico para a endometrite clínica, como a palpação retal, ultrassonografia, vaginoscopia, técnica da mão enluvada e metricheck (PLETICHA; DRILLICH; HEUWIESER, 2009) (Figura 1). Este último tem sido muito utilizado na rotina das fazendas, por ser um diagnóstico rápido e prático (BICALHO et al., 2016).

Figura 1 – Métodos diagnósticos para endometrite clínica: palpação retal, exame ultrassonográfico, vaginoscopia e Metricheck. Fonte: Grupo Apoiar e LASGRAN-UFU. 

endometrite em vacas leiteiras

O metricheck utiliza um equipamento que consiste de uma haste de aço inoxidável contendo um coletor de borracha em sua extremidade, que tem por finalidade coletar a secreção no interior da vagina. Se o dia de avaliação for 21 DPP o animal será diagnosticado se a secreção coletada for purulenta, se o dia for 26 a secreção deve ser ainda mucopurulenta (SHELDON et al., 2006).

Ao se utilizar o metricheck, muitos autores (BICALHO et al., 2016; DUBUC et al., 2010; LEBLANC; OSAWA; DUBUC, 2011) têm preferido usar o termo descarga vaginal purulenta (DVP) à endometrite clínica, pois a secreção coletada do interior da vagina não necessariamente tenha vindo do útero (endometrite), podendo ser oriunda da cérvix (cervicite) ou até mesmo da própria vagina (vaginite), conforme ilustrado na figura 2. No entanto, independentemente da origem, sabe-se hoje que a presença desta secreção é prejudicial à performance reprodutiva futura desta vaca (DEGUILLAUME et al., 2012; LEBLANC, 2012).

Figura 2 – Esquema ilustrando o trato reprodutivo da vaca. A descarga vaginal purulenta (PVD) pode ter origem uterina em consequência da endometrite, cervical, devido as cervicites ou, vaginal, nos casos de vaginites. 

endometrite em vacas leiteiras

Mas lembre-se que se for utilizar apenas o metricheck para o diagnóstico, o tratamento com antimicrobianos intrauterinos (infusão uterina) não seria o mais indicado, pois não seria eficiente caso fosse uma cervicite ou vaginite, já que o antibiótico seria depositado no interior do útero. Desta forma, o uso do metricheck isoladamente não seria 100% eficiente para definir o melhor tratamento, portanto, deverá estar associado a outro exame. Neste caso, umas das melhores opções a campo seria a ultrassonografia que permite mensurar tamanho dos cornos uterinos, fluido intra-uterino (volume e ecogenicidade), espessura de parede e informações da atividade ovariana (SHELDON et al., 2006).

As informações coletadas por meio da US (ultrassonografia) definem o diagnóstico da endometrite e também a chance de resposta ao tratamento ao se avaliar a saúde da parede uterina e características da secreção. A US também pode auxiliar na terapia, pois caso haja a presença de um corpo lúteo no ovário, o uso de drogas luteolíticas seria uma boa opção ao tratamento das endometrites clínicas (LEBLANC et al., 2002).

Acompanhamento do parto e auxílio adequado por veterinários nos partos distócicos

Uma maternidade adequada e pessoal capacitado são cruciais para a saúde uterina, pois reduzem os riscos de lesões no trato reprodutivo, contaminações uterinas, retenção de placenta, hipocalcemia e cetose. Todos estes fatores acima são considerados predisponentes para metrite e endometrite clínica. Na tabela 1 estão apresentadas algumas orientações que devem ser tomadas para que uma maternidade seja eficiente.

Tabela 1 - Pontos principais para organização da maternidade na propriedade leiteira.

endometrite em vacas leiteiras

Diagnóstico e tratamento da retenção de placenta e metrite

O diagnóstico e tratamento destas duas enfermidades é imprescindível, pois animais que apresentam retenção de placenta tem 34,29 vezes mais chance de ter endometrite clínica (POTTER et al., 2010).

A retenção de placenta é o atraso na expulsão das membranas fetais, que normalmente ocorre com 6 horas após o parto, caso a placenta ainda esteja presente 24 horas após o parto, diagnostica-se retenção de placenta (SHELDON et al., 2008). A metrite é uma doença de extrema importância para a saúde geral do animal, pois pode levar à morte e interferir significativamente na vida produtiva e reprodutiva (GILBERT et al., 2005; LEBLANC, 2008; SHELDON; DOBSON, 2004). A prática nos mostra que esta doença não é diagnosticada de forma correta, de acordo com a sua apresentação em metrite leve, moderada e grave (HUZZEY et al., 2007; SHELDON et al., 2006) (Tabela 2).

Tabela 2 – Classificação de metrite quanto a severidade, principais sinais clínicos sistêmicos e locais e tratamentos propostos.

endometrite em vacas leiteiras

Ressalta-se que na maioria das vezes, apenas a metrite grave e alguns casos de metrite moderada são diagnosticados, já os casos de metrite leve são bem mais difíceis de serem diagnosticados. Portanto, devem ser inseridos na fazenda métodos diagnósticos que permitam a diferenciação destas três condições, pois todas elas interferem negativamente na saúde uterina e predispõem a quadros mais graves de endometrite clínica.

Atualmente, tem se proposto a avaliação mais intensiva destes animais nos primeiros dez dias em lactação, onde estas doenças são mais prevalentes. Os métodos mais utilizados são a inspeção diária (apatia, depressão, perda de apetite, baixa produção láctea), temperatura corporal, descarga vaginal e palpação retal. Este último (palpação retal) é imprescindível quando se quer fazer o diagnóstico de metrite de grau leve.

Protocolo de avaliação das doenças uterinas no pós-parto

Montar um protocolo de avaliação que seja capaz de diagnosticar o quanto antes estas infecções uterinas seria o cenário ideal, pois ao se diagnosticar rapidamente o tratamento terá melhor efeito. Entende-se que um diagnóstico precoce identificaria a doença em uma fase inicial que responderia muito melhor aos medicamentos. Na figura 3, há uma proposta de datas e respectivas doenças que seriam avaliadas.

Figura 3 – Programa de acompanhamento das principais doenças uterinas. Fonte: Grupo Apoiar e LASGRAN-UFU. 

endometrite em vacas leiteiras

Considerações finais em relação ao tratamento da endometrite clínica

Ao se introduzir um programa de diagnóstico e tratamento destas infecções uterinas, associado a um adequado manejo nutricional neste período de transição fará com que haja uma redução significativa dos casos de endometrite clínica.

No entanto, além da redução na ocorrência da endometrite clínica, os técnicos observarão quadros mais leves de endometrite e mais responsivos ao tratamento, isto é, o útero estará praticamente involuído, com pouca secreção uterina, inflamação mais superficial das camadas uterinas e sem envolvimento de estruturas importantes como tubas uterinas e ovários.

Referências bibliográficas

BICALHO, M. L.S. et al. Associations among Trueperella pyogenes, endometritis diagnosis, and pregnancy outcomes in dairy cows. Theriogenology v. 85, n. 2, p. 267–274 , 2016.

DEGUILLAUME, L. et al. Effect of endocervical inflammation on days to conception in dairy cows. Journal of Dairy Science v. 95, n. 4, p. 1776–1783 , 2012.

DUBUC, J. et al. Definitions and diagnosis of postpartum endometritis in dairy cows. Journal of Dairy Science v. 93, n. 11, p. 5225–5233 , 2010.

GALVÃO, Klibs N A. Postpartum uterine diseases in dairy cows. Animal Reproduction v. 9, n. 3, p. 290–296 , 2012.

GILBERT, Robert O et al. Prevalence of endometritis and its effects on reproductive performance of dairy cows. Theriogenology v. 64, n. 9, p. 1879–1888 , 2005.

GRÖHN, Y T; RAJALA-SCHULTZ, P J. Epidemiology of reproductive performance in dairy cows. Animal Reproduction Science v. 60–61, p. 605–614 , 2000.

HUZZEY, J.M. et al. Prepartum Behavior and Dry Matter Intake Identify Dairy Cows at Risk for Metritis. Journal of Dairy Science v. 90, n. 7, p. 3220–3233 , 2007.

KIM, Ill-Hwa; KANG, Hyun-Gu. Risk Factors for Postpartum Endometritis and the Effect of Endometritis on Reproductive Performance in Dairy Cows in Korea. Journal of Reproduction and Development v. 49, n. 6, p. 485–491 , 2003.

LEBLANC, S. J. Interactions of Metabolism, Inflammation, and Reproductive Tract Health in the Postpartum Period in Dairy Cattle. Reproduction in Domestic Animals v. 47, n. SUPPL. 5, p. 18–30 , 2012.

LEBLANC, S.J. et al. Defining and Diagnosing Postpartum Clinical Endometritis and its Impact on Reproductive Performance in Dairy Cows. Journal of Dairy Science v. 85, n. 9, p. 2223–2236 , 2002.

LEBLANC, Stephen J. Postpartum uterine disease and dairy herd reproductive performance: A review. Veterinary Journal v. 176, n. 1, p. 102–114 , 2008.

LEBLANC, Stephen J.; OSAWA, Takeshi; DUBUC, Jocelyn. Reproductive tract defense and disease in postpartum dairy cows. Theriogenology v. 76, n. 9, p. 1610–1618 , 2011.

PLETICHA, S; DRILLICH, M; HEUWIESER, W. Evaluation of the Metricheck device and the gloved hand for the diagnosis of clinical endometritis in dairy cows. Journal of Dairy Science v. 92, n. 11, p. 5429–5435 , 2009.

POTTER, Timothy J. et al. Risk factors for clinical endometritis in postpartum dairy cattle. Theriogenology v. 74, n. 1, p. 127–134 , 2010.

SHELDON, I. M.; DOBSON, H. Postpartum uterine health in cattle. Animal Reproduction Science v. 82–83, p. 295–306 , 2004.

SHELDON, I. Martin et al. Uterine diseases in cattle after parturition. Veterinary Journal v. 176, n. 1, p. 115–121 , 2008.

SHELDON, I M et al. Defining postpartum uterine disease in cattle. Theriogenology v. 65, n. 8, p. 1516–1530 , 2006.

SHELDON, Im et al. Mechanisms of infertility associated with clinical and subclinical endometritis in high producing dairy cattle. Reproduction in Domestic Animals v. 44, n. SUPPL. 3, p. 1–9 , 2009.

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