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Vigor de bezerros recém-nascidos: fatores de risco, avaliação e manejo para melhoria

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E JACKELINE THAIS DA SILVA

CARLA BITTAR

EM 22/05/2014

9 MIN DE LEITURA

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O nascimento pode ser um momento traumático ou tranqüilo para bezerros leiteiros. O parto é iniciado pelo pico de cortisol fetal, seguido de eventos endócrinos na mãe que levam à contração uterina, dilatação da cervix e saída do feto. No entanto, durante estes eventos muitos fatores envolvendo o sistema fetal ou materno podem resultar em parto distócico.

Distocia pode ser definida como dificuldade ou anormalidade no parto, aumento no tempo necessário para a expulsão do feto sem assistência humana ou o prolongamento do processo com auxílio humano. Pode estar relacionada à dimensão da pelve da vaca, apresentação do feto ou fatores maternos como a contração e dilatação insuficiente da cervix, ou torção uterina. A causa mais comum de distocia é a desproporção do feto em relação à pelve, que é simplesmente a relação do tamanho da pelve da mãe e o peso do bezerro. Este tipo de problema geralmente ocorre em primíparas parindo bezerro macho. Em geral, os machos são maiores que as fêmeas ao nascimento. Por outro lado, modelos estatísticos mostram que o peso ao nascimento é melhor indicador que o gênero sobre dificuldades no parto.

Contudo, é de conhecimento geral que o trauma resultante do nascimento distócico diminui a vitalidade ou o vigor dos bezerros, que é a capacidade de viver e crescer com energia e força; e aumenta o risco de natimortos, bezerros que morrem durante o parto ou nas primeiras 48 horas de vida; ou mortalidade neonatal, animais que morrem com menos de120 dias de idade. Essa taxa de mortalidade pode diminuir com manejos adequados durante o parto e nas primeiras horas após o nascimento, avaliando-se a vitalidade do neonato.

Fatores de risco e características de baixa vitalidade em bezerros distócicos

Em fazendas leiteiras americanas, o manejo do parto distócico é realizado com muita atenção para a vaca, de forma que não comprometa a sua saúde, fertilidade e, consequentemente sua produção. No entanto, pouca atenção é dispensada ao bezerro, principalmente porque o conhecimento dos efeitos do nascimento de um parto distócico é limitado entre os produtores e raramente apresenta um impacto econômico de imediato. Entretanto, estudos mostram os partos distócicos resultam em séries conseqüências aos bezerros, os quais apresentam baixa vitalidade, além do comprometimento da saúde e da sua sobrevivência.

Durante o processo de nascimento, quando força excessiva é utilizada no tracionamento do animal, podem ocorrer traumas e dor. Problemas na coluna vertebral são comumente observados em animais provenientes de partos distócicos e incluem fraturas na coluna vertebral, mielomacia cervical, compressão da espinha, além de fratura mandibular ou femoral. Também é importante salientar que quando esses traumas não são fatais logo após o nascimento, deixam conseqüências como bezerros fracos ou que apresentam problemas de mobilidade. Estes são animais que sobrevivem, mas que sempre apresentam desempenho aquém do esperado e consequentemente taxas de crescimento abaixo do esperado para o sucesso da criação.

O menor vigor destes bezerros também resulta na falha da transferência de imunidade passiva, como consequência do baixo volume de ingestão de colostro, principalmente em propriedades que não praticam o manejo de separar o bezerro da mãe após o parto para fornecimento do colostro em volumes controlados. Mas, devido ao baixo vigor estes são animais que se recusam a mamar voluntariamente de forma que o uso de sonda para fornecimento forçado passa a ser mandatório para garantir a aquisição de imunidade passiva. O consumo voluntário de colostro nesses animais pode ser reduzido em até 74% durante as primeiras 12 horas de vida, e está associado à falta de motivação do animal para se levantar, caminhar e mamar. Outro fato importante, é que bezerros que nascem com auxílio geralmente levam mais tempo para fazer a primeira tentativa de levantar, conseguir caminhar e então chegar ao úbere; e o simples fato do animal apresentar reflexo de sucção não significa que o animal conseguirá chegar ao úbere e mamar. Contudo, a quantidade de colostro ingerida pode ser predita pelo vigor do bezerro, medida pela capacidade de se levantar sem assistência.

A falha de transferência de imunidade passiva, que pode ocorrer como conseqüência de partos distócicos, também está associada ao aumento da suscetibilidade a doenças infecciosas que levam o neonato a morbidade ou mortalidade; redução na média de ganho de peso; diarreias e pneumonia, e em longo prazo, a diminuição na produção de leite na primeira e segunda lactação.

A acidose metabólica e ruptura prematura do cordão umbilical também são implicações muito comuns em partos distócicos, consequência do prolongamento do parto ou retirada forçada do bezerro. Com a ruptura do cordão umbilical a fonte de oxigênio da placenta para o feto é interrompida. Quando isso ocorre prematuramente, antes que o bezerro esteja respirando sozinho, a quantidade de oxigênio diminui lentamente levando o animal a asfixia e acidose respiratória, que pode comprometer a sobrevivência. O efeito cascata da asfixia pode causar diminuição do fluxo sanguíneo para o fígado e rins levando a necrose hepática, disfunção do fígado, necrose renal, pneumonia e hemorragia. Essas conseqüências quando não levam o animal a óbito, deixam seqüelas, e aumentam as taxas de morbidade no bezerreiro.

Passado o transtorno do parto distócico, o neonato se depara com outro desafio, controlar a temperatura corporal. No nascimento, o bezerro passa de um ambiente controlado e esterilizado para um ambiente externo adverso, onde necessita obter resposta fisiológica para manter a homeostase. A termorregulação durante o período neonatal é derivada da mobilização de energia ligada ao tecido muscular e tecido adiposo marrom, e essa habilidade de mobilização pode ser desafiante para um recém-nascido dependendo do grau de estresse, do ambiente do parto e da temperatura ambiental.

Bezerros distócicos apresentam menor vigor e maior debilidade à resposta aos estressores ambientais quando nascem em ambiente com temperatura mais fria. Quando a retirada do animal exige muita força mecânica, os animais apresentam maior dificuldade para controlar sua temperatura corporal ou menor resistência ao frio, quando comparados àqueles nascidos sem auxílio, com menor intervenção ou por cesariana. O simples e natural comportamento de levantar, caminhar e mamar pode ser desafiante para bezerros com baixa vitalidade em temperaturas abaixo de sua zona de termoneutralidade. Bezerros que nascem em temperatura abaixo de 10º C ou em lugares com muito vento e/ou chuva apresentam maior dificuldade para a termorregulação que os nascidos em temperatura maior que 10º C ou em condições secas. Portanto, bezerros com estresse por temperatura e baixo vigor tem limitada habilidade para gerar calor através de comportamentos físicos naturais. Assim, é comum observar que animais nascidos no frio apresentam menor concentração sérica de IgG que os nascidos no verão.

Figura 1. Animais nascidos de partos sem auxílio apresentam maior vigor

Métodos para avaliar o vigor de recém-nascidos

Em seres humanos, vários cuidados são tomados durante o período pré e pós natal, de tal forma que resultam em alta taxa de sucesso na prevenção de problemas em bebês recém nascidos. Dentre os cuidados dispensados aos recém nascidos humanos, são feitas 5 observações muito simples, logo nos primeiros minutos do nascimento: 1) frequência respiratória; 2) batimentos cardíacos; 3) reflexo de irritabilidade; 4) tônus muscular; e 5) coloração da pele. Estas observações são utilizados para avaliação do escore de Apgar que indica o vigor ou a vitalidade do neonato.

Adaptações dessa avaliação vem sendo realizadas para bezerros. O escore original de vigor utiliza os sinais de asfixia como critério, além de incluir tônus muscular e movimentação, reflexos, coloração da mucosa e respiração. A duração do parto também influencia de forma significativa o grau de vitalidade do neonato. No entanto, ainda não existe um padrão para essa avaliação, embora muitos estudos estejam sendo realizados para estas adaptações.

A hipoxia e acidose podem ser bons indicadores do vigor de bezerros, assim como comportamentos naturais após o nascimento expressos pela motivação de levantar e mamar o colostro. Dentre às 12 primeiras horas de vida é vital para o bezerro estar saudável e com habilidades para levantar e mamar sem auxílio humano, muito embora isso seja evitado por motivos de manejo da colostragem; e uma maneira de observar esse vigor é verificar se o animal apresenta freqüência mínima de 80 movimentos de sucção/min durante o período de amamentação.

Outro tipo de avaliação que pode ser feita, associada as já descritas, é a avaliação visual da presença de mecônio, edema, cianose na mucosa, estimulação de reflexos, temperatura retal e motivação para se levantar e mamar.

Estratégias para aumentar o vigor de bezerros nascidos de partos distócicos

Estratégias de intervenção devem ser utilizadas para diminuir o efeito de dor severa, trauma, reflexos negativos na saúde e aumentar a taxa de sobrevivência de bezerros neonatos distócicos. Estudos mostram que 90% das perdas são atribuídas a atraso no início ou dificuldade da intervenção, e tempo exigido para a remoção do bezerro. Deste modo, quando verificado a exigência de intervenção no parto é recomendado o acionamento de um médico veterinário, aumentando-se assim as chances de sobrevivência do neonato.

Sendo assim, o monitoramento do parto é de extrema importância para que a tomada de decisão da necessidade de auxílio seja facilitada. Sinais de diminuição da vitalidade do recém-nascido tais como edema, hemorragias, cianose das membranas e mucosa ou reduzida resposta a estimulação, são bons indicadores de que a interferência é necessária.

Após o nascimento, algumas intervenções como respiração artificial, estimulação a respiração, oxigênio, terapia tampão para a acidose, controle da temperatura corporal e tratamento umbilical podem reduzir de imediato os impactos das dificuldades do parto. Outro manejo que também auxilia no controle da temperatura corporal e aumenta as chances de sobrevivência do bezerro, é o fornecimento do colostro logo após o nascimento, e no caso do animal estar muito fraco para se levantar ou sem reflexo de sucção é recomendado fornecer o colostro com o auxílio de sonda esofágica. A energia do colostro nas primeiras horas após o nascimento é essencial para os processos metabólicos iniciais, incluindo a produção de calor, além do fornecimento de anticorpos para o recém nascido. Além disso, o alojamento dos animais nascidos de parto distócicos em ambientes protegidos do frio e com aquecimento artificial também pode auxiliar o bezerro no desafio inicial do controle de temperatura corporal.

Figura 2. Lâmpada de aquecimento para recém-nascidos

Considerações

O manejo mais indicado para diminuir os casos de partos distócicos deve começar com a escolha do touro a ser utilizado para a inseminação, principalmente em novilhas. O monitoramento do parto é muito importante, pois é possível controlar o tempo que o animal está em trabalho de parto, verificar se o feto não está mal posicionado e, dependendo do grau de dificuldade e tempo do início do trabalho de parto, acionar um médico veterinário. Após o nascimento, o bezerro proveniente de parto distócico necessita de atenção especial, principalmente no que se refere à verificação de dificuldade respiratória, sinais de cianose e hemorragias, sendo então tomadas as devidas providências. Alojar o animal em local adequado e protegido de frio, pelo menos nas primeiras 24h de vida. E, para auxiliar o animal na regulação da temperatura corporal e aumentar a taxa de absorção de imunoglobulinas, fornecer colostro de alta qualidade e em volumes recomendados o mais rápido possível ou por sonda esofágica, caso o bezerro não queira mamar voluntariamente.

Literatura consultada

MURRAY, C.F.; LESLIE, K.E. Newborn calf vitality: risk factors, characteristics, assessment, resulting outcomes and strategies for improvement. The Veterinary Journal, v.198, p.322-328, 2013.

 

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do MilkPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

JACKELINE THAIS DA SILVA

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GABRIEL TRENTIN

EM 15/07/2020

O que faz com ternero que nasceu anão e fraco nao consegue fica em pe
VEONILDE DUARTE DUARTE

EM 11/03/2019

nasceu um terneiro nelore muito grande.mas esta fraco não para em pè. para mamar oque faser
TOMAZ GOMES

AUTARES - AMAZONAS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/08/2018

Bom dia, Gostaria de saber se há alguma medicação tipo fortificante para ajudar no caso do bezerro nascido no parto distocico? pois neste caso, o animal apresenta algumas anomalias tipo a pata não tem segurança pra se por em pé, e aparenta ter inflamacão.
POLIANA

PETROLINA - PERNAMBUCO - OVINOS/CAPRINOS

EM 04/11/2016

bom arquivo! 
LUIZ FERNANDO AZEVEDO DE ALMEIDA

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/08/2016

Gostaria de saber se o bezerro nascido de parto sem problemas, não distócico, procura naturalmente mamar o colostro, isto é, sem ajuda humana, ou se depende sempre de ajuda humana para mamar o colostro?
LUIZ FERNANDO AZEVEDO DE ALMEIDA

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/08/2016

Nos partos sem problemas, não distócicos, é comum o bezerro mamar o colostro naturalmente, sem intervenção humana, ou isso não ocorre na maioria dos casos? <br />
Luiz Fernando Azevedo de Almeida <br />
Campos dos Goytacazes/RJ.
DIRCEU BRUNO PINTO

GOIÂNIA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 25/05/2014

Ótima publicação, uma vez que os primeiros cuidados na vida das bezerras são decisivos para a sobrevivência e também na produção futura. Em relação à diminuição de partos distócicos, posso acrescentar os seguintes critérios em relação à escolha do sêmen:

Levar em conta o ítem facilidade de parto do touro. Quanto menor este número, mais seguro será para novilhas. O número máximo é 7 (provas americanas), para trabalhar com mais segurança. Além disso olhar também a confiabilidade deste número, quanto mais próximo de 100 maior a confiabilidade.
ALEXANDRA TEIXEIRA

CONCEIÇÃO DE MACABU - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/05/2014

Olá autoras! Gostei bastante do artigo. Nas considerações vocês informam que a boa escolha do touro é fator essencial para evitar distocia, principalmente em novilhas. Que fatores no touro devem ser avaliados? Obrigada!
LUIZ FELIPE

ITANHANDU - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/05/2014

Ótimos artigo!

Pode nós passar cronograma de um parto?

Obrigado.
FERNANDA SPERANDIO

ARACRUZ - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/05/2014

Boa tarde autoras, teria como passar algumas informações sobre a lâmpada acima? Tipo de lâmpada, LUX ou Watts, distância do animal, tempo que permanece ligada.

Seria semelhante a campânula para pintinhos??



Obrigada!!!

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