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Verdades e mitos sobre concentrado farelado x peletizado*

CARLA BITTAR

EM 23/11/2005

7 MIN DE LEITURA

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Por João Gonsalves Neto1 e Fabiano Ferreira da Silva2

O fornecimento de alimentos sólidos, a partir das primeiras semanas de vida, é prática comum na alimentação de bezerros provenientes de rebanhos leiteiros, sendo considerado essencial para promover o desenvolvimento ruminal. O objetivo de tornar o bezerro ruminante mais rápido possível é para que mesmo após a desmama seja capaz de digerir e absorver nutrientes provenientes de alimentos sólidos (concentrado e volumoso).

Animais que são alimentados precocemente com concentrado apresentam um rúmem bem desenvolvido e vascularizado, o que permite desaleitá-los precocemente, por volta da 6o a 8o semana de vida, sem que haja prejuízo no seu desenvolvimento. A principal vantagem da desmama precoce é de ordem econômica, pois neste sistema uma menor quantidade de leite será utilizada na alimentação dos bezerros, conseqüentemente uma maior quantidade de leite estará disponível para ser comercializado.

Os alimentos concentrados são os principais responsáveis pelo desenvolvimento do rumem, pois sua fermentação produz maior quantidade de AGVs (ácidos graxos voláteis = produtos finais da digestão no rumem) que são os maiores responsáveis pelo desenvolvimento das papilas (estruturas que aumentam a área de absorção da parede ruminal).

Quanto ao feno recomenda-se fornecê-lo após a desmama (60dias), pois na fase de aleitamento o consumo é baixo, não justificando seu fornecimento. Sendo assim o ideal é que o bezerro receba o alimento concentrado o mais cedo possível a partir da 2 semana de vida e que este seja de boa qualidade.

Quanto à forma física do concentrado usado na alimentação de bezerros ainda existem opiniões diferentes entre concentrado peletizado e farelado. As principais vantagens atribuídas ao concentrado peletizado são: menor desperdício, maior consumo e digestíbilidade e conseqüentemente maior ganho de peso quando comparado com o farelado. Contra o concentrado farelado ainda pesa outros fatores negativos como: maior desperdício, menor consumo, sendo também apontado pela sua constituição mais fina como causador de problemas respiratórios. A questão é polemica, pois estas informações são divulgadas sem base cientifica.

Existem poucos trabalhos comparando o concentrado peletizado com o farelado, e estes não apontam diferenças no consumo, desempenho e digestibilidade de bezerros alimentados com os mesmos. Os problemas respiratórios podem estar muito mais relacionados à falta de higiene, fornecimento insuficiente de colostro nas primeiras semanas de vida, correntes de vento, do que propriamente o pó da ração farelada.

Há uma forte tendência em se fornecer concentrado peletizado para bezerros, tanto que as principais fábricas de ração do país só fabricam ração peletizada, isso preocupa, pois o custo da peletização pode encarecer o concentrado, e o pior o produtor de leite que fabrica sua própria ração, pode se sentir tentado a comprar uma peletizadora para melhorar o desempenho dos seus animais.

Sendo assim, com o objetivo de verificar se as vantagens atribuídas ao concentrado peletizado eram verdadeiras (que o mesmo apresenta maior consumo, ganho de peso e se seus nutrientes são mais digestíveis se comparados ao concentrado farelado), foi realizada uma pesquisa para avaliar o desempenho de bezerros alimentados com concentrado farelado ou peletizado.

Foram utilizados 14 bezerros de origem leiteria, divididos em dois tratamentos concentrado farelado e concentrado peletizado, o experimento foi conduzido em duas fases, a primeira fase a de aleitamento durou 6 semanas e a segunda após a desmama durou mais 6 semanas. Os animais entraram no experimento com 28 dias de idade, e durante a fase de aleitamento receberam 4 litros reconstituídos de um sucedâneo + concentrado farelado ou peletizado (a vontade), sendo desmamados aos 70 dias de idade.

Na segunda fase do experimento após a desmama o fornecimento de concentrado foi limitado a 2 kg /animal/dia, para estimular o consumo de volumoso (feno de capim-elefante picado), que foi fornecido a vontade. A cada 14 dias os animais foram pesados e tomados às medidas de altura de cernelha e perímetro torácico. A quantidade de alimento (sucedâneo, concentrado e feno) oferecido foi registrada diariamente e, semanalmente, as sobras de concentrado e feno foram coletadas e pesadas para determinação do consumo diário.

Os dados de consumo e ganho de peso se encontram nas tabelas 1 e 2, nas tabelas 3 e 4 se encontram os coeficientes de digestibilidade e os teores de NDT.

Tabela 1. Médias para consumo de concentrado, ganho médio diário, aumento do perímetro torácico, aumento da altura de cernelha, e conversão alimentar da matéria seca, durante a fase de aleitamento dos 28o aos 70o dia

 


Tabela 2. Médias para consumo de concentrado, ganho médio diário, aumento do perímetro torácico, aumento da altura de cernelha, e conversão alimentar da matéria seca, durante a fase de pós-desmama dos 71o aos 113o dia

 


Tabela 3. Coeficiente de digestibilidade da matéria seca (DMS), da proteína bruta (DPB), da fibra em detergente neutro (DFDN), da fibra em detergente ácido (DFDA), do extrato etéreo (DEE) e nutrientes digestíveis totais (NDT) dos tratamentos ração farelada e peletizada no período de aleitamento e os coeficientes de variação (CV, %)

 


Tabela 4. Coeficiente de digestibilidade da matéria seca (DMS), da proteína bruta (DPB), da fibra em detergente neutro (DFDN), da fibra em detergente ácido (DFDA), do extrato etéreo (DEE) e dos nutrientes digestíveis totais (NDT) dos tratamentos ração farelada e peletizada no período pós-desmama e os coeficientes de variação (CV, %)

 


A figura 1 apresenta o peso vivo dos animais durante todo o período experimental, observa-se um peso vivo muito semelhante entre os animais alimentados com concentrado farelado e peletizado.

Figura 1. Peso vivo dos animais (kg)

 


Podemos observar com estes dados que os animais alimentados com concentrado peletizado não apresentaram: maior consumo, ganho de peso e crescimento quando comparado com os alimentados com concentrado farelado. A digestíbilidade dos nutrientes também não foi diferente entre os tratamentos. Os resultados não nos surpreenderam, pois em um trabalho recente realizado nos Estados Unidos também comprovou não haver diferença entre os dois tipos de concentrado.

Apenas um trabalho similar a este foi realizado no Brasil, e os autores também não observaram diferença no desempenho de bezerros alimentados com concentrado farelado e peletizado. Ou seja, as informações existentes que apontam que bezerros alimentados com concentrado peletizado apresentam maior desempenho do que aqueles alimentados com farelado devem ser reavaliados.

Foi avaliado também o beneficio econômico entre os dois concentrados, o concentrado peletizado apresentou um custo 10,6% superior ao farelado (tabela 5).

Tabela 5 - Custo dos concentrados peletizado e farelado (R$/Kg) utilizados no experimento (matéria natural)

 


Na Tabela 6 encontra-se a análise do orçamento parcial. O tratamento com concentrado farelado apresentou maior lucro parcial, comparado ao peletizado. Sendo assim não houve beneficio econômico do peletizado em relação ao farelado.

Tabela 6. Análise de orçamento parcial

 

Valores obtidos em 06/07/2005 (R$1,00 = US$ 2,395, dólar comercial do dia; preço da @ R$ 49,00).
1Receita parcial = peso da carcaça quente* x preço da @ (R$ por bezerro). * Peso médio da carcaça quente estimado (considerando 50% de rendimento de carcaça) 50,6 e 51,85 kg, respectivamente, para os tratamentos farelado e peletizado.
2 Custo parcial farelado = custo da ração farelada (valores obtidos na região de Itapetinga-BA) x consumo total de concentrado (R$ /bezerro); custo parcial peletizado = custo da ração peletizada (valores obtidos na região de Itapetinga-BA) x consumo total de concentrado (R$/ bezerro).
3Lucro parcial = receita parcial - custo parcial (R$/ bezerro).

Na Tabela 7 encontra-se o custo de produção por arroba considerando apenas o custo da ração concentrada.

Tabela 7 - Custo de produção por arroba (considerando apenas o custo da ração)

 


Os custos por arroba foram R$ 24,06 e R$ 28,07, respectivamente, para os concentrados farelado e peletizado. Considerando apenas os custos com alimentação concentrada, o tratamento peletizado apresentou um custo de produção por arroba R$ 4,01 superior ao tratamento farelado.

Sendo assim concluímos nesta pesquisa que o concentrado peletizado não melhorou o desempenho dos bezerros, apresentou maior custo quando comparado ao farelado.

Agora o produtor conta com informações concretas que foram obtidas em uma pesquisa e através destes dados tem liberdade de qual concentrado utilizar na alimentação de seus bezerros.

*Este artigo é parte da Dissertação do Mestrado em Produção de Ruminantes

_______________________________________
1João Gonsalves Neto - Zootecnista, Mestre em Zootecnia,
2Fabiano Ferreira da Silva - Doutor em Zootecnia

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AUGUSTO LUCIO MENDES

PROMISSÃO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/07/2020

Um vendedor sincero, me disse que não há estudo que mostre qualquer ganho da RP para a RF, mas disse haverewtudo mostrando que há uma enorme redução de desperdício de ração.
Não encontrei até hoje este estudo..
EVERSON VIAN

EM 23/07/2018

Algum conhecimento com casca de amendoim? Quais as propriedades nutricionais?
FELCIO MANOEL ARAUJO

CARIACICA - ESPÍRITO SANTO - ESTUDANTE

EM 28/04/2017

eu venho por meio dessa parabenizar aos idealizadores desta matéria :

Eu queria saber qual a perca de nutrientes na ração farelada quando  éla é transportadas por caminhões por longas distancias e a parti de quantos kilometros a mesma começa a desprender de si,seus nutrientes.

   Devido a grande movimentação brusca em suas embalagens.?

desde já agradeço e espero a resposta de vossa parte!
PAULO MARCOS RIBEIRO DA VEIGA

PASSOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/01/2007

Excelente artigo, pois os fornecedores de rações forçam a venda da ração peletizada, com o argumento de que melhora muito o desempenho de bezerras, e o produtor, muitas vez sem informação, acaba optando por este tipo de ração, que além de aumentar o custo, não traz benefício nenhum.
RENATA SPURI

LAVRAS - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 24/08/2006

O presente trabalho vem, mais uma vez, comprovar que realmente não há diferenças entre o uso de concentrados peletizados e farelados para bezerros.
Além disso, é uma importante fonte de informação para produtores. Parabéns.
FABIO TAVEIRA SANDIM

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/03/2006

Achei o assunto de extrema importância, ainda mais que essa informação trás economia com o mesmo resultado. Além de ter dado uma dica de uma fórmula de ração. Obrigado!
CARLOS CESAR MASSAMBANI

UMUARAMA - PARANÁ - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 12/12/2005

Excelente trabalho,



Como nutricionista nunca tinha observado diferença entre as duas formas de concentrado, a não ser pelo preço.
LUCIANO FERES JACOB

SÃO SIMÃO - GOIÁS - EMPRESÁRIO

EM 27/11/2005

Parabéns pela matéria, senhores João Gonsalves Neto e Fabiano Ferreira da Silva, foi de muita valia, as conclusões dos senhores. Adotando este manejo ou seja, eliminando as rações peletizadas, devo estar economizando algo em torno de 1500 reais ano, sem prejudicar o meu rebanho.



Obrigado mesmo , mais uma vez a equipe MilkPoint esta de parabéns ! São contribuições como esta que fortalecem o site e ajudam o produtor rural a dismistificar certas "leis " como esta relacionada acima.
MARCELO MONTEIRO GUIRADO

TANABI - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/11/2005

Muito boa a pesquisa sobre um tema que interfere diretamente no custo de produção. Precisamos de mais pesquisas como estas, que sejam objetivas e possam ser usadas pelos produtores.

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