Além de afetar o consumo de alimento de forma negativa, também é observado aumento no consumo de água pelos animais (sendo necessária maior preocupação com o fornecimento em quantidade e qualidade adequadas), alterações comportamentais (animais mais inquietos, menos deitados) e aumentos na taxa respiratória e na temperatura corporal (características visíveis da ocorrência de estresse térmico), e, nos casos mais graves, levando alguns animais à morte.
Quando se discute os efeitos do calor em sistemas de produção de leite, já é de conhecimento geral a preocupação com os animais em produção, sendo tomadas medidas para se evitar prejuízos na produção de leite, como a adequação das instalações com ventiladores, maior disponibilidade de sombra com plantio de árvores, por exemplo.
Contudo, os efeitos das altas temperaturas geralmente são esquecidos e ignorados para bezerras em aleitamento, que devem receber atenção especial em relação ao tipo de alojamento, principalmente porque, no Brasil, a grande maioria é criada em instalações abertas e individuais, e não em galpões fechados com maior controle de temperatura e disponibilidade de sombra.
Apesar de algumas vantagens observadas nos principais sistemas adotados no Brasil, como um menor risco na transmissão de doenças pela criação individual dos animais, os abrigos utilizados oferecem pouca proteção aos efeitos dos raios solares, principalmente em dias muito quentes. Na prática, o que se observa são os animais durante o dia todo procurando uma melhor posição dentro da sombra projetada pelo abrigo, que muitas vezes é posicionado de maneira incorreta, ou confeccionado com telhados de materiais que acabam não protegendo os animais dos efeitos da radiação solar. Neste aspecto é importante distribuir os abrigos de forma que a tarde a sombra seja projetada à frente do abrigo. Muitas vezes a sombra da tarde é projetada atrás do abrigo e devido ao comprimento da corrente a bezerra não tem acesso a sombra (Figura 1).

Figura 1. Tratador mostrando que durante o período da tarde a bezerra não tem acesso a sombra devido ao posicionamento do abrigo e ao comprimento da corrente.
Dependendo da maneira como o bezerreiro é conduzido, e dos materiais utilizados na confecção dos abrigos, o que se observa são animais, nos horários mais quentes do dia, com sinais típicos de estresse por altas temperaturas, como boca aberta ofegante, salivação e, principalmente, relutância em se alimentar.
Assim, a escolha do local onde será alocado o bezerreiro é importante e fundamental, como a utilização de áreas que ofereçam sombra durante os períodos mais quentes do dia (Figura 2). Além disso, a época do ano quando do nascimento dos animais pode influenciar diretamente seu desempenho.

Figura 2. Bezerreiro com sombra extra durante o período da tarde.
Em regiões com temperaturas elevadas, comumente são observados melhor desempenho dos animais nascidos em épocas com temperaturas mais amenas, como outono e a primavera. Temperaturas entre 15º e 29ºC estão dentro da faixa de conforto térmico para bezerros em aleitamento. Portanto, em algumas regiões e determinadas épocas do ano quando as temperaturas encontram-se acima dos 30ºC, os efeitos no desempenho são evidentes, assim como em épocas com temperaturas bastante baixas, abaixo dos 14oC.
Dessa forma, para tentar responder a alguns destes questionamentos, um grupo de pesquisadores (Broucek et al., 2009) conduziu um estudo para investigar os efeitos de altas temperaturas sobre a saúde e desempenho de bezerros mantidos em abrigos móveis individuais em campo aberto.
Para realizar este estudo, 63 bezerros (30 fêmeas e 33 machos) nascidos em diferentes épocas do ano foram criados em abrigos individuais, durante o período de aleitamento (a partir do segundo dia de vida até 8 semanas de idade). Cada abrigo possuía área interna de 1,8 m × 1,2 m e foram dispostos em fileiras, orientadas no sentido leste a oeste, para minimizar a exposição ao aquecimento solar. Os animais receberam o manejo usual de animais em aleitamento, com fornecimento de sucedâneo lácteo (2 vezes ao dia), concentrado e água a vontade. A temperatura e a umidade relativa foram monitoradas durante todo o dia, por equipamento eletrônico fixado a mesma altura da cernelha dos bezerros.
Em relação à frequência de ocorrência de diarreia, os resultados deste estudo mostraram que não foram observadas diferenças entre as épocas e entre o sexo dos bezerros na consistência das fezes.
Um resultado bastante importante mostra que os bezerros nascidos em épocas mais quentes do ano apresentaram maior consumo de água (Tabela 1), mostrando a importância do fornecimento de água em quantidade adequada aos animais durante este período.
Tabela 1. Consumo de água e concentrado totais de todo período de aleitamento.

O consumo de concentrado foi maior durante o período de outono, quando as temperaturas tendem a ser mais amenas, enquanto que os animais nascidos em épocas mais quentes apresentaram menor consumo de concentrado. Conseqüentemente, foi observado ao final do período de aleitamento um menor peso corporal dos bezerros nascidos nas épocas mais quentes, reflexo direto do menor consumo apresentado por estes animais, enquanto que os animais nascidos no outono apresentaram maior ganho até o desaleitamento. As taxas de ganho de peso observadas foram de 440, 390 e 480g/d para os períodos de primavera, verão e outono, respectivamente.
Os resultados deste estudo indicam que o estresse térmico é de extrema importância para o desenvolvimento de bezerros em aleitamento, muito embora não seja uma preocupação entre os produtores e até mesmo técnicos. O fato é que os efeitos das altas temperaturas muitas vezes passam despercebidos para bezerros em aleitamento. Os resultados mais importantes encontrados são os que mostram que os animais nascidos nas épocas mais quentes (final da primavera e verão) foram os que apresentavam maior consumo de água e menor consumo de concentrado, e, consequentemente, menores ganhos de peso diário, embora não tenha sido observadas alterações na freqüência de diarréia dependente da época do ano.
Citação Bibliográfica
Broucek, J.; Kisac, P.; Uhrincat, M. Effect of hot temperatures on the hematological parameters, health and performance of calves Int. Journal of Biometeorol., v.53, p.201-208, 2009.
Comentários:
Poucos trabalhos são encontrados no que se refere ao efeito de estresse térmico em animais em aleitamento. Temos visto em campo que a preocupação tanto com sombra quanto com disponibilidade de água não tem sido muito grande entre os produtores. É comum observarmos baldes de água vazios no meio do dia, restringindo o consumo de água, e ainda mais o consumo de concentrado. Como mostrou o trabalho, com o verão o consumo de água pode chegar a quase 80L no período, dessa forma, é importante que o tamanho dos baldes permitam que os animais recebam água sem restrição. De outra forma, um maior número de visitas ao bezerreiro para completar os baldes com água fresca.
