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Qualidade nutricional e microbiológica de colostro bovino no Brasil

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E GLAUBER DOS SANTOS

CARLA BITTAR

EM 29/01/2016

9 MIN DE LEITURA

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Os criadores normalmente oferecem um volume fixo de colostro na primeira alimentação (2L), o que faz com que a concentração de IgG e o tempo para fornecimento mereçam maior atenção. A determinação da concentração de imunoglobulinas presente no colostro é ferramenta de fácil adoção nas propriedades leiteiras, como baixo custo e resposta rápida. 

O colostro é a principal fonte de anticorpos para os bezerros recém-nascidos, portanto a correta colostragem aumenta a sobrevivência desses animais. No entanto, o colostro fornecido pode ser contaminado por microrganismos e reduzir o desempenho animal, aumentar as taxas de morbidade e mortalidade. Algumas doenças podem ser transmitidas via colostro, devido a presença de bactérias como Mycoplasma spp., Echerichia Coli, Listeria monocytogenes e Salmonella spp.. Esses patógenos podem ter origem da própria glândula mamária ou contaminar o colostro durante os processos de colheita, manipulação e armazenagem. Ainda, bactérias podem ligar-se as imunoglobulinas livres no intestino do animal e bloquear a absorção dessas moléculas pelas células ou ainda estimular a paralisação da atividade de pinocitose.

Em um levantamento realizado nos Estados Unidos foi identificado que 34% das bezerras com até 48 horas de vida apresentavam falhas na transferência de imunidade passiva (USDA, 2007), o que contribui para reduzir a lucratividade do sistema de produção. Já Morrill et al. (2012) concluíram com a caracterização de colostro em diferentes regiões norte-americana que apenas 39% das amostras apresentam concentração de IgG e característica microbiológica ideal. Dados nacionais são escassos e normalmente a avaliação da qualidade do colostro fornecido a recém nascidas considera apenas sua concentração em Ig, a qual é estimada através de colostrômetro.

Assim, o Grupo de metabolismo Animal do Depto. de Zootecnia da ESALQ desenvolveu um estudo com o objetivo de avaliar a composição nutricional e microbiológica de amostras de colostro colhidas de banco de colostro ou de vacas recém paridas em propriedades leiteiras. Foram colhidas 66 amostras de colostro bovino, diretamente da ordenha de vacas recém-paridas ou do banco de colostro, dependendo da disponibilidade de colostro no momento da visita as propriedades, em propriedades comerciais dos Estados de Minas Gerais (24), São Paulo (32) e Paraná (10). Além da classificação por região, as propriedades foram classificadas de acordo com o volume diário de produção de leite, como sendo de pequeno porte quando a produção foi <200 litros (31/47%); médio porte, de 201 a 700 litros (11/17%); e de grande porte quando > 701 litros diários (24/36%). A média de produção diária das fazendas variou de 45 a 40.000 litros de leite.

Em propriedades com volume de produção superior a 700 litros/dia o teor de matéria seca, proteína bruta e imunoglobulinas foram superiores as propriedades com produção inferior a 200 L/dia e na classe de 201 a 700 L/dia (Tabela 1). De acordo com esses dados, infere-se que em propriedades com produção diária de leite inferior a 700L existe uma maior quantidade de bezerros recém-nascidos propensos a terem falhas de transferência de imunidade passiva.

Tabela 1 – Composição nutricional de amostras de colostro em função do volume de produção diária de leite.

 
A média do teor de extrato etéreo foi de 5,59%, com uma grande variação (5,20 a 6,25% - Tabela 1). O teor de extrato etéreo tem influência do volume de colostro produzido, porém poucas alterações ocorrem nos primeiros 5 dias após o parto e o teor é pouco influenciado pelo teor de gordura na dieta de vacas durante a gestação. Pesquisas anteriores mostraram concentração em extrato etéreo variando de 4,6 a 6,7% e evidenciam que o teor médio do presente estudo está dentro da faixa de variação encontrado na literatura e ainda, que o conteúdo lipídico em amostras de colostro sofre pouca variação.

O teor de proteína variou de 15,10 a 21,46% e a média foi de 17,23%, sendo o maior valor médio encontrado na classe de produção diária superior a 700 L (P<0,05) (Tabela 1). O teor médio de proteína do colostro é representado principalmente pelas imunoglobulinas, as quais têm importante papel no combate a microrganismos nos primeiros dias de vida do bezerro recém-nascido. Além desta função, as proteínas do colostro servem como fontes de aminoácidos embora, também possam suprir a necessidade energética. Morril et al., (2012) observaram concentração de proteína de 12,7%, sem diferença entre paridade e raça no teor de proteínas de suas amostras.

A concentração média de imunoglobulinas entre as amostras de colostro colhido foi de 51,72; 48,06 e 79,69 mg/mL para sistemas com produção diária de <200L de 201 a 700L e >700L, respectivamente. A recomendação da indústria é que colostro com concentração inferior a 50 mg de IgG/mL não seja ofertado ao recém-nascido como primeira refeição, caso contrário aumentam as chances dos bezerros apresentarem falhas na transferência de imunidade passiva. A concentração média em propriedades com produção diária entre 201 e 700L está abaixo da recomendação da indústria (<50 mg/mL). Provavelmente a menor concentração seja pelo fato de terem sido colhidas amostras diretamente do banco de colostro, as quais poderiam ser de 2ª, 3ª, 4ª ordenha, e sem avaliação de qualidade antes do armazenamento. O fato é que estas amostras seriam utilizadas para fornecimento aos recém nascidos.

Demais variáveis como paridade, raça, tempo de colheita do colostro também contribuíram para acentuar as diferenças. O valor médio de imunoglobulina encontrado (59,82 mg/mL) está abaixo da média apresentada por Morril et al. (2012) em 827 amostras nos Estados Unidos e do valor reportado por Bielmann et al., (2010) em 288 amostras no Canadá (69,7 e 94,4 mg/mL), porém acima dos 34,9 mg/mL apresentado nas 55 amostras de Kehoe et al., (2007) no Estado da Pensilvânia, EUA.

Com relação as características microbiológicas das amostras de colostro, observa-se (Tabela 1) que a contagem de bactérias ácido-láticas foi maior em propriedades com produção de leite inferior a 200L/dia. Embora esta população bacteriana seja naturalmente encontrada em derivados de lácteos, representadas pelos gêneros Lactococcus, Spreptococcus e Lactobacillus, a temperatura e inadequadas condições de armazenamento contribuem para o rápido crescimento populacional destes microrganismos. O principal dano causado por este grupo de bactérias é a degradação de lactose para obtenção de energia e consequente redução do pH, devido a produção de ácido lático. Porém, neste grupo de bactérias pode existir microrganismos com função probióticas, as quais afetam beneficamente o animal hospedeiro, melhorando o equilíbrio microbiano intestinal através da exclusão competitiva, produção de metabólitos prejudiciais a bactérias patogênicas e a ativação do sistema imune.

A contagem de enterobactérias foi maior (P<0,05) em amostras de colostro de propriedades com volume de produção superior a 701L/dia. O principal fator para o desenvolvimento de bactérias do gênero Enterobactérias é a ausência de métodos higiênicos antes, durante e após a ordenha do colostro (Stewart et al., 2005). Além de bactérias que degradam carboidratos, neste grupo podem estar presentes gêneros como Escherichia Coli e Salmonella, organismos responsáveis por causar doenças como a diarreia. Assim, o fornecimento de colostro contaminado com microrganismos causadores de diarreia, além de reduzir a capacidade de absorver IgG, contribui com as principais causas da doença. Desta maneira, mesmo que bezerras recebam alimentação, manejo e condições de bem-estar adequados, o desempenho pode ser comprometido. Assim, a aferição dos níveis microbiológicos presente no colostro, bem como práticas de manejo que evitem a contaminação e proliferação de bactérias torna-se fundamental. Segundo o USDA (2007), 62% das mortes de bezerros durante a fase de aleitamento são ocasionadas pela diarreia, sendo que o fornecimento de alimentos contaminados contribui para esta elevada taxa, seguido pela exposição à um ambiente também contaminado.

O colostro deve ter qualidade nutricional, avaliada pela concentração de imunoglobulinas (>50mg/mL) e qualidade microbiológica, em função da baixa contaminação bacteriana (<100.000 UFC/mL) para ser considerado adequado ao fornecimento a bezerra recém-nascida (Godden, 2008). Do total de amostras analisadas 47% e 76% apresentaram as características recomendadas pela indústria com relação a concentração de imunoglobulinas e contagem microbiana, respectivamente. Este fato evidência a maior dificuldade para obter colostro com concentração de IgG adequada em relação a colostro com qualidade microbiológica nos níveis recomendados. Isto é coerente uma vez que a quantidade de variáveis que influenciam a formação de colostro é bem maior do que os aspectos de higiene, relacionados a contaminação microbiológica do mesmo. No entanto, a preocupação do produtor deve ser para atender os dois quesitos de qualidade simultaneamente, devido as respectivas importâncias.

Quando as duas variáveis de qualidade foram analisadas simultaneamente, apenas 22,6% de todas as amostras de colostro apresentaram contagem de enterobactérias abaixo de 100.000 UFC/mL e concentração de imunoglobulinas superior a 50 mg/mL (Figura 1). Assim, 77,4% dos bezerros nas regiões estudadas estão propensos a sofrerem falhas na transferência de imunidade passiva. Nos Estados Unidos, Morrill et al. (2012), encontraram que apenas 39,4% das 593 amostras de colostro atendiam ambas recomendações da indústria para a qualidade do colostro. Tais resultados evidenciam a necessidade de atenção as práticas de gestão voltadas ao manejo da matriz, nas últimas semanas antes do parto, bem como, de treinamento e conscientização do funcionário que ordenha, armazena e oferece o colostro aos bezerros recém-nascidos.

Figura 1 – Qualidade nutricional e microbiológica em amostras de colostro em função da região das amostras (A) e escala de produção (B) das propriedades.


Quase metade das amostras nas propriedades com produção superior a 700 L/dia apresentaram a concentração adequada de imunoglobulina, porém com parâmetros microbiológicos inadequados (Figura 1). Quando as amostras foram separadas por região, observa-se que na região de São Paulo 4 em cada 10 amostras apresentam concentração adequada de Ig, porém a contaminação microbiana excede 100.000 UFC/mL. Já em Minas Gerais, quase 40% das amostras de colostro estão com a qualidade nutricional e microbiológica fora da recomendação da indústria. Assim, constata-se que grande parte de bezerras passam por problemas devido à falta de cuidados higiênicos relacionados a manipulação do colostro. Todos esses fatores terão impacto negativo no fluxo de caixa do sistema de produção, através de aumento nas despesas com medicamentos, mão-de-obra, aumento na duração das fases de aleitamento e pós-aleitamento e ainda, aumentando a mortalidade.

Práticas de manejo direcionadas a obtenção de colostro de boa qualidade, como cuidados com a vaca gestante, fornecimento de dieta adequada e tempo para a colheita do colostro devem ser prioridades em sistemas de produção de leite, uma vez que apenas 48,4% das amostras de colostro apresentam concentração de imunoglobulina superior a 50 mg/mL. Além dos aspectos nutricionais, cuidados com a higienização da colheita e armazenamento também merecem atenção, pois 24% das amostras de colostro estão foram dos parâmetros de qualidade microbiana. Analisados simultaneamente, qualidade nutricional e microbiológica, apenas 22,6% das amostras de colostro atendem a recomendação de qualidade. Portanto, grande parte dos bezerros nesta área de estudo está propensa a apresentar falhas na transferência de imunidade passiva e exposta a patógenos quando alimentados com colostro bovino materno.

Referências bibliográficas

BIELMANN, V., GILLAN, J., PERKINS, N. R., SKIDMORE, A. L., GODDEN, S., LESLIE, K. E. 2010. An evaluation of Brix refractometry instruments for measurement of colostrum quality in dairy cattle. J. Dairy Sci. 93:3713–3721.

GODDEN, S. Colostrum management for dairy calves. Vet. Clin. North Am. Food Anim. Pract. 24:19–39. 2008.

KEHOE, S. I.; JAYARAO, B. M.; HEINRICHS, E A. J. A Survey of Bovine Colostrum Composition and Colostrum Management Practices on Pennsylvania Dairy Farms. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 90, p. 4108-4116, 2007.

MORRILL, K. M.; CONRAD, E.; LAGO, A.; CAMPBELL, J.; QUIGLEY, J.; e TYLER, H. Nationwide evaluation of quality and composition of colostrum on dairy farms in the United States. Journal of Dairy Science, Champaign, v.95, P.3997-4005, 2012.
 

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 11/02/2016

Abrahão,

o colostro pode permanecer refrigerado por uns 3 dias e congelado por até um ano sem que ocorra redução na sua qualidade. Mas, como você mesmo mencionou, os cuidados de higiene na ordenha e no armazenamento são de extrema importância. O tempo para congelamento também altera a qualidade do colostro, podendo haver aumento na contagem de microrganismos.

Carla
ABRAHÃO GOMES DE HOLANDA

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL

EM 05/02/2016

Há algumas perdas de imunoglobulina ao congelar o colostro recém obtido da ordenha?

Ele se conserva íntegro por quanto tempo?Há muitos produtores desinformados e fazem esse processo de forma intempestiva,desde da ordenha até o envazamento em condições

higiênicas precárias e quando vão utilizá-lo não conhecem as alterações intestinais dos recém-nascidos .Administram esse material apenas como alimento.

Os produtores em geral não são bem informados de muitos benefícios técnicos que estão engavetados em diversas instituições pública do país.Eu como técnico não perco oportu-

nidades  de divulgar para as pessoas interessadas.
CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 04/02/2016

Abrahão, você pode fazer este manejo desde que tenha primeiro garantido o consumo mínimo de colostro de alta qualidade e no tempo adequado para adequada transfer~encia de imunidade passiva! Se o manejo geral da fazenda permitir, pode deixar o bezerro com a mãe mais algum tempo, quanto mais colostro ele consumir, melhor! Mas, primeiro ofereça volume conhecido de colostro de alta qualidade.

Abs., Carla
CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 04/02/2016

Dario, meu e-mail é carlabittar@usp.br
CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 04/02/2016

Leonardo, nosso entendimento é de que quanto maior a produção diária da propriedade, maior a tecnificação, o que resulta em melhor qualidade do colostro.

Abs., Carla
SERGIO CHAVEZ

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 02/02/2016

Un articulo interesante y util. Debemos recordar que asegurar un ternero es darle calostro, aunque sea con una mamadera en las primeras horas de nacido, porques es cuando los intestinos absorven la IG facilmente y forman sus primeras defensas. Tambien podemos conservar calostro en freezer para usarlo en la cria de terneros, cuando se presentan algunos problemas de salud.
ABRAHÃO GOMES DE HOLANDA

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL

EM 02/02/2016

Excelente estudo.Gostaria de saber se a sobra do o colostro deixado na glândula mamária

para livre aleitamento( ato de mamar) pelo menos durante 24 horas ,mãe e filho juntos é

saudável para ambos ?Sabe-se que a presença da mãe traz  vários beneficio para eles.

Pela experiência vivida com vacas girolanda  verificamos uma frequência elevada no n°

de mamadas ,de até 20 vezes ao dia.
DARIO

PESQUISA/ENSINO

EM 01/02/2016

De que manera me podría poner en contacto con los autores del artículo? Gracias.
NEWTON JODAS GONÇALVES

TAPEJARA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/02/2016

Muito pontual o artigo.Parabéns!Poderia receber material sobre a forma de realizar um banco de colostro?
LEONARDO GUIMARÃES SILVA

PONTES E LACERDA - MATO GROSSO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/02/2016

Professor Carla, parabéns pelo trabalho!

Gostaria de saber, a que a senhora atribui esta diferença entre os grupos de fazendas, tendo o grupo acima de 700L com melhores índices, com relação a UFC e IgG.

Att.

Leonardo Guimarães
JESSYCA CAROLINE ROCHA RIBAS

PONTA GROSSA - PARANÁ - ESTUDANTE

EM 30/01/2016

Muito interessante a pesquisa!!!

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