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Nutrição e manejo de bezerras leiteiras: resultados mais recentes de pesquisa

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

CARLA BITTAR

EM 17/07/2018

9 MIN DE LEITURA

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Todos os anos, mais de 2 mil pesquisadores na área de gado leiteiro se reúnem para apresentar e discutir resultados de pesquisa no maior congresso mundial na área: a reunião anual da American Dairy Science Association. Ano a ano vemos aumentar o número de pesquisadores com animais em crescimento, o que no passado não muito distante, era visto como uma pesquisa de menor valor. Da mesma forma, aumentaram o número de trabalhos nas mais diferentes áreas que compõem esse grande desafio dentro de uma propriedade leiteira: colostragem, composição da dieta líquida e sólida, métodos de fornecimento e programas alimentares, saúde, alojamento e bem-estar, comportamento animal, entre outros. Neste radar apresento alguns resultados interessantes.

Um dos tópicos mais estudados é sem dúvida a colostragem, não só por seus efeitos imediatos na sobrevivência, saúde e desempenho dos recém-nascidos, mas também por seus efeitos de longo prazo, com possibilidade de aumentar a produção de leite futura do animal. Reiff e colaboradores, da Cornell University, conduziram pesquisa para entender se considerar somente a concentração de IgG seria suficiente do ponto de vista fisiológico para um programa de colostragem. A pesquisa se baseou no fato de que a tomada de decisão para fornecimento de colostro tem sido cada vez mais feita com base na ideia do “colostro bom” e do “colostro ruim”. Recentemente, o uso de refratômetro de Brix tem sido utilizado largamente não só nos EUA, mas também no Brasil, como uma ferramenta simples para avaliar a qualidade do colostro, de forma que valores <22% brix não são recomendados para as fêmeas.

O objetivo dos pesquisadores foi determinar a relação entre o volume de colostro produzido, brix, proteína total e IgG no colostro, e investigar a influência de lipídeos nas leituras de Brix. As amostras obtidas foram provenientes de vacas em tempos diferentes pós-parto (+1, +4, +12, +20, +28 h) e a descrição dos resultados se encontra na Tabela 1.

Tabela 1. Avaliação do colostro de acordo com a paridade do animal.

Os teores de proteína total variaram entre as amostras (−2,43 g/L ± 23,97 g/L), mas não foram alterados quando os lipídeos foram retirados por centrifugação. Os autores analisaram as concentrações de IgG e concluíram que ajustar o volume de colostro a ser fornecido para os bezerros para o consumo adequado de IgG seria mais adequado do ponto de vista fisiológico para a adequada transferência de imunidade passiva. Talvez manter volumes fixados no peso corporal do animal considerando “colostro bom” possa não ser tão adequado, uma vez que temos uma faixa bastante larga daquilo que é considerado como de alta qualidade (>50 g/L).

Outro aspecto sempre muito estudado e ainda com muito a ser entendido é o processo de desaleitamento. Neave e colegas da University of British Columbia, um reconhecido grupo que trabalha com comportamento animal, estudou diferenças individuais no processo de desaleitamento. O objetivo principal do estudo foi associar medidas como vigor ao nascer, habilidade para aprendizado e a personalidade de bezerros (acreditem, temos como avaliar isso!) com o tempo para o desaleitamento, o ganho de peso e consumo de concentrado.

Os bezerros foram avaliados quanto ao escore de vitalidade (escore 1–10), reflexo para mamar (escore 1–4) e consumo de leite na primeira alimentação e durante a primeira semana. Os animais foram então agrupados em baias e foi anotado o ‘número de assistências para aprender a mamar’ do aleitador, sendo fornecidos 12L/d até os 30 dias. O volume foi reduzido em 25% do volume consumido nos últimos 3 dias e depois em 25% para cada consumo de concentrado alvo atingido: 225 e 675 g/d, sendo os bezerros completamente desaleitados quando alcançavam consumo de concentrado de 1300 g/d.  Assim, a velocidade de aumento no consumo de concentrado, bastante variável entre indivíduos, era o fator de desaleitamento dos animais. Uma análise de componentes principais identificou cinco fatores que explicaram 68% da variação entre os animais, descrito na Tabela 2.  

Tabela 2. Fatores associados com desempenho dos bezerros.

Os resultados da pesquisa sugerem que medidas no início da vida dos animais de vitalidade/vigor estão associadas com o consumo de alimentos e GPD durante o período de aleitamento e que bezerros com risco de atraso no processo podem ser identificados pelo baixo consumo de leite e habilidade de aprendizado.

Outro pôster foi apresentado com continuação deste estudo, agora apresentado por Benetton e colaboradores. O objetivo dos autores foi avaliar o comportamento ingestivo e desempenho de bezerros desaleitados de acordo com seu consumo de concentrado ou em um programa step-down baseado na idade dos animais. Os animais foram aleitados com 12L/d até os 30 dias de idade.

Aos 31 dias, os bezerros no step-down tiveram redução gradual (5d) de oferta para 6L/d, o que foi mantido até os 63 dias, quando o volume foi gradualmente reduzido até que aos 70 dias os animais estivessem completamente desaleitados.

Já os animais com desaleitamento de acordo com o consumo de concentrado, aos 31 dias tiveram redução para 75% do seu consumo nos 3 dias anteriores. O leite foi então reduzido em 25% quando os animais atingiram consumo de concentrado de 225g/d; e mais 25% quando o consumo foi de 675g/d, sendo terminado quando o consumo foi de 1300g/d.

Não houve diferença com relação ao desempenho de bezerros desaleitados de forma diferente quando se avaliou o período total. No entanto, bezerros desaleitados com base no consumo de concentrado consumiram menos leite no período (123 ± 15,2 L) e mais concentrado (47 ± 8,9 kg) quando comparados aos animais desaleitados pelo step-down.

Os animais desaleitados de acordo com o consumo tenderam a ganhar mais peso (1,1 ± 0,1 vs 0,7 ± 0,1 kg/d) durante o aleitamento, mas não houve diferença no período seguinte. Durante o período de desaleitamento, os animais no desaleitamento por consumo apresentaram menor consumo de leite (5,0 ± 0,2 vs 2,0 ± 0,2 L/d), mas maior consumo de concentrado (1.5 ± 0.1 vs 0.6 ± 0.1 kg/d). No entanto, neste mesmo período, os bezerros no desaleitamento por consumo tiveram maior número de visitas não recompensadas ao aleitador (12,4 ± 1,6 vs 6,4 ± 1,2 visitas/d). Estes resultados sugerem que bezerros desaleitados com base no consumo de concentrado consomem menos leite e mais concentrado, mas manifestam mais sinais de fome durante o período de desaleitamento.

O comportamento dos animais também tem sido utilizado como forma de diagnosticar mais precocemente problemas de saúde em bezerros leiteiros. Esse aspecto foi estudado por um grupo da Universitat Autònoma de Barcelona e publicado por Belaid. Os pesquisadores avaliaram um total de 325 bezerros (30 a 90d), nos quais foi colocado sistema de pedômetro para medir o número de passos, tempo deitado, tempo em pé, mudança de posição de deitado para em pé, e acesso ao cocho (número de vezes e tempo de acesso). A incidência de doenças, tempo para desaleitamento e tratamento preventivo foram anotados. Em média, os animais passaram 16,3h/d deitados, 4,7h/d em pé, mudaram de posição de 19,3 vezes/d e deram 1.468 passos/d.

Os bezerros visitaram o cocho 10,4 vezes/d, onde gastaram 3h/d (média de 17,3 min/visita). Bezerros doentes (n=24, 80% doenças respiratórias) passaram mais tempo deitados (+5%), menos tempo comendo (−5%) e deram menos passos (−5%) durante 3 a 4 dias antes de serem diagnosticados. Essas mudanças no comportamento permitem predizer a ocorrência de doenças com 73% de acurácia, 3 dias antes do diagnóstico. Ainda, o desaleitamento aumentou o tempo dos animais se alimentando (+15%), o número de visitas ao cocho (+13%) e o número de passos (+7%).

Os tratamentos preventivos reduziram o tempo se alimentando (-20%), o número de visitas ao cocho (−5%) e o número de passos (−11%), mas aumentou o número de mudanças de posição (+9%). Esses últimos resultados devem ser considerados na interpretação evitando-se falso alarme. O monitoramento de bezerros com pedômetros pode auxiliar na predição da ocorrência de doenças antes da manifestação dos sintomas. Embora seja pouco provável que num futuro próximo muitas fazendas possam utilizar esta tecnologia, este trabalho mostra que conhecer e entender o comportamento de bezerros tem grandes impactos na eficiência do sistema. Tratadores bem treinados e com visão crítica e apurada sobre com comportamento dos animais podem reduzir os impactos negativos da ocorrência de doenças no desempenho animal assim como no custo com medicamentos e mão de obra.

Uma interessante meta-análise foi apresentada por Ceh e colaboradores da Virginia Polytechnic Institute and State University, sobre como o desenvolvimento ruminal, independentemente do efeito da dieta, afeta o desempenho de bezerros. Os autores garimparam resultados de pesquisa publicados e chegaram a um grande banco de dados com 146 tratamentos avaliados em 36 experimentos com bezerros leiteiros.

O objetivo foi gerar equações que relacionassem fatores ruminais (pH, peso de retículo-rúmen e área papilar) e não-ruminais (composição da dieta, alojamento) com o desempenho de bezerros. As equações de regressão múltiplas geradas mostraram associação positiva do ganho de peso diário (GPD) com peso corporal final, desaleitamento e consumo de concentrado. Por outro lado, o GPD foi negativamente associado com a idade do bezerro, bezerros da raça Holandesa e peso inicial. O consumo de forragem foi negativamente associado com a % da dieta fornecida como concentrado ou sucedâneo, ou seja, quanto maior o volume de dieta líquida e concentrado a disposição, menor é o consumo de forragem.

O consumo de concentrado foi positivamente correlacionando com seu teor de FDA, com concentrados peletizados e dietas compostas de concentrado + forragem, mostrando a importância destes fatores para a saúde ruminal. O consumo de sucedâneo foi negativamente associado com a % da dieta representada por concentrado e também com o pH ruminal.

O trabalho mostrou que embora fatores da dieta e do ambiente estejam fortemente associados com o desempenho animal, os fatores ruminais têm efeitos adicionais no desempenho. Concentrados bem formulados, que auxiliem na manutenção da saúde ruminal, associados ao adequado programa de aleitamento, têm grandes efeitos no ganho de peso durante o período de aleitamento e na fase subsequente. Esta é uma área ainda com grande demanda de informação.

No próximo radar vamos mostrar os resultados apresentados sobre a composição destes concentrados. Não deixe de acompanhar!

Referências bibliográficas

(Abstracts of the 2018 American Dairy Science Association® Annual Meeting June 24–27, 2018 Knoxville, Tennessee).

Belaid, M. A., M. Rodriguez-Prado1, D. V. RodriguezPrado2, E. Chevaux3, and S. Calsamiglia1Using behavior as an early predictor of calf’s health disorder., 1Animal Nutrition and Welfare Service, Department of Animal and Food Sciences, , Bellaterra, Spain, 2Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, Spain, 3Lallemand Animal Nutrition, Blagnac, France.

Ceh, C. A., R. R. White, and K. M. Daniels,Ruminal, diet, and environmental factors that affect dairy calf performance. Virginia Polytechnic Institute and State University, Blacksburg, VA.

Neave, H. W., J. Benetton, J. H. C. Costa, D. M. Weary, and M. A. G. von Keyserlingk. Individual differences in responses to weaning in dairy calves, University of British Columbia, Vancouver, BC, Canada.

Neave, W., J. H. C. Costa, M. A. G. von Keyserlingk, and D. M. Weary.  Weaning based on starter intake: Effects on weight gain and behavior. J. Benetton, H. University of British Columbia, Vancouver, BC, Canada.

Reiff, O. M., K. M. Schalich, L. Furman, and V. Selvaraj. Does considering immunoglobulin G concentration alone constitute a physiology-based colostrum management program?, Cornell University, Ithaca, NY.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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TIAGO JOSE DE FRANÇA RAMOS

LONDRINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 10/09/2018

Quanto de PB/NDT tinha o concentrado oferecido as bezerras nesse experimento ? Farelado o Peleletizado ?
ROSANE

SEROPEDICA - RIO DE JANEIRO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/08/2018

Gostei muito deste artigo, dando ênfase aos pontos importantes e que ainda precisam ser estudados na criação de bezerros jovens.
VANESSA PILLON DOS SANTOS

MARÍLIA - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 06/08/2018

Muito bom esse radar! Prof. Carla e alunos sempre com textos de fácil aplicação no campo!

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