A principal desvantagem do uso de baldes é a necessidade de treinamento dos bezerros. Além disso, em sistemas onde os animais são criados em baias ou piquetes coletivos o fornecimento da dieta líquida é dificultado. Nestes casos, o uso de canzil ou mesmo a contenção individual dos animais é necessária de forma a garantir o aleitamento de todos os indivíduos. No entanto, a grande vantagem é a facilidade de limpeza, o que está intimamente ligado a freqüência de diarreia no bezerreiro e, consequentemente, ao desempenho animal.
Independentemente do tipo de utensílio utilizado para o aleitamento, fornecer dieta líquida para um grande número de animais é uma tarefa laboriosa e demorada, de forma que tentativas de automatização tem aparecido no mercado, inclusive nacional. O alimentador automático, que pode ou não ter o fornecimento de concentrado acoplado, é normalmente provido de um único bico, sendo o sucedâneo liberado depois da identificação do bezerro por sistema eletrônico. Esse tratamento individual permite que animais de um mesmo lote tenham programas de alimentação diferenciados. O uso do aleitador automático permite que animais em programas de alimentação intensiva realizem um maior número de refeições, reproduzindo o comportamento natural de alimentação e, provavelmente, apresentando melhor nível de bem-estar. Por outro lado, no caso do uso de baldes, o maior número de alimentações aumenta o custo com mão-de-obra, devido ao maior tempo investido no preparo e fornecimento da dieta líquida e depois na lavagem dos baldes.
O emprego do aleitamento coletivo, sem alimentador automático, mas com containeres com bicos de mamadeira (Figura 1), é muito comum na Nova Zelândia e tem crescido no Brasil. Embora este sistema reduza de forma marcante o tempo gasto com o aleitamento, reduzindo custos com mão-de-obra, requer atenção especial para a formação de lotes homogêneos do ponto de vista de peso e tamanho dos animais, reduzindo problemas de dominância. Da mesma forma, é importante que o número de bezerros no lote seja menor que o número de bicos disponíveis, reduzindo problemas de dominância.
Figura 1. Aleitamento coletivo de bezerros leiteiros
Alguns produtores têm insistido em adotar a mamadeira com o argumento de que a goteira esofagiana não se fecha quando o leite é fornecido no balde. Entretanto, vários trabalhos mostram que o fechamento da goteira independe do posicionamento da cabeça do animal. O fechamento ocorre em função de estímulos nervosos, principalmente gustativos, mas também visuais. Um experimento clássico demonstrou que quando o leite é fornecido diretamente no esôfago do animal, a goteira esofagiana se fecha pelo fato do animal estar esperando o fornecimento de leite. Com a idade, este estímulo se perde embora alguns animais ainda em aleitamento também possam perdê-lo. Alguns animais deixam de consumir a dieta líquida pelo ato de sugar, passando a bebê-la, o que é reflexo do não fechamento da goteira. No entanto, estes animais podem ser novamente treinados a fechar a goteira apenas deixando-os mamar com o auxílio do bico de uma mamadeira ou dos dedos do tratador. Isso ocorre mais comumente em animais que tem a dieta líquida fornecida em baldes os quais são colocados na altura do solo. Por isso, muitas vezes somente elevar a altura do balde pode reduzir a ocorrência deste problema.
A temperatura da dieta líquida a ser fornecida deve ser próxima à temperatura corporal do animal, sendo isso mais importante para regiões de clima frio. O fornecimento de leite frio em regiões de clima quente não apresenta problema algum aos bezerros, os quais apresentam mesmo desempenho e incidência de diarreia que animais recebendo leite morno. Entretanto, o consumo de leite apresentando temperatura inferior a 10C pode reduzir a secreção de fluídos e enzimas abomasais e pancreáticas. Por outro lado, em países de clima frio, o fornecimento de leite em temperatura abaixo da temperatura corporal pode resultar em redução no desempenho, visto que o animal gasta energia para elevar a temperatura do leite consumido.
A freqüência de aleitamento foi discutida durante algum tempo, mas com os trabalhos de aleitamento intensivo e resultados de maior bem-estar animal com o aumento no número refeições, esta discussão se esvaziou. Embora a maior parte dos trabalhos não mostre diferenças quanto ao desempenho de animais, a adoção do aleitamento uma vez ao dia exige maior habilidade de manejo, principalmente por que implica em bezerros mais susceptíveis a estresse, infecções e ocorrência de diarreias, especialmente em bezerros que recebem grande quantidade leite.
Em um interessante trabalho de pesquisa, não foram observadas diferenças no desempenho de animais da raça Holandês ou Jersey quando compararam o fornecimento de uma ou duas refeições de sucedâneo em volume correspondente a 10% do peso inicial (Tabela 1). Ainda em relação a maior habilidade de manejo de bezerros, é importante salientar que a ocorrência de diarreia e flutuações no consumo de leite são mais comuns em bezerros que recebem toda a dieta líquida uma única refeição, do que em bezerros que recebem refeições menores e mais freqüentes. Mesmo com algumas vantagens, apenas 0,6% dos produtores americanos aleitam seus bezerros uma vez ao dia e apontam como principal motivo para esta decisão o fato de que o aleitamento em uma única refeição reduz de forma marcante o tempo de permanência com os bezerros. O horário de aleitamento é uma oportunidade para observar e conhecer os animais e, portanto, diagnosticar problemas que possam estar ocorrendo.
Tabela 1. Efeito da frequência de aleitamento no desempenho de bezerros leiteiros
Holandês Jersey
Considerações práticas
1) Baldes, mamadeiras, bibeirões ou equipamentos para aleitamento coletivo podem resultar em desempenho animal semelhantes, desde que bem manejados, principalmente no que se refere a limpeza.
2) A temperatura da dieta líquida deve estar próxima da temperatura corporal. O fornecimento de leite frio (10°C) pode levar à menor secreção de fluidos no trato digestório.
3) A redução na freqüência de aleitamento pode reduzir o custo com mão-de-obra, mas pode resultar em aumentos na freqüência de diarreias e flutuações no consumo.