Em regiões de inverno rigoroso, os bezerros muitas vezes recebem água fria porque a água potável é bombeada de poço e servida sem aquecimento. O efeito da temperatura da água na saúde e desempenho de bezerros tem sido pouco estudado, embora em algumas regiões até do Brasil já se tenha a recomendação de fornecimento de água morna. Sabe-se que em ambiente quente, resfriar a água oferecida para as vacas pode ser interessante, enquanto que para vacas de alta produção em ambiente frio, fornecer água morna pode ser vantajoso.
Um interessante estudo foi realizado com vacas leiteiras recebendo água com diferentes temperaturas (3, 10, 17 e 24ºC) com o objetivo de avaliar a ingestão de água, consumo de alimentos e produção de leite. O trabalho mostrou que o fornecimento de água a 3ºC resulta em redução na produção de leite, comparado com todos os outros tratamentos. Embora o consumo de água morna (30 a 33ºC) tenha sido superior ao observado com o fornecimento de água à temperatura ambiente em regiões frias (7 a 15ºC), este não resultou em aumentos na produção.
Por outro lado, poucas informações estão disponíveis sobre o efeito da temperatura da água oferecida para bezerros leiteiros. Deste modo, uma pesquisa foi realizada na Finlândia, um país de clima frio, com o objetivo de avaliar o efeito da temperatura da água fornecida na ingestão total de água, desempenho e saúde de bezerros leiteiros.
O trabalho foi realizado com 120 bezerros machos alojados em galpão fechado, com temperatura ambiente variando entre 11 a 20ºC no inverno e 15 a 23ºC no verão, algo próximo ao que observamos em algumas regiões do Brasil. Os animais tiveram livre acesso a água, concentrado inicial, silagem de capim e feno, e receberam sucedâneo lácteo por alimentador automático (7,5 L/d) durante os primeiros 75 dias de vida. Após o desaleitamento os animais receberam silagem de capim e feno a vontade, além de concentrado inicial restrito a 3 kg/d. Os animais foram separados em dois grupos de acordo com a temperatura da água fornecida: 1) água aquecida (16 a 18ºC); e 2) água fria (6 a 8ºC). A temperatura da água fria está de relacionada à temperatura ambiente da água na Finlândia; enquanto a temperatura da água aquecida foi definida considerando-se os resultados de estudos que mostram que esta temperatura estimula a ingestão de água, aumentando consequentemente o ganho de peso dos animais.
Os resultados mostraram que durante a fase de aleitamento a ingestão de água por animais que receberam água aquecida foi 47% maior que a dos bezerros que receberam água fria. Como ilustrado na Figura 1, durante o aleitamento o consumo de água foi menor que 2 L/d, sendo a ingestão aumentada rapidamente em ambos os tratamentos após o desaleitamento. Nesta fase houve uma tendência para maior consumo de água por animais recebendo água morna.
Figura 1. Ingestão diária de água aquecida (16 a 18ºC) ou fria (6 a 8ºC) de bezerros leiteiros.
Muito embora os animais recebendo água morna tenham apresentado maior ingestão de água, não houve diferença para as médias de consumo de concentrado inicial ou ganho de peso durante o período de aleitamento e pós-desaleitamento (Tabela 1).
Tabela 1. Ingestão de água, consumo da dieta, ganho de peso e concentração de IgG em bezerros leiteiros recebendo água aquecida (16 a 18ºC) ou água fria (6 a 8ºC).
A concentração de IgG não diferiu entre os tratamentos, quando avaliada aos 60 e 120 dias de idade. O estado imunológico dos bezerros foi avaliado porque pode ser usado como índice de estresse e suscetibilidade a doenças. Neste trabalho, não houve efeito da temperatura da água fornecida na saúde ou imunidade dos animais, de forma que não existe nenhuma evidência de que a ingestão de água fria (6 a 8ºC) seja um risco a saúde de bezerros leiteiros.
No entanto, 33% dos animais receberam pelo menos uma vez tratamento veterinário, sendo 16 bezerros do tratamento água fria e 23 bezerros do tratamento água aquecida. Mas, segundo os autores, a alta porcentagem de animais recebendo tratamento veterinário nesta pesquisa está relacionada com o reagrupamento de animais jovens e provenientes de diferentes fazendas.
Deste modo, foi concluído que o consumo de água por bezerros é maior quando a água é aquecida, comparado com a água oferecida fria durante o período de aleitamento, mas este aumento na ingestão de água não influencia nenhuma medida de consumo ou parâmetros de desempenho e saúde.
Referência
HUUSKONEN,A.; TUOMISTO, L.; KAUPPINEN, R. Effect of drinking water temperature on water intake and performance of dairy calves. Journal of Dairy Science, v.94, p.2475-2480, 2011.
Comentários
Já temos uma sinalização de que o fornecimento de água aquecida vem sendo adotado como prática por produtores brasileiros. O trabalho realizado na Finlândia mostra que os animais consomem mais água quando esta é fornecida morna (16-18°C) em comparação a água a temperatura ambiente (6-8°C), sem que isso resulte em aumento no ganho de peso dos animais. Um dado interessante também é que o fornecimento de água fria não resultou em maiores problemas de saúde, como atestam alguns técnicos. No entanto, há de se considerar que em países mais frios, tanto o sucedâneo quanto a dieta sólida são formulados com maior densidade energética, uma vez que o animal tem aumento de exigência devido ao maior esforço para a termorregulação. Assim, é possível que sim, em algumas regiões frias do país, onde a densidade energética não é aumentada nas épocas de menor temperatura ambiente, que os animais se beneficiem do fornecimento de água morna, não só em termos de ingestão total de água, como também de consumo de concentrado inicial e ganho de peso.