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Efeito da adição de melaço em rações iniciais texturizadas no desenvolvimento do rúmen e desempenho de bezerros leiteiros

CARLA BITTAR

EM 16/08/2005

11 MIN DE LEITURA

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Carla Maris Bittar Nussio1

O melaço líquido é comumente utilizado em rações iniciais para bezerros leiteiros para aumento na palatabilidade, redução de pó (finos) e redução na separação de partículas. A faixa de inclusão do melaço varia normalmente entre 5 a 12% da matéria seca. Dados de consumo, desempenho e parâmetros ruminais sugerem que a adição de melaço em rações pode afetar o desenvolvimento do rúmen e o crescimento de bezerros.

Em animais adultos, a inclusão de 10-20% de melaço em rações com alta proporção de forragem aumenta tanto o consumo de matéria seca quanto de matéria original. Por outro lado, em rações ricas em concentrado, rações contendo forragens de alta qualidade ou em situações onde o concentrado e o volumoso são fornecidos separadamente, a inclusão de melaço reduz o consumo de matéria seca em vacas leiteiras. Estes dados sugerem que a qualidade da dieta influencia a alteração observada no consumo com a adição de melaço.

Entretanto, a influência do nível de inclusão de melaço líquido em rações iniciais de bezerros ainda não foi muito estudada. A inclusão de melaço líquido resultou em aumento no ganho de peso de bovinos de corte em crescimento, sendo o aumento no consumo e melhoria na utilização de nitrogênio da dieta as possíveis causas para este efeito (Brown & Johnson, 1991).

O aumento na energia da ração, com a inclusão de melaço, geralmente aumenta a eficiência alimentar em ruminantes adultos. Entretanto, estes resultados com rações com alta proporção de forragens têm baixa aplicação no que diz respeito à alimentação de bezerros leiteiros. Por outro lado, a inclusão de melaço em rações de alta energia para vacas leiteiras tem reduzido a eficiência alimentar, possivelmente devido à redução na digestibilidade da energia ou na sua eficiência de utilização.

Já na década de 60, trabalhos demostraram que a sacarose ou o melaço podem aumentar de maneira moderada a produção ruminal de ácido butírico. A possibilidade de aumento na produção de ácido butírico através da suplementação de melaço é muito interessante devido à ação deste ácido no desenvolvimento do rúmen de bezerros. Assim, Lesmeister e Heinrichs (2005) conduziram estudo com objetivo de determinar os efeitos da adição extra de melaço na forma física da ração inicial, no desenvolvimento do rúmen e no desempenho de bezerros leiteiros.

O estudo comparou rações iniciais contendo 5 ou 12% de melaço de cana, como percentagem da matéria seca. Quarenta e seis bezerros (20 fêmeas e 26 machos) foram utilizados a partir do 3º dia até a 6ª semana de vida, sendo alojados em baias individuais. Todos os bezerros receberam 4L de colostro dentro de um período de 12h do nascimento, sendo fornecidas mais 4 refeições de colostro. Após o período de fornecimento de colostro os animais passaram a receber substituto de leite (20% PB e 20% gordura, não medicado) na quantidade de 10% do peso vivo, até o desaleitamento, o qual ocorreu de maneira abrupta aos 28 dias de idade. A ração inicial foi oferecida à vontade e o consumo foi mensurado diariamente. Os bezerros tiveram acesso livre à água, a qual foi trocada duas vezes ao dia.

Semanalmente foram realizadas medidas de peso vivo para acompanhamento do crescimento dos animais. Também semanalmente foram colhidas amostras de sangue, 4 horas após a alimentação da manhã para análises de hematócritos, proteína total plasmática, uréia plasmática (semanas 0 a 6), B-hidroxibutirato (semanas 3 a 6) e ácidos graxos voláteis plasmáticos (semanas 4 e 5).

Para avaliação de comprimento e largura de papilas, além de espessura da parede ruminal, foram utilizados 3 bezerros de cada tratamento, os quais foram abatidos. O trato digestório foi separado, esvaziado e lavado com água para que fossem realizadas colheitas de amostras do rúmen para as referidas medidas.

A tabela 1 apresenta a composição de ingredientes e nutrientes, além da distribuição de tamanho de partículas das rações iniciais contendo 5 ou 12% de melaço. A adição extra de melaço (12% MS) reduziu a porcentagem de partículas pequenas ou finas. O melaço tem sido utilizado para unir ingredientes com reduzido tamanho de partícula, especialmente durante o processo de peletização. A redução de partículas finas em rações para bezerros ajuda a prevenir casos de paraqueratose ruminal. Entretanto, devido à inclusão de ingredientes peletizados nas rações iniciais de bezerros e do fato da determinação de tamanho de partícula ser realizado em amostras secas, diferenças observadas na distribuição do tamanho de partícula nas amostras secas podem não se repetir no ambiente ruminal, o qual tem alto conteúdo em água.

A adição extra de melaço resultou em uma pequena redução na concentração de proteína bruta e um aumento significativo nas concentrações de açúcar e potássio. Aumentos nas concentrações de açúcar e potássio eram esperadas devido aos altos teores destes nutrientes no melaço (NRC, 2001). Embora os teores de potássio de ambos tratamentos sejam superiores aos recomendados para bezerros, Neathery et al. (1980) não observou efeitos negativos no consumo ou desempenho de bezerros recebendo rações com até 2% de potássio.

Tabela 1. Composição de ingredientes e nutrientes e distribuição de tamanho de partícula das rações iniciais texturizadas contendo 5 ou 12% de melaço.

 


1 Erro padrão da média

A Tabela 2 apresenta os dados de desempenho de bezerros recebendo rações iniciais texturizadas contendo 5 ou 12% de melaço. Não foram observados efeitos significantes dos tratamentos no ganho de peso diário, consumo de ração inicial e eficiência alimentar durante o período de aleitamento. Entretanto, o consumo total de ração tendeu a ser maior para bezerros recebendo a ração contendo 5% de melaço durante o período de aleitamento. Peso inicial e ganhos de peso diários similares durante o período de aleitamento resultaram em peso vivo ao desaleitamento também similares. Após o desaleitamento, o consumo de concentrado foi significativamente maior para bezerros recebendo a ração contendo 5% de melaço; entretanto, este maior consumo não resultou em diferenças no ganho de peso diário ou na eficiência alimentar. Durante todo o período experimental observou-se maior consumo total de matéria seca e de ração inicial para bezerros recebendo ração contendo 5% de melaço, além de tendência para maior ganho de peso diário. Entretanto, peso vivo final e eficiência alimentar durante todo o período experimental não foram afetados pelos tratamentos.

Tabela 2. Desempenho de bezerros recebendo ração inicial texturizada contendo 5 ou 12% de melaço.

 

1 Erro padrão da média
2 kg de alimento/kg de ganho
a,b Médias na mesma linha com letras diferentes diferem com P<0.05
y,z Médias na mesma linha com letras diferentes diferem com P<0.15 mas > 0.05

A inclusão de melaço em rações de alta qualidade, quando concentrados e forragens foram fornecidos separadamente, ou em inclusões superiores a 20% têm resultado em redução no consumo em vacas leiteiras. Adicionalmente, em inclusões superiores a 10% têm sido reportadas reduções na digestibilidade da matéria seca ou da fração fibra, possivelmente devido a substituição de substrato para microrganismos ruminais com preferência para carboidratos solúveis. Assim, a redução na digestibilidade da dieta pode ter reduzido a taxa de passagem, limitando assim o consumo em animais recebendo ração contendo 20% de melaço. Entretanto, os dois tratamentos aplicados neste estudo tinham baixo nível de fibra e alta concentração de carboidratos. Este fato pode sustentar o efeito negativo-associativo entre melaço e rações de alta qualidade no consumo, mas não uma substituição de substrato como responsável por este efeito. De maneira alternativa, um aumento na concentração de açúcar em resposta a maior inclusão de melaço pode explicar diferenças entre tratamentos observadas no consumo de concentrado inicial. O consumo de açúcar durante o período por aleitamento ou durante todo o período e experimental foi superior para bezerros recebendo ração com maior teor de melaço. Assim, estes animais devem ter suprido suas exigências energéticas mais rapidamente devido ao maior conteúdo de açúcar na ração contendo 12% de melaço, de forma que o consumo de matéria seca equivalente aos animais recebendo ração com menor teor de melaço não foi necessário. Outra possível causa para o menor consumo de matéria seca observado em bezerros recebendo ração com 12% de melaço pode ter sido a textura desta ração. O maior teor de melaço levou a formação de torrões, o que deve ter afetado a habilidade de preensão deste alimento pelos bezerros, reduzindo assim seu consumo.

Não foram observados efeitos de tratamento nas concentrações plasmáticas de hematócritos, proteína total, N uréico e ?-hidroxibutirato em bezerros recebendo ração inicial texturizada contendo 5 ou 12% de melaço (Tabela 3). A mudança em proteína solúvel não foi grande o suficiente para alterar as concentrações de N uréico plasmático, provavelmente devido ao relativamente baixo consumo de matéria seca observado.

As concentrações plasmáticas de ácidos graxos voláteis totais, acetato, propionato e butirato foram significativamente maiores em bezerros recebendo ração inicial com maior teor de melaço. Maiores concentrações destes ácidos indicam uma maior atividade metabólica do epitélio ruminal ou aumento na produção de ácidos graxos voláteis no rúmen. Entretanto, a relação entre ácidos graxos voláteis circulante e a produção ruminal dos mesmos ainda não foi determinada de forma conclusiva.

Tabela 3. Parâmetros sanguíneos de bezerros recebendo ração inicial texturizada contendo 5 ou 12% de melaço.

 


A tabela 4 apresenta os dados de comprimento largura de papilas e de espessura da parede ruminal. Foi observada uma leve tendência para aumento no comprimento e na largura de papilas de bezerros recebendo ração inicial texturizada contendo maior teor de melaço (12%), mas estas diferenças não foram significativas. Estes valores devem ter se tornado estatisticamente diferente com o avançar da idade dos bezerros; entretanto, estas avaliações foram realizadas na 4a. semana de vida dos animais, possivelmente antes dos tratamentos resultarem em efeitos no que diz respeito ao desenvolvimento do rúmen. Ainda, as concentrações plasmáticas de ?-hidroxibutirato foram numericamente superiores em animais recebendo ração com maior teor de melaço após a 3a. semana de vida, indicando um possível maior metabolismo do epitélio ruminal. A tendência para maior área absortiva no rúmen, aliada a maiores concentrações de ácidos graxos voláteis no plasma observada em bezerros recebendo ração com 12% de melaço, sugere que um aumento na concentração de ácido butírico, também reportado em outros estudos, deve ter ocorrido no presente trabalho. Entretanto, a produção ruminal de ácidos graxos voláteis não foi determinada e o consumo de ração foi reduzido pela maior inclusão de melaço. Assim estas possíveis ocorrências podem não se confirmar em estudos subsequentes.

Tabela 4. Medidas de desenvolvimento ruminal de bezerros com 4 semanas de vida recebendo ração inicial texturizada contendo 5 ou 12% de melaço

 


A adição de 12% de melaço influenciou de forma negativa o consumo de ração inicial ou de matéria seca total. Entretanto, o consumo de açúcar e portanto de energia foi similar entre os tratamentos, mesmo com menor consumo de matéria seca observado para animais recebendo ração com 12% de melaço, resultando em apenas um pequeno decréscimo no ganho de peso diário destes animais. Por outro lado, o aumento significativo nas concentrações de ?-hidroxibutirato e a tendência para o aumento na área absortiva no rúmen pode indicar uma possível vantagem no aumento dos níveis de inclusão de melaço em rações iniciais.

Referências bibliográficas

Brown, W. F., and D. D. Johnson. 1991. Effects of energy and protein supplementation of ammoniated tropical grass hay on the growth and carcass characteristics of cull cows. J. Anim. Sci. 69:348-357.
Lesmeister, K. E., and A. J. Heinrichs. 2005. Effects of Adding Extra Molasses to a Texturized Calf Starter on Rumen Development, Growth Characteristics, and Blood Parameters in Neonatal Dairy Calves. J. Dairy Sci. 88:411-418.
National Research Council. 2001. 7th rev. ed. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. National Academy Press. Washington, DC.
Neathery, M. W., D. G. Pugh, W. J. Miller, R. P. Gentry, and R. H. Whitlock. 1980. Effects of sources and amounts of potassium on feed palatability and on potassium toxicity in dairy calves. J. Dairy Sci. 63:82-85.

Comentários

O presente trabalho demonstra um possível benefício da inclusão de maiores níveis de melaço em rações iniciais para bezerros leiteiros, no que diz respeito ao desenvolvimento do rúmen. Muitos trabalhos têm mostrado que o desenvolvimento de papilas, responsável pela absorção de produtos finais de fermentação, é dependente principalmente da presença de alimentos sólidos no rúmen, e conseqüente produção de ácidos graxos voláteis resultantes de fermentação. Desta forma, o adequado desenvolvimento de papilas é resultado da ação de produtos de fermentação ruminal, além de estímulo físico causado pelo alimento consumido. Dentre os principais AGV produzidos no rúmen, o ácido butírico é o mais importante em relação ao crescimento em número e tamanho de papilas, seguido pelo ácido propiônico; tendo o ácido acético pouca importância. A maior produção desses ácidos graxos voláteis ocorre com a fermentação de alimentos concentrados, com alto teor de carboidratos e proteína. Conforme demonstrado em literatura, a maior inclusão de melaço em rações iniciais pode levar a maior produção de ácido butírico e, portanto estimular o desenvolvimento do rúmen mais precocemente. Entretanto, se a maior inclusão de melaço resultar em redução no consumo de concentrado, podem ocorrer reduções no desempenho animal. Maior número de trabalhos avaliando alta inclusão de melaço em rações iniciais é necessário para melhor avaliação de seu benefício no desempenho e no desenvolvimento do rúmen de bezerros leiteiros.


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1 Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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WANESSA1RODOLFO@GMAIL.COM

CAPÃO BONITO - SÃO PAULO

EM 15/03/2019

utiliza Melaço em Pó O melaço em pó é um subproduto da fabricação do açúcar de cana, é utilizado na produção de bovinos, aves, suínos, ovinos, peixes e caprinos. Na pecuária, o melaço em pó é utilizado como energético, dando aos alimentos mais aroma e palatabilidade.
vc usa a 5% a 1% em uma batelada
WANESSA1RODOLFO@GMAIL.COM

CAPÃO BONITO - SÃO PAULO

EM 15/03/2019

utiliza o melaço em pó ele tem um grande valor energético 5% em cada 1000 kg da batelada
só me chamar
JOSÉ CARLOS AZEVEDO

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/05/2015

A aplicação  do MELAÇO na alimentação de vacas em lactação, iniciando, o período, como devo proceder?

A nossa região durante grande parte de 2014 (out a dez) e nos meses de janeiro e fevereiro/2015, não teve a quantidade de chuvas necessárias para gramíneas e forrageiras

Para enfrentar o outono e inverno tenho que encontrar soluções.  Não tendo a cana de açucar em quantidade razoável para o período, comprei o melaço e não sei precisamente como aplicar o melaço, já adquirido. Se alguém puder me ajudar, agradeço antecipadamente.

José Carlos Azevedo

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