A diarreia pode ter origem infecciosa, onde os agentes Escherichia Coli, Salmonella, Clostridium, Rota e Coranavírus e os Cryptosporidium estão na maioria das vezes presentes. Ou ainda, a origem pode ser não infecciosa, como alterações abruptas na dieta líquida, mudanças climáticas repentinas e outras alterações na rotina diária. Um fator importante para reduzir a incidência e duração da diarreia é a correta colostragem das bezerras, pois quanto maior a transferência de imunidade passiva menor será os danos causados pela enfermidade.
Durante as diarreias os bezerros perdem quantidades consideráveis de água e eletrólitos (sódio, fósforo, potássio, cloro e outros). Assim, a preocupação em repor a água e eletrólitos e eliminar o agente causal são medidas extremamente importantes (Quigley, 1997). O correto diagnóstico e medidas paliativas terão correlação direta com o bom desempenho dos animais durante a fase de aleitamento, já que animais diarreicos reduzem consideravelmente a ingestão de energia, o que causa atraso no desenvolvimento e apatia para combater a infecção.
O tratamento para animais com diarreia, quando diagnosticado no início da enfermidade, se baseia na reidratação com solução oral sem abrir mão das refeições de leite ou sucedâneo lácteo, uma vez que são as principais fontes de energia para o animal nesta fase. A antibioticoterapia pode ser uma alternativa interessante para casos mais agudos da doença. No passado, pensava-se que bezerros com diarreia deveriam ter a dieta líquida interrompida, pois poderia causar mais fermentação e, consequentemente, mais diarreia. No entanto, hoje a recomendação é de não se interromper o fornecimento da dieta líquida uma vez que esta fornece energia para que o animal possa se recuperar e não perder peso.
Assim, um grupo de pesquisadores testou dois regimes alimentares: fornecimento de leite ad libitum e restrito; além de utilizar um produto repositor de eletrólitos via diluição na dieta líquida ou via água (Wenge et al., 2014), sendo então avaliados os seguintes tratamentos:
T1 – Solução de reidratação oral diluída em 2 litros de leite, em 3 refeições diárias (6L de leite/dia);
T2 – Solução de reidratação oral diluída em 2 litros de água, oferecido 2 horas após as três refeições com leite (6L de leite + 6L de solução oral/dia);
T3 - Solução de reidratação oral diluída em 2 litros de água, e fornecimento de leite ad libitum via aleitador automático.
Avaliou-se o consumo de água, de leite e de concentrado, além do ganho de peso de 100 bezerros (54 machos e 46 fêmeas), do segundo ao vigésimo dia de vida.
Durante o período de avaliação, 98% dos animais apresentaram diarreia; somente um bezerro não teve evidência de um patógeno específico; e nenhum animal morreu devido este distúrbio. A diarreia geralmente iniciou-se no oitavo dia de vida, sem apresentar diferença entre os regimes alimentares, com duração média de 5 dias, considerando todos os sistemas de alimentação (Tabela 1).
Tabela 1 – Duração da diarreia, ingestão de leite, energia, fluido total (água + leite) e ganho de peso em bezerros, durante o período de diarreia.
Nos primeiros 21 dias de vida os bezerros consumiram em média 10 e 13g de concentrado, chegando a 20 e 55g na terceira semana de vida dos animais, quando tiveram acesso livre e restrito ao leite, respectivamente. Tal diferença no consumo pode ser pelo fato dos bezerros compensarem a baixa energia via ingestão de leite com a maior ingestão de concentrado, porém, isso pode não ter sucesso nas primeiras semanas de vida devido o incompleto desenvolvimento do rúmen. O consumo de concentrado é reduzido quando animais ingerem altas quantidades de dieta líquida, uma vez que bezerros preferem esta a consumir dieta sólida quando ainda estão com o rúmen em desenvolvimento (de Passillé et al., 2011).
Animais que receberam quantidade restrita de leite apresentaram maior ingestão de água quando comparado aos animais que tiveram acesso livre ao leite (Figura 1), sendo esta diferença de 1,1 x 0,8 L/dia. A relação da ingestão diária de água e ingestão de matéria seca foi de 1,6 L/kg para animais com acesso restrito ao leite e 0,9 L/kg para animais que tiveram acesso ad libitum ao leite. Quando se considerou o total de fluido e não apenas água, essa relação passou para 8,4 e 7,7 L/kg, respectivamente. Quando os animais não têm acesso ad libitum ao leite, buscam a complementação de suas exigências em água através do aumento da ingestão da água de bebida. Sabe-se de décadas atrás da importância do fornecimento de água para bezerros nos primeiros dias de vida, porém em países da Europa por questão de economia de água essa pratica ainda não é realizada. Além do atendimento da exigência em água, a água de bebida é importante para estabelecimento de processos fermentativos no rúmen em desenvolvimento desses animais.
Figura 1. Consumo de água (L) por animais em diferentes regimes alimentares
Devido as maiores perdas de fluido via fezes em bezerros diarreicos, o aumento na ingestão de água é uma consequência, na tentativa que o animal tem de buscar o equilíbrio osmótico e prevenir a desidratação. A ingestão de água foi mais acentuada para o grupo de animais que receberam a solução de reidratação oral diluída no leite, uma vez que receberam uma solução hipertônica aumentando assim, a osmolaridade sanguínea e consequente ingestão de água.
A ingestão diária de leite foi de 9,5 e 5,6 litros para os bezerros que tiveram acesso restrito e livre ao leite, respectivamente, porém esta ingestão foi reduzida em todos os regimes de alimentação, durante o período em que os animais permaneceram com diarreia. Consequentemente, a ingestão de energia também foi reduzida. No grupo que recebeu leite ad libitum, a ingestão de energia antes da diarreia era de 26,2 MJ e passou para 17,3 MJ. A ingestão de leite é reduzida durante este período devido ao menor apetite, porém o estimulo à ingestão de energia neste período pode fornecer uma maior resistência do animal aos patógenos, devido esta melhor alimentação (Figura 2).
Figura 2. Consumo de leite por bezerros em diferentes protocolos de hidratação e alimentação
Bezerros em sistema de aleitamento ad libitum suplementados com a solução oral diluída no leite ganharam 587 g/dia durante o período de diarreia, enquanto animais que receberam 6 litros de leite mais 6 litros da solução de reidratação oral ganharam 474 g/d e ainda, animais que receberam a solução oral diluída no leite o ganho diário foi de 658 g. Neste último grupo, 15% da energia ingerida foi via solução oral, por outro lado, nos animais alimentados ad libitum apenas 5% da energia foi proveniente da solução de reidratação. Esta solução continha glicose como fonte de energia rapidamente disponível, bem como aminoácidos que são diretamente absorvidos no intestino delgado, enquanto leite contém lactose e proteína as quais precisam ser hidrolisadas antes da absorção.
Independente do sistema de alimentação, todos os animais apresentaram diarreia até a terceira semana de vida. Um método simples de fornecer uma solução para reidratação oral é a diluição desta solução no próprio leite, porém os bezerros devem ter acesso à água ad libitum a partir da primeira semana de vida. Fornecer água para bezerros é primordial para que o consumo de concentrado seja iniciado, mas essencial para a boa saúde ou recuperação de animais acometidos por diarreia.
Referência
Wenge, J.; Steinhöfel, I.; Heinrich, C.; Coenen, M.; Bachmann, L. Water and concentrate intake, weight gain and duration of diarrhea in young suckling calves on different diets. Livestock Science, v.159, p. 133-140, 2014.