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Desempenho e saúde de bezerros leiteiros alojados em baias com diferentes materiais utilizados como cama

CARLA BITTAR

EM 20/04/2006

11 MIN DE LEITURA

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Por Carla Maris Bittar 1

Introdução

O uso de material como cama para bezerros pode prover conforto, reduzir risco de doenças e reduzir estresse. Alguns estudos demonstraram que bezerros mantidos em baias com piso ripado e elevado apresentaram maiores concentrações de imunoglobulinas (IgG), quando comparados a bezerros mantidos em baias de piso sólido sem cama. Entretanto, quando estes bezerros completaram 30 dias de idade, a concentração de IgG foi superior para bezerros mantidos sem cama e em piso sólido.

Vários trabalhos foram conduzidos para avaliar a preferência de diversas espécies quanto ao material utilizado como cama. Pôneis preferem se deitar em áreas com serragem e não em piso de concreto sem cama. Vacas em lactação preferem free-stalls com areia ou pó de serra quando comparados a tapetes. Entretanto, a umidade e a temperatura podem afetar o comportamento do animal, a qualidade do material utilizado como cama, e a contagem e tipos de bactérias no material. Por exemplo, vacas em lactação preferem se deitar em baias com areia ao invés de tapetes no verão; entretanto, no inverno tem preferência pelo tapete quando comparado ao pós de serra.

Alguns materiais têm sido utilizados tradicionalmente como cama para bezerros, entre eles a palha ou restos de cultura, o feno de qualidade inadequada para consumo de qualquer categoria animal, areia e serragem. Todos apresentam alto custo, aumentando o custo de criação destes animais.

Mesmo frente à importância do tipo de material utilizado para cama, para manter bezerros limpos, secos, confortáveis e saudáveis, pouca informação se tem disponível sobre os efeitos de diferentes materiais no desempenho e saúde destes animais. Assim, Panivivat et al. (2004) conduziram trabalho com o objetivo de avaliar a utilização de 5 tipos de material utilizados como cama no crescimento, estresse e comportamento de bezerros.

Material e métodos

Aproximadamente 60 bezerras foram alojadas em bezerreiro de 18,3m x 68,6m, em baias individuais (1,2 x 1,8m), com contacto entre bezerros vizinhos impossibilitado pela utilização de placas de madeira. As baias eram providas de balde para água e alimento, os quais eram fixados do lado de fora da baia. Os materiais utilizados com cama foram: 1) areia; 2) finos de granito (resíduo da quebra de granito); 3) casca de arroz; 4) palha de trigo; e 5) serragem. As densidades (kg/m3) do material foram determinadas como sendo 1605 para finos de granito; 1352 para areia; 92,9 para casca de arroz; 69,7 para palha de trigo; e 139,4 para serragem.

Com exceção da palha de trigo, estas densidades foram medidas conforme os materiais foram colocados nas baias para uma camada de 5,1 cm. Para baias cobertas com palha de trigo, este material foi cortado dos fardos em secções de 5,1 cm, sendo o material solto, o que excedeu 5,1 cm no início do estudo. A maciez do material foi medida através de um equipamento utilizado para medir compactação do solo (quanto maior o valor, mais macio o material), sendo realizadas 5 medidas em cada baia antes do alojamento do bezerro. Também antes do alojamento do bezerro, uma amostra do material foi colhida para determinação de matéria seca e poder de absorção.

Aproximadamente 6h após o nascimento, 60 bezerras foram pesadas e passaram por uma série de atividades de manejo como cura do umbigo, vacinações e identificação. Os bezerros foram pesados novamente no dia 1, para estabelecimento do peso médio no início do estudo e então distribuídas ao acaso em um dos 5 tratamentos, resultando em 12 bezerros por tratamento. Os bezerros foram alimentados com substituto de leite duas vezes ao dia, utilizando-se mamadeiras; além de receberem ração concentrada a partir do 3o dia de vida. O consumo de substituto de leite e de ração concentrada foi monitorado diariamente. Amostras de alimento foram colhidas para análise bromatológica.

Os bezerros foram alojados nas baias durante 6 semanas, quando ocorreu o desaleitamento, sem retirada de material utilizado como cama. A cada 15 dias foi determinado um escore para o material, sendo aquele material forçado para os cantos das baias re-espalhado de forma regular, antes da adição de mais material, conforme o escore. O escore da cama foi determinado de acordo com a porcentagem de sua superfície suja ou úmida, numa escala de 1 a 5. Uma camada aproximada de 1,3 cm de material foi adicionada à baia quando o escore foi maior que 3, ou se menos que 50% do material se encontrava na baia, sendo o peso do material adicionado monitorado.

A saúde e o escore de limpeza dos bezerros foram monitorados a partir do dia 1 até o desaleitamento. O escore de fluidez fecal foi determinado utilizando-se a escala de 1 a 4, sendo: 1= fluidez normal; 2= se espalha levemente; 3= se espalha moderadamente; e 4= aquoso (diarréia).

Quando material não estava disponível para avaliação, devido à mistura com material da cama, a medida foi considerada como dado perdido. O escore de limpeza dos bezerros foi realizado de acordo com a seguinte escala: 1= bezerro limpo (sem sujeira na região femoral ou no corpo), sujeira somente na parte final das patas; 2= inserção da cauda e traseiro do bezerro com sujidade; 3= inserção da cauda, região femoral ou pernas sujas de esterco; e 4= inserção da cauda, região femoral e pernas sujas com esterco.

Amostras de sangue foram colhidas, 4 horas após a alimentação, no dia 1, semana 3 e semana 6 de vida, para determinação das concentrações de IgG, cortisol e ?-acido glicoporteina.



Os pesos médios iniciais e finais não foram diferentes entre os tratamentos (Tabela 1). O consumo de matéria seca variou conforme o tipo de material utilizado como cama, devido a alterações no consumo de ração concentrada durante a semana 2. Bezerros alojados em baias com cama de serragem apresentaram menores consumos de concentrado quando comparados a bezerros em baias com finos de granito ou casca de arroz. O ganho de peso vivo médio do período de 0 a 42 dias foi menor do que o recomendado em literatura, independente do tipo de material utilizado como cama, o que pode ser explicado pelo baixo teor de gordura no substituto de leite fornecido.

Foi observada uma interação entre semana e tratamento (P<0,05) para ocorrência de diarréia, definida quando o escore fecal foi menor que 2 (Tabela 2). Bezerros alojados com finos de granito permaneceram com diarréia um maior número de dias quando comparados àqueles alojados com palha de trigo, durante a primeira semana. Durante a semana 2, bezerros alojados com finos de granito e areia apresentaram diarréia durante um maior número de dias que bezerros alojados com outros tipos de cama. Bezerros alojados com palha de trigo tiveram os menores números de dias com diarréia.

Tabela 1. Desempenho de bezerros alojados com diferentes materiais utilizados como cama


Quanto à fluidez fecal, bezerros alojados em casca de arroz, finos de granito e areia tiveram os menos desejáveis (P<0,05) valores de escore fecal, quando comparados a bezerros alojados com serragem ou palha de trigo (Tabela 2). As fezes foram mais visíveis nas camas de finos de granito e areia do que em outros materiais, o que pode ter interferido na determinação dos escores e também no número de tratamentos terapêuticos dos animais.

Os escores foram maiores do que os normalmente observados em outros estudos, ou seja, os animais apresentaram diarréias mais severas. Entretanto, não houve mortes durante o estudo. Os maiores escores foram observados durante a semana 2 (P<0,05), sendo maiores nas semanas 1 e 2 quando comparados às semanas 3 a 6 (Tabela 2).

Os escores de limpeza dos bezerros variaram entre os materiais utilizados como cama (Tabela 2). Os bezerros mais sujos foram aqueles alojados com finos de granito. Esterco foi misturado ou absorvido por casca de arroz, palha de trigo, serragem e areia, enquanto tendeu a ficar na superfície dos finos de granito, uma vez que este se tornou compactado com o uso. A casca de arroz tendeu a aderir ao corpo dos animais mais do que os outros materiais. O corpo dos animais teve aparência de molhado quando estes foram alojados com areia; e apresentou material próximo a inserção da cauda quando alojados com palha de trigo, quando comparado com bezerros alojados com outros materiais. O escore de limpeza dos bezerros variou com o tempo (P<0,05). Os bezerros estiveram mais limpos durante a semana 1 e mais sujos durante a semana 6.

Tabela 2. Dias com diarréia, fluidez fecal e escore de limpeza de bezerros alojados com diferentes materiais utilizados como cama


1 Escore de fluidez fecal usando escala 1= normal e 4= aquoso
2 Escore de limpeza dos bezerros utilizando a escala 1= bezerro limpo; 2= inserção da cauda e traseiro do bezerro com sujidade; 3= inserção da cauda, região femoral ou pernas sujas de esterco; e 4= inserção da cauda, região femoral e pernas sujas com esterco
a, b, c, d, e Médias dentro da categoria sem sobrescirto comum diferem estatisticamente (P<0,05)
m, n Médias na linha sem o mesmo sobrescrito diferem estatisticamente (P<0,05)
x,y,z Médias na coluna sem o mesmo sobrescrito diferem estatisticamente (P<0,05)

As concentrações de IgG foram superiores na sexta semana de vida, mas não foi afetada pelo tipo de material utilizado como cama (Tabela 3). A concentração no dia 1 (958 mg/dL) foi menor do que a recomendada na literatura (1000 mg/dL), o que pode explicar o aumento no escore fecal durante a segunda semana de vida e os menores ganhos de peso observados.

As concentrações de cortisol e a relação entre neutrófilos e linfócitos (N:L) foram índices de estresse que variaram com a semana (P<0,05). As concentrações de cortisol foram as maiores no dia 1 e decresceram na 3a. e 6a. semana de vida, como observado em outros trabalhos. A relação N:L decresceu do dia 1 para a semana 3, mas não diferiu entre a semanas 3 e 6.

As concentrações de ?-ácido glicoproteína é um indicador de doenças e processos inflamatórios. Os valores observados para bezerros recém-nascidos estão de acordo com os reportados na literatura, sendo estes valores reduzidos com a idade do animal. Entretanto, não houve efeito do tipo do material utilizado como cama.

Tabela 3. Variáveis sanguíneas de acordo com a idade de bezerros


O tempo gasto com a própria limpeza (bezerro se lambendo) variou com o tipo de cama utilizado. Bezerros alojados com casca de arroz e areia passaram mais tempo se lambendo do que bezerros alojados com palha de trigo (Figura 1), provavelmente devido ao fato deste material se aderir ao corpo do animal. Entretanto, não houve diferenças quanto ao tempo em pé, se alimentando, bebendo água, conhecendo ambiente ou em contacto com a baia. Por outro lado, estas atividades foram afetadas (P<0,05) pela idade do animal (Tabela 4). O tempo em pé ou deitado foi reduzido, enquanto a percentagem do tempo gasta com alimentação, limpeza própria, conhecimento do ambiente e contacto com a baia foi aumentado com a idade do animal.

Tabela 4. Porcentagem de tempo gasto em diferentes atividades de acordo com a idade dos bezerros.


Conclusões

A taxa de crescimento e a eficiência de bezerros, durante o período de 1 a 42 dias de idade, não foram afetadas pelo tipo de material utilizado como cama. O consumo de matéria seca foi menor para bezerros alojados com serragem durante a segunda semana de vida (P<0,05). O número de bezerros tratados com antibióticos devido a ocorr6encia de diarréia também foi afetado pelo tipo de cama (P<0,05), com bezerros alojados com areia e granito apresentando as maiores taxas de tratamento. A concentração de metabólitos sanguíneos também não foi alterada pelo tipo de cama, demonstrando que não há efeito do material utilizado como cama no desafio ao sistema imunológico de bezerros. O tipo de material utilizado como cama também não alterou o comportamento de bezerros, a não ser o tempo gasto com limpeza própria. Os resultados deste trabalho sugerem que o desempenho animal de bezerros em aleitamento não é afetado pelo tipo de cama utilizado.

Referências

PANIVIVAT, R.; KEGLEY, E.B.; PENNINGTON, J.A.; KELLOGG, D.W.; KRUMPELMAN, S.L. Growth performance and health of dairy calves bedded with different types of materials. Journal of Dairy Science, v.87, p. 3736-3745, 2004.

Comentários

Durante a fase de aleitamento, é importante que as instalações de bezerros sejam secas, limpas,ventiladas, com sombra, e que permitam acesso fácil e adequado ao alimento e a água. Existem inúmeras opções de instalações para bezerros em aleitamento, desde bezerreiros fechados e coletivos até casinhas individuais confeccionadas com os mais diversos materiais.

A individualização de bezerras em aleitamento, principalmente com o objetivo de se reduzir problemas como a diarréia e mamada cruzada, tem sido recomendada. A individualização dos animais também facilita a alimentação, evitando problemas com dominância, e permite um controle mais rígido da saúde do animal e do consumo individual.

Embora a adoção de casinhas tropicais venha sendo recomendada por uma série de vantagens, ainda é grande a utilização de baias individuais em bezerreiros de alvenaria, o que requer a utilização de cama para aumento no conforto e condições sanitárias do bezerro. Vários materiais podem ser utilizados como serragem, areia e palhada.

De acordo com o trabalho descrito, o tipo de material utilizado como cama não afeta o desempenho de bezerros, embora tenha sido observado efeito nos dias de diarréia, definida como escore maior que 2 na escala de 1 a 4. Por outro lado, é sabido que o sucesso deste tipo de instalação depende do bom manejo, o que inclui trocas freqüentes de cama, de maneira a proporcionar local seco e limpo par ao bezerro se deitar. Havendo manejo adequado, o tipo de material a ser utilizado para cama deve ser escolhido com base em seu preço por m2, levando-se em conta sua densidade.



_______________________________
1 Depto. Zootecnia - carla@esalq.usp.br

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TEREZINHA PIRES

RIO VERDE - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/03/2010

Gostaria de receber fotos e modelos de casinhas individuais para bezerros, que sejam de baixo custo e que atenda as necessidades de manejo .
grata
Terezinha

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