Existem vários modelos de aleitadores no mercado e todos eles se utilizam de um chip que é colocado junto ao brinco do animal, para que este seja reconhecido pelo equipamento e a dieta seja liberada para a mamada. Podem ser programados diferentes manejos alimentares, considerando volume total de consumo, volume máximo por mamada e tempo entre mamadas. Dessa forma, o animal escolhe o momento em que quer consumir a dieta líquida, sendo esta dividida em porções ao longo do período de 24h.
Alguns equipamentos tem um copo misturador que prepara o sucedâneo no momento em que o bezerro é reconhecido através do chip, de forma que o leite não é uma opção para fornecimento. Outros equipamentos tem um container onde a dieta líquida (leite ou sucedâneo) fica preparada e normalmente é trocada ou reabastecida duas vezes por dia. Neste caso, existe um problema associado com a estabilidade da dieta líquida, uma vez que esta permanece em temperatura ambiente, que pode ser alta na maior parte do ano e na maior parte do Brasil. Embora o sucedâneo recomendado para utilização nestes equipamentos seja aquele acidificado, não se sabe ao certo como ocorre o crescimento bacteriano quando o material permanece por longos períodos em ambiente quente e úmido. Uma alternativa é colocar o container em sistema de refrigeração.
Assim, um trabalho conduzido no Depto. de Zootecnia da ESALQ teve como objetivo quantificar as alterações de pH e a contagem de microorganismos em sucedâneo lácteo, com e sem refrigeração de container de aleitador automático, de acordo com a temperatura ambiente.
Para as avaliações, foi utilizado um lote de bezerros da raça Holandês em lote e com acesso ao aleitador automático Calf Feeder (DeLaval, Figura 1), de forma que a saída de dieta líquida do container durante o período de avaliação fosse real. O sucedâneo lácteo foi diluído a 12,5% de sólido e transferido para o container as 7:30 am e as 6:30 pm, sempre após a higienização do container e das mangueiras do aleitador, conforme recomendações do fabricante. Um container maior contendo gelo foi utilizado para refrigeração do container contendo o sucedâneo diluído.
Figura 1. Sistema de aleitador automático e lote de animais em aleitamento.
Amostras de sucedâneo foram colhidas às 2, 4 e 8h após o abastecimento da manhã; e as 2, 4, 8 e 12h após o abastecimento da tarde. Nestes momentos o pH e a temperatura da dieta no container foram mensurados. O plaqueamento das amostras e a contagem de microrganismos foi realizada de acordo com os "Standard Methods for the Examination of Dairy Products”. Para o plaqueamento foram utilizadas placas Petrifilm (3M), as quais foram incubadas em BOD durante o período de 24h para contagem de enterobactéria; 48h para bactérias ácido-láticas; 72h para contagem de leveduras; e 5 dias para mofos e bolores (Figura 2).
Figura 2. Plaqueamento para contagem de microrganismos em amostras de sucedâneo lácteo em container de aleitador automático, com ou sem refrigeração.
Os resultados mostram que a estratégia de utilizar container com gelo não foi muito eficiente para a refrigeração do sucedâneo láteo, sendo a diferença média de temperatura de apenas 2°C (Tabela 1). No entanto, houve uma grande diferença de acordo com o tempo, sugerindo que abastecimento do container maior com mais gelo pode alterar este resultado. Houve uma tendência de menor pH médio para o sucedâneo em temperatura ambiente, sugerindo crescimento bacteriano nestas amostras. Esta sugestão se comprovou com maior crescimento de leveduras e enterobactérias em amostras de sucedâneo mantido em temperatura ambiente.
Tabela 1. Temperatura, pH e contagem de microrganismos em sucedâneo mantido em sistema de aleitamento automático com refrigeração ou em temperatura ambiente.
T: efeito de tratamento (refrigerado ou temperatura ambiente); H: efeito da hora da colheita de amostra; e T x H: interação entre tratamento e hora de colheita.
O resultado mais interessante foi o grande aumento na contagem de enterobactérias no sucedâneo com o passar do tempo (Figura 3). As contagens foram menores nas amostras do container refrigerado e nas 12h após o abastecimento da tarde (6:30 am) o número de enterobactérias no sucedâneo mantido em temperatura ambiente foi o maior. As enterobactérias são bactérias normalmente associadas com diarreias em bezerras leiteiras. Assim, quando estas aumentam seu número na dieta líquida é provável que ocorram diarreias nas bezerras.
Figura 3. Contagem de enterobactérias durante os horários de amostragem do sucedâneo lácteo mantido em aleitador automático, com refrigeração (R) ou em temperatura ambiente (TA).
Este rápido estudo permite concluir que a refrigeração de container de aleitadores automáticos, que não permitem o preparo da dieta líquida no momento da mamada, é uma ferramenta prática e eficiente para a redução da carga de microrganismos no sucedâneo lácteo fornecido a bezerras leiteiras.
Referências bibliográficas
Slanzon, G.S; Santos, F.H.R; Bittar, C.M.M. Effect of cooling on microbiological profile of milk replacer stored in containers of automatic calf feeders. Anais da 50a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Campinas, 2013.