Existem algumas evidências também de que a distocia possa ter efeitos em longo prazo sobre o desempenho da bezerra, além de maior mortalidade e morbidade. Alguns trabalhos mostram que bezerros de corte nascidos de partos distócicos tem o crescimento reduzido no período pré-desmame. Em novilhas leiteiras a taxa de crescimento é um bom indicador de sobrevivência e também um determinante da fertilidade e produção de leite. Estudos recentes têm observado produção de leite reduzida em primíparas que nasceram de partos distócicos. A taxa de sobrevivência também foi menor para animais que foram tracionados ao nascimento, apesar de não ser o caso para os graus mais baixos de dificuldade de nascimento.
De acordo com alguns pesquisadores, bezerros provenientes de partos difíceis em geral tem alta mortalidade e morbidade, comprometendo o desempenho animal. Interessados no assunto, pesquisadores do Reino Unido avaliaram se a experiência de um parto distócico altera a sobrevivência de bezerras leiteiras, o seu crescimento até o desaleitamento e sua fertilidade enquanto nulípara. Para este estudo, foram utilizados dados de rebanhos leiteiros do Reino Unido. As bezerras nascidas entre janeiro de 1990 e janeiro de 2000 foram criadas em Edimburgo no Reino Unido. Já as bezerras nascidas entre janeiro de 2002 e abril de 2009 foram criadas em Dumfries no Reino Unido. A dificuldade de parição foi classificada em escores:
1 – Normal (sem assistência);
2 – Dificuldade moderada (parto auxiliado pelo proprietário da fazenda, bezerro era visível);
3 – Dificuldade elevada (bezerro não era visível, necessidade da intervenção de um veterinário).
Os dados incluem peso ao nascer, peso ao desaleitamento, taxa de crescimento até o desaleitamento, número de serviços por concepção e a idade a primeira parição.
As bezerras que nasceram com dificuldade moderada, apresentam 3 vezes maior probabilidade de morrerem antes do desaleitamento e antes do primeiro serviço, quando comparadas com as bezerras nascidas sem assistência, no rebanho de Edimburgo. A sobrevivência até a primeira parição, no entanto, não foi afetada pela dificuldade no parto. No rebanho de Dumfries, a taxa de sobrevivência de bezerros nascidos sem assistência (n=418) foi de 88,8; 82,3 e 77% ao desaleitamento, primeiro serviço e primeira parição, respectivamente. Quando nascidos com assistência moderada (n=27), suas taxas de sobrevivência foram 81,5; 74 e 74% também ao desaleitamento, primeiro serviço e primeira parição, respectivamente. Os bezerros que nasceram com alta assistência (n=6) tiveram uma taxa semelhante de sobrevivência (66,7%) ao desaleitamento, primeiro serviço e primeira parição.
Nas Tabelas 1 e 2, encontram-se alguns dados obtidos neste experimento. As taxas de mortalidade das bezerras nascidas de parto distócico foram maiores até o desaleitamento e após o primeiro serviço. No rebanho de Edimburgo, os bezerros provenientes de partos de dificuldade moderada foram mais pesados ao nascer do que bezerros que não sofreram intervenção e que aqueles que sofreram dificuldade elevada, mas isto não foi visto no rebanho de Dumfries. Em ambos os rebanhos, o peso ao desaleitamento e as taxas de crescimento ao desaleitamento não diferiram entre os bezerros nascidos sem assistência e bezerros nascidos com dificuldade. Não foram observados problemas de fertilidade em animais nascidos de parto distócico. Neste estudo, o desempenho dos animais foi semelhante e não houve efeitos em longo prazo na reprodução destas fêmeas.
Tabela 1 – Desempenho de novilhas no rebanho de Edimburgo nascidas de partos com diferentes graus de dificuldade: normal, moderada e elevada
Tabela 2 - Desempenho de novilhas no rebanho de Drumfies nascidas de partos com diferentes graus de dificuldade: normal, moderada e elevada
A mortalidade de bezerros após o nascimento, independente da causa, é uma preocupação para o produtor, já que poderá afetar diretamente a composição do rebanho. Sendo assim, este estudo enfatiza a importância da prevenção da distocia não apenas do ponto de vista da vaca adulta, mas também do ponto de vista do bezerro, para melhorar a eficiência e o bem-estar.
Referência
A. C. Barrier, C. M. Dwyer , A. I. Macrae, M. J. Haskell. Short communication: Survival, growth to weaning, and subsequent fertility of live-born dairy heifers after a difficult birth. Journal of Dairy Science, 95: 6750–6754, 2012.
Comentários
O menor desempenho de bezerros provenientes de partos distócicos é comumente observado nos sistemas de produção de leite. Estes animais, além de menor vigor logo após o nascimento, tem menor capacidade de controle da temperatura corporal e são, normalmente, mais susceptíveis a doenças devido a sua comprometida capacidade de absorção de anticorpos através da ingestão de colostro. No entanto, em rebanhos bem manejados, bezerros nascidos de partos distócicos podem não ter o seu desempenho afetado de maneira significativa, como mostrou o trabalho. Os fatores que levam a ocorrência de parto distócicos podem muitas vezes ser controlados pelo treinamento de pessoal, quanto ao momento exato e a real necessidade de intervenção; além de escolha correta de touros com maior facilidade de partos e geração de bezerros menores, principalmente para novilhas. Treinamento e capacitação são essenciais para o bom desempenho animal.