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O que vamos selecionar em nossos rebanhos - III - Conformação da vaca leiteira: pernas e pés

ANDRÉ THALER NETO

EM 14/12/2016

7 MIN DE LEITURA

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Em continuidade à série de textos sobre características para as quais precisamos promover melhoramento genético nos rebanhos, vamos abordar o tema pernas e pés, ainda dentro da conformação/tipo da vaca leiteira.
 
A seleção para estas características relacionadas diretamente à capacidade de locomoção dos animais é fundamental para permitir boa mobilidade. Boa capacidade de locomoção permite que a vaca consiga acessar facilmente a alimentação, a sala de ordenha, bem como permite a expressão de comportamentos relacionados ao cio, diminuindo dessa forma os prejuízos à produção relacionados ao baixo consumo e a problemas reprodutivos, dentre outros.

No quesito pernas e pés são avaliados os aprumos dos animais, sendo que se objetiva vacas com pernas traseiras de curvatura intermediária e moderado ângulo de casco, com talão alto e ossos planos e fortes.
 
Este quesito tem correlação com maior resistência às doenças dos pés e claudicação, locomoção com liberdade de movimentos e mobilidade para o animal se alimentar, locomover-se até a ordenha e demonstrar cio.
 
A importância desta característica deve-se também ao fato dos aprumos estarem bastante relacionados com a longevidade nos rebanhos (SEWALEM et al., 2004; ATKINS, 2009; HOLSTEIN CANADA, 2014).

Apesar da dificuldade de se avaliar aprumos de forma acurada à campo pela instabilidade da posição com a qual o animal se situa, o conjunto pernas e pés vem ganhando peso na pontuação final, sendo o segundo quesito mais importante na classificação linear, atrás apenas de sistema mamário, com 26% de peso na pontuação final (VALLOTO, 2016), sendo que para o composto pernas e pés, participam os seguintes atributos, com os seus pesos relativos: pernas posteriores vista posterior (31%), ângulo de casco (22%), profundidade de talão (20%), pernas posteriores vista lateral (17%) e qualidade óssea (10%).

Segundo Valloto & Ribas Neto (2012), no composto pernas e pés avalia-se principalmente o casco e a região da articulação tibiotársica (jarrete), devendo o casco possuir na região de contato entre a frente do casco e a sola um ângulo de 45° a 56° em animais não- casqueados e recém-casqueados, respectivamente. Segundo Sewalem et al. (2004), animais com pontuação mínima para a característica têm 65% mais chance de sofrer descarte em relação aos com escore ideal.

A curvatura do jarrete também é avaliada, tanto pelo lado do animal (pernas vista lateral) quanto pela sua parte traseira (pernas vista posterior). Segundo Atkins (2009), o raio de angulação desta articulação pela vista lateral pode variar de 135° a 170°, sendo que o ângulo ideal se situa entre 150° e 155°.
 
A biomecânica do apoio do peso do animal em seus membros posteriores, sua relação com o ambiente e conforto dos animais, além do manejo de casco e a conformação de aprumos são fatores predisponentes de doenças do casco em potencial. 

Pérez- Cabal e Alenda (2002) destacam que valores genéticos positivos para conjunto pernas e pés aumentaram a lucratividade por vaca, ao aumentar a longevidade dos rebanhos e Pérez-Cabal (2006) verificaram que vacas com maior pontuação para pernas e pés e valores intermediários para ângulo de casco apresentaram melhor desempenho produtivo e maior longevidade.
 
Dentre as características de tipo relacionadas ao aparelho locomotor, pernas vista posterior e lateral são, respectivamente, as que mais influenciam a longevidade dos rebanhos (HOLSTEIN CANADA, 2014).

Para pernas vista posterior, quanto mais perto de 9 for a pontuação, menor o risco de descarte. Para pernas vista lateral, o risco mínimo de descarte situa-se entre 4 e 6, sendo que à medida em que a pontuação se afasta deste intervalo, aumenta o risco de descarte. Ângulo de casco também apresenta uma correlação alta com longevidade, sendo que, de modo geral, ossatura grosseira, aprumos com pouca profundidade de muralha de casco e ângulo muito baixo, bem como pernas extremamente retas ou curvas levam a uma diminuição na vida produtiva dos animais (SEWALEM et al., 2004).

O sistema de produção adotado também afeta o risco de os animais desenvolverem problemas relacionados a locomoção. Em geral, em sistemas de confinamento do tipo free-stall, onde as vacas permanecem mais tempo em contato com superfícies de concreto, aumenta o risco de problemas podais em relação a outros sistemas de produção, como pastejo ou confinamento do tipo compost barn. Black et al. (2013), avaliando vacas em confinamento do tipo compost barn, relatam uma redução no escore médio de locomoção, sugerindo uma melhora neste critério neste tipo de confinamento, sendo que esta melhora pode estar relacionada ao fato de que a superfície onde as vacas ficam em pé é mais macia e também, pelo maior conforto proporcionado, os animais passam mais tempo deitados.
 
A medida que a produção de leite se intensifica no país, onde a utilização de confinamentos passa a ser uma alternativa, a característica conjunto de pernas e pés ganha cada vez mais importância em sistemas de alta produção, pois o nível de exigência dos animais bem como os desafios aos quais eles são expostos são maiores.

Apesar da importância econômica, em comparação a outras características de tipo, as características de pernas e pés apresentam baixa herdabilidade, o que dificulta o ganho genético, tornando mais moroso o processo de seleção. Em um trabalho avaliando dados de características de tipo de 43.080 vacas da raça Holandesa no estado do Paraná, estimamos baixos coeficientes de herdabilidade para ângulo de casco e pernas vista lateral, 0,09 e 0,13 respectivamente (SILVA et al., 2015), assim como Valloto (2016) estimou herdabilidades variando de 0,04 a 0,11 para a maioria das características de tipo, exceção feita à qualidade óssea (h2 = 0,25).

Apesar das dificuldades advindas da baixa herdabilidade, a importância dada à seleção para pernas e pés, especialmente em raças de grande porte como o Holandês, na atualidade pode ser demonstrada pela sua inclusão em diversos índices de seleção.
 
Como exemplo, o mérito líquido vitalício (NM$), desenvolvido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) dá um peso relativo de 3% para composto de pernas e pés sobre o índice total, sendo que a partir da utilização de NM$ como único critério de seleção seria esperado um ganho genético de aproximadamente 1 desvio padrão por década para o composto pernas e pés (VanRaden e Cole, 2014). Outros índices de seleção que incluem pernas e pés são, por exemplo, o total performance index (TPI) da Holstein USA e o lifetime profit index (LPI), do Canadá,

Desta forma, a obtenção de ganho genético considerável para estas características tornam-se um grande desafio na pecuária leiteira, considerando seu grande impacto sobre a lucratividade das propriedades e a saúde e bem-estar das vacas leiteiras, formando um grupo importante de características em programas de seleção de bovinos de leite.

Referências bibliográficas

ATKINS, G. The importance of genetic selection in dairy cows for reducing lameness and improving longevity. CanWest Veterinary Conference. Anais da Canwest Veterinary Conference. p.1–16, 2009.

BLACK R. A. et al. Compost bedded pack dairy barn management, performance, and producer satisfaction. Journal of Dairy Science, v. 96, p. 8060–8074, 2013.
HOLSTEIN CANADA, A. The value of evaluation of conformation. Holstein Canada, 2014.

PÉREZ-CABAL, M. A.; ALENDA, R. Genetic Relationships between Lifetime Profit and Type Traits in Spanish Holstein Cows, Journal of Dairy Science, v. 85, p. 3480–3491, 2002.

PÉREZ-CABAL, M. A. et al. Genetic and Phenotypic Relationships Among Locomotion Type Traits, Profit, Production, Longevity, and Fertility in Spanish Dairy Cows. Journal of Dairy Science, v. 89, p. 1776–1783, 2006.

SEWALEM, A, et al. Analysis of the Relationship between Type Traits and Functional Survival in Canadian Holsteins Using a Weibull Proportional Hazards Model. Journal of Dairy Science, v. 87, n. 11, p. 3938–3946, 2004.

SILVA, R.R.A. ; THALER NETO, A. ; COBUCI, J.A. ; VALLOTO, A.A. ; HORST, J.A. ; RIBAS NETO, P.G. . Correlações genéticas entre algumas características de tipo e intervalo de partos em vacas da raça Holandesa. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 67, p. 166-172, 2015.

VALLOTO, A. A.; NETO, P. G. R. Avaliação da conformação ideal das vacas leiteiras. Curitiba: SENAR-PR, 2012.

VALLOTO, A.A. Características lineares de tipo e produção em vacas primíparas, parâmetros genéticos. Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba - PR, 2016. 106 p.

VanRaden, P.M.; Cole, J.B. Net merit as a measure of lifetime profit: 2014 revision. CDCB, Disponível em < https://aipl.arsusda.gov/reference/nmcalc-2014.htm>.

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ANDRÉ THALER NETO

LAGES - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 16/01/2017

Obrigado pelo comentário, Saulo.
SAULO DA BOIT GOULARTE

SIDERÓPOLIS - SANTA CATARINA - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 16/01/2017

Embora deixada de lado por muito tempo em seleção e melhoramento genéticos, tais características geram enormes efeitos a médio e longo prazo em rebanhos leiteiros. Parabéns pelo excelente artigo!

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