No quesito pernas e pés são avaliados os aprumos dos animais, sendo que se objetiva vacas com pernas traseiras de curvatura intermediária e moderado ângulo de casco, com talão alto e ossos planos e fortes.
Apesar da dificuldade de se avaliar aprumos de forma acurada à campo pela instabilidade da posição com a qual o animal se situa, o conjunto pernas e pés vem ganhando peso na pontuação final, sendo o segundo quesito mais importante na classificação linear, atrás apenas de sistema mamário, com 26% de peso na pontuação final (VALLOTO, 2016), sendo que para o composto pernas e pés, participam os seguintes atributos, com os seus pesos relativos: pernas posteriores vista posterior (31%), ângulo de casco (22%), profundidade de talão (20%), pernas posteriores vista lateral (17%) e qualidade óssea (10%).
Segundo Valloto & Ribas Neto (2012), no composto pernas e pés avalia-se principalmente o casco e a região da articulação tibiotársica (jarrete), devendo o casco possuir na região de contato entre a frente do casco e a sola um ângulo de 45° a 56° em animais não- casqueados e recém-casqueados, respectivamente. Segundo Sewalem et al. (2004), animais com pontuação mínima para a característica têm 65% mais chance de sofrer descarte em relação aos com escore ideal.
A curvatura do jarrete também é avaliada, tanto pelo lado do animal (pernas vista lateral) quanto pela sua parte traseira (pernas vista posterior). Segundo Atkins (2009), o raio de angulação desta articulação pela vista lateral pode variar de 135° a 170°, sendo que o ângulo ideal se situa entre 150° e 155°.
Pérez- Cabal e Alenda (2002) destacam que valores genéticos positivos para conjunto pernas e pés aumentaram a lucratividade por vaca, ao aumentar a longevidade dos rebanhos e Pérez-Cabal (2006) verificaram que vacas com maior pontuação para pernas e pés e valores intermediários para ângulo de casco apresentaram melhor desempenho produtivo e maior longevidade.
Para pernas vista posterior, quanto mais perto de 9 for a pontuação, menor o risco de descarte. Para pernas vista lateral, o risco mínimo de descarte situa-se entre 4 e 6, sendo que à medida em que a pontuação se afasta deste intervalo, aumenta o risco de descarte. Ângulo de casco também apresenta uma correlação alta com longevidade, sendo que, de modo geral, ossatura grosseira, aprumos com pouca profundidade de muralha de casco e ângulo muito baixo, bem como pernas extremamente retas ou curvas levam a uma diminuição na vida produtiva dos animais (SEWALEM et al., 2004).
O sistema de produção adotado também afeta o risco de os animais desenvolverem problemas relacionados a locomoção. Em geral, em sistemas de confinamento do tipo free-stall, onde as vacas permanecem mais tempo em contato com superfícies de concreto, aumenta o risco de problemas podais em relação a outros sistemas de produção, como pastejo ou confinamento do tipo compost barn. Black et al. (2013), avaliando vacas em confinamento do tipo compost barn, relatam uma redução no escore médio de locomoção, sugerindo uma melhora neste critério neste tipo de confinamento, sendo que esta melhora pode estar relacionada ao fato de que a superfície onde as vacas ficam em pé é mais macia e também, pelo maior conforto proporcionado, os animais passam mais tempo deitados.
Apesar da importância econômica, em comparação a outras características de tipo, as características de pernas e pés apresentam baixa herdabilidade, o que dificulta o ganho genético, tornando mais moroso o processo de seleção. Em um trabalho avaliando dados de características de tipo de 43.080 vacas da raça Holandesa no estado do Paraná, estimamos baixos coeficientes de herdabilidade para ângulo de casco e pernas vista lateral, 0,09 e 0,13 respectivamente (SILVA et al., 2015), assim como Valloto (2016) estimou herdabilidades variando de 0,04 a 0,11 para a maioria das características de tipo, exceção feita à qualidade óssea (h2 = 0,25).
Apesar das dificuldades advindas da baixa herdabilidade, a importância dada à seleção para pernas e pés, especialmente em raças de grande porte como o Holandês, na atualidade pode ser demonstrada pela sua inclusão em diversos índices de seleção.
Desta forma, a obtenção de ganho genético considerável para estas características tornam-se um grande desafio na pecuária leiteira, considerando seu grande impacto sobre a lucratividade das propriedades e a saúde e bem-estar das vacas leiteiras, formando um grupo importante de características em programas de seleção de bovinos de leite.
Referências bibliográficas
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