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O que vamos selecionar em nossos rebanhos: I - Características produtivas

ANDRÉ THALER NETO

EM 11/04/2014

6 MIN DE LEITURA

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Em uma série de artigos iremos abordar aspectos relacionados à seleção de bovinos de leite, visando melhorar características de interesse em bovinocultura de leite, com ênfase no aumento da lucratividade futura na atividade de leite. Sabe-se que a vaca leiteira necessita de diversos atributos para obter uma adequada rentabilidade.
 
Neste primeiro artigo iremos abordar a seleção para produção de leite e percentual de sólidos do leite. Nos próximos artigos vamos abordar a seleção para características funcionais (saúde, fertilidade e longevidade) e para características de tipo/conformação. Também iremos apresentar estratégias para a seleção conjunta destas características, visto que animais equilibrados para estas características tem se mostrado mais lucrativos.

A seleção para características produtivas (produção de leite, gordura e proteína, assim como das percentagens destes componentes) reveste-se de grande importância para a atividade leiteira, visto ser o volume de leite e/ou componentes do leite a principal fonte de renda e objetivo maior da atividade. Entretanto, a seleção extrema para características produtivas pode levar à diminuição da eficiência reprodutiva, assim como da resistência a doenças e, consequentemente, da longevidade ((Rodriguez-Martinez et al., 2008).
 
Deve-se considerar ainda, que a melhoria do potencial produtivo dos animais deve ser acompanhada de um adequado avanço nas condições ambientais, em especial a alimentação, visto que vacas com elevado potencial genético para produção apresentam maior exigência nutricional e, quando esta não é atendida, as perdas em saúde e fertilidade poderão ser potencializadas.

O intenso processo de seleção tem levado a progresso genético considerável para características produtivas nos países e/ou regiões de pecuária leiteira desenvolvida, indicando a existência de variabilidade genética suficiente para permitir um progresso genético continuado.
 
Na Figura 1 estão apresentados os valores genéticos médios das últimas décadas, das raças Jersey e Holandês nos Estados Unidos. Ganhos semelhantes são observados em outros países. Por exemplo, no Canadá, os ganhos genéticos para produção de leite nos últimos 5 anos foram de 39 kg/ano para Jersey e de 92 kg/ano para Holandês (Cdn, 2013).
 
Os ganhos para produção de gordura e proteína apresentam intensidades similares, sendo em alguns casos proporcionalmente mais intensas, enquanto que os valores genéticos para teores de gordura e proteína apresentam ganhos discretos.
 
Estes elevados e contínuos ganhos genéticos nas características produtivas nas últimas décadas deve-se, principalmente à inseminação artificial, ao teste de progênie (e mais recentemente à análise genômica) e a seleção intensiva de touros, com a utilização do sêmen dos melhores touros provados (Rodriguez-Martinez et al., 2008).



Fig. 1 – Valores genéticos para produção de leite em touros (vermelho) e vacas (azul) nas raças Holandês e Jersey nos Estados Unidos (Ars/Usda, 2014).

Entretanto, as estratégias de melhoramento genético precisam ser cuidadosamente estudadas, procurando-se antecipar às necessidades futuras do produtor, a fim de obter animais que possam ser mais lucrativos dentro de um cenário de mercado futuro, visto que os ganhos devido à seleção ocorrem somente em longo prazo. Estas peculiaridades exigem dos técnicos e produtores um adequado conhecimento das tendências do mercado, além de conhecimentos específicos da área.

Em termos de características produtivas, parcela considerável dos produtores brasileiros dá ênfase no melhoramento genético para produção de leite, relegando para um segundo plano os componentes do leite gordura e proteína.
 
Este fato está relacionado às peculiaridades do mercado de leite no Brasil, no qual historicamente muitas indústrias de laticínios não remuneram adequadamente pela composição do leite. Além disto, o sêmen de touros com baixo valor genético para sólidos do leite apresenta normalmente preço inferior devido à sua menor utilização nos países de pecuária leiteira desenvolvida.
 
Como consequência observa-se, na maioria dos trabalhos e relatórios de controles leiteiros publicados no Brasil, que os teores de gordura e proteína do leite são inferiores aos relatados na literatura internacional.
 
Entretanto, considerando que o retorno do melhoramento genético só aparece após alguns anos, com produção de leite iniciando somente 3 anos após a inseminação (tempo para gestação + crescimento da novilha), precisamos levar em consideração que, além de parcela considerável das indústrias brasileiras já possuir políticas de remuneração por qualidade, incluindo a concentração ou o volume de sólidos dos leite de forma considerável, mudanças na cadeia produtiva, tais como o aumento do percentual de leite destinado a produtos cujo rendimento industrial é altamente influenciado pelo teor de sólidos, como queijos e leite em pó, além da possibilidade de maior acesso ao mercado externo, poderão trazer mudanças consideráveis nas próximas décadas, aumentando a importância dos sólidos na remuneração dos produtos lácteos.

A produção de leite, de gordura e proteína (kg por dia ou por lactação) apresentam herdabilidade (h2) média, com valores entre 20 e 30%. A h2 tem um impacto importante sobre a possibilidade de se obter ganho genético em um processo de seleção, sendo que os valores acima permitem ganhos genéticos razoáveis, como demonstrado em situações práticas, a exemplo da figura 1.
 
As percentagens de gordura e proteína do leite apresentam herdabilidade mais elevada, entretanto, existe correlação genética negativa entre a produção de leite e os teores de gordura e proteína. Desta forma, ao desconsiderar os componentes do leite nos programas de seleção, o valor genético das vacas para teor de gordura e proteína do leite deve diminuir na geração seguinte.
 
A estratégia de seleção concomitante para produção de leite e teores de gordura e proteína, entretanto, apresenta ganhos modestos, tanto para produção como para composição do leite, visto que na seleção de características antagônicas, os melhores indivíduos para cada característica podem não ser selecionados, devido aos prováveis valores genéticos negativos para a outra característica.

As consequências dos aspectos descritos acima podem der visualizadas na Tabela 1, onde pode-se observar que a seleção exclusiva para produção de leite irá diminuir consideravelmente os teores de gordura e proteína.
 
Observa-se ainda que o melhor resultado em termos de ganho genético para o conjunto de características produtivas pode ser esperado quando se seleciona somente para a produção de gordura e proteína (quantidade de sólidos), o que pode determinar ganhos consideráveis em produção de leite e sólidos (através de resposta correlacionada), sem diminuição dos teores de gordura e proteína, inclusive com pequenos ganhos para os mesmos.

Tabela 1: Mudanças esperadas na composição do leite por diferentes critérios de seleção



A estratégia de seleção para produção de gordura e proteína, visando ganhos concomitantes em produção de leite e percentagem de gordura, vem sendo adotada pro quase todos os países de pecuária leiteira desenvolvida, os quais incluem estas características em seus índices de seleção (Mérito líquido, TPI, JPI LPI, NVI, etc.), geralmente sem selecionar diretamente para produção de leite.

Para, no futuro atingir níveis de produção de leite e sólidos compatíveis com o mercado internacional, a estratégia mais eficiente de seleção, em termos de características produtivas é a seleção para produção de sólidos (por exemplo, libras gordura e proteína nas provas dos Estados Unidos e kg gordura e proteína nas provas canadenses, européias e no sumário brasileiro).
 
Logicamente, esta estratégia dependerá de um adequado balanceamento para características funcionais e de conformação, visando obter uma vaca produtiva, saudável, longeva e, consequentemente, lucrativa.

Referências bibliográficas
ARS/USDA. Bovine genetic trait. 2014. Disponível em <https://www.cdcb.us/eval/summary/trend.cfm?R_Menu=JE#StartBody>.
CDN. National genetic trend tables. 2013. Disponível em <https://www.cdn.ca/files_ge_articles.php>.
RODRIGUEZ-MARTINEZ, H.; HULTGREN, J.; BÅGE, R.; BERGQVIST, A.-S.; SVENSSON, C. Reproductive Performance in High-producing Dairy Cows: Can We Sustain it Under Current Practice? IVIS Reviews in Veterinary Medicine 2008.
SLATER, K. The principles of dairy farming Ipswich Farming Press 1995. 359 p.
 

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BÁRBARA CAROLINA VEIGA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 11/03/2015

Olá Pessoal, tudo bem?

Para quem quer saber mais sobre Melhoramento Genético, estamos com um curso inédito com as inscrições abertas!
Confira o programa e se inscreva, acessando: https://www.agripoint.com.br/curso/melhoramento-genetico/

Se tiver alguma dúvida, entre em contato pelo email: cursos@agripoint.com.br ou pelo telefone: 19-3432-2199.

Obrigada.
Abs.
ANDRÉ THALER NETO

LAGES - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 27/04/2014

Prezados participantes do Fórum. Muito obrigado pelas contribuições. Os debates refletem a diversidade de sistemas de produção e das necessidades tecnológicas inerentes à cada realidade.
SERGIO CHAVEZ

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 16/04/2014

Estimados foristas; cuando hablamos de mejoramiento genetico, por medio de la inseminacion o del entore, previamente se debe hacer una evaluacion de las vacas a servir, evaluando sus caracteristica morfologicas, sus niveles de produccion y la deteccion de los factores a mejorar. Una vez realizada esa evaluacion se puede comenzar a ver con que toro podemos mejorar las futuras generaciones de esas vacas. La evaluacion de patas, ubres, facilidad de parto, tamaño, se debe complementar con los datos de la composicion y cantidad de leche producida, para que en el futuro las hijas produzcan mas, con menos problemas de salud y parto.
MICHEL KAZANOWSKI

QUEDAS DO IGUAÇU - PARANÁ - OVINOS/CAPRINOS

EM 15/04/2014

Seleção genética é um assunto polêmico.

A maioria dos produtores brasileiros de leite sequer usa inseminação artificial. Quando utilizam suas escolhas se baseiam em características que já vem pré definidas como sendo as ideias para qualquer rebanho leiteiro. Aonde ficam as características intrínsecas da fazenda e do sistema adotado pelo produtor nessa hora? Será que o pai da vaca que foi campeã da World Dairy Expo em Madison é a melhor escolha para as minhas vacas?
Outro coisa absurda que se vê no campo é o tal do acasalamento genético. Todo ano vem um técnico da empresa de semen "acasalar" as vacas. Em um rebanho de 30 vacas o produtor usa 6 touros diferentes a cada ano. Que seleção maluca é essa?
Seleção, segundo Darwin, é a sobrevivência do mais forte. Vacas com problemas de aprumos, úberes caídos, baixa produção e persistência de lactação, que dão um parto a cada dois anos e que vivem doentes não devem ser "acasaladas" mas sim eliminadas do rebanho. As suas filhas devem ter o mesmo destino. E principalmente, elas devem ir para o frigorífico e não para o rebanho do seu vizinho. Isso é seleção!
A maioria das características morfológicas tem taxa de herdabilidade baixa. Isso significa que para você transformar um vaca ruim em um animal bom vai levar uns 20 anos. A vida é curta demais para ordenhar vacas ruins.
É por manter e tentar consertar vacas porcarias que no Brasil é tão difícil obter animais bons para comprar. Essa falta de animais com alto mérito genético é que fomenta o absurdo valor que as vacas são comercializadas aqui onde animais com sete, oito anos de idade, três tetos, histórico de reprodução ruim e por aí vai ainda são vendidas para outros produtores por valores acima dos praticados em qualquer lugar do mundo onde pelo mesmo dinheiro você compra uma novilha de alto mérito, devidamente criada e pronta para produzir e dar lucro ao produtor.
Precisamos mudar a forma com que selecionamos vacas aqui ou jamais sairemos deste círculo vicioso.

Abraço
JOSIMAR DOS SANTOS

FREDERICO WESTPHALEN - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/04/2014

Bom Material...Realmente, os produtores não estão muito preocupados com as tendencias a longo prazo, pois no momento a maior parte dos laticínios pagam por quantidade e não por qualidade. Alem disso ele não esta disposto a colocar a mão no bolso para investir num material genético mais completo em relação as características a serem melhoradas no seu rebanho.O resultado esperado por ele basicamente se resume em produtividade e os touros que transmitem esta características as suas filhas normalmente tem preços bem acessíveis..
SERGIO CHAVEZ

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 14/04/2014

Muy interesante, buena informacion para analizar. es importante cuando se habla de mejoramiente genetico, ver la seleccion de toros, para incorporar aquellos que mejoren la presencia de caseina en leche, para que la leche tenga un valor industrial y nutricional mayor, e inclusive incorporar a la alimentacion aquellos nutrientes que tambien lleven a un mayor valor nutricional a la leche, al hacerlas mas aptas para alimentar personas con necesidades diferentes, por ejemplo las grasas.
FERNANDO BACK

FORQUILHINHA - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 14/04/2014

Parabéns THALLER pelo artigo.Hoje em dia a escolha de material genético está muitas vezes relegado ao produtor que não tem subsídios técnicos suficientes para uma escolha adequada ficando a mercê do vendedor.Cabe ainda lembra que um touro na média para produção de leite está expressando a média americana ou do país de origem do teste de progênie o que significa já um incremento importante para nossa realidade.abraços.Back.
JOABE JOBSON DE OLIVEIRA PIMENTEL

TEIXEIRA DE FREITAS - BAHIA

EM 14/04/2014

Este é um tema que merece ser discutido exaustivamente e em profundidade.
Selecionar a genética das próximas décadas requer muita reflexão e debate.
Fazendo uma reflexão sobre a produção de leite a pasto, o assunto se torna mais complexo pois a principal raça utilizada no Brasil é a Holandêsa.
Como foi feita a seleção da raça Holandêsa?
Animais com produção de leite cada vez maior, de maior porte, para serem criados em confinamento.
Esta genética seria adequada para a produção de leite à pasto?
Qual o nível de produção adequado para sistemas baseados em pasto?
Seria média de 40 kg por vaca por dia?
Ou seria algo em torno de 10 a 13 kg por vaca por dia?
Temos uma longa estrada ainda
O importante é acertar a direção da caminhada daqui para frente
Isto requer grandes mudanças de paradigmas
Fraterno abraço a todos
AYRAN PEREIRA DOS SANTOS

ÁGUAS FORMOSAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/04/2014

Muito interessante o tema, e de extrema importância para os pecuaristas. Afinal, a seleção de bovinos para produção de leite, ainda continua sendo muito complexa, considerando-se as inúmeras características que devemos avaliar quando o objetivo é decidir qual a melhor raça/linhagem genética para compor o plantel. Parabéns a revista pela iniciativa!

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