Ainda na emoção (sim, na emoção, pois foi como se nascesse um filho) do lançamento do primeiro leite proveniente de animais A2A2 do mercado brasileiro, gostaríamos de fazer uma despretensiosa reflexão sob a ótica do setor quanto as dificuldades de inovar quando se trata de adequar e de cumprir as exigências regulatórias que envolvem a produção de alimentos no Brasil. Este cenário vivido com o leite a2 desperta um alerta para a análise de como a inovação tecnológica de produtos e processos para o mercado de alimentos vêm se desenvolvendo em nosso país, os avanços, os cuidados e as dificuldades encontradas ao longo do caminho, principalmente junto ao setor regulador.
A inovação sempre esteve no DNA da Agrindus. Como mostramos nos artigos anteriores, constantemente pensamos e somos estimulados a pensar em inovações. Desta forma surgiu o conselho de inovação; é como trabalhamos no P&D - pensamos em como agregar valor no leite tipo A, como melhorar constantemente a qualidade da matéria-prima e dos produtos fabricados, como participar de mercado certificados a exemplo o mercado Kasher, como otimizar processos, como encontrar novas tecnologias em equipamentos e como alcançar o custo perfeito.
No Brasil atualmente de maneira geral a maior parte das inovações são do tipo incrementais, ou seja, em forma de melhorias e não de maneira realmente inovadora (todos gostam de um copia e cola). O Brasil não aparece no ranking de países com depósitos de tecnologias para o setor de alimentos, e isso se explica em parte pelo baixo investimento em pesquisa e dificuldades quanto a burocracia ligada aos setores regulatórios.
Fonte: Facebook Letti
A cadeia produtiva do leite precisa de inovação para se manter competitiva e agregar valor aos derivados lácteos. Temos muito a expandir o consumo. Ouvimos sempre de especialistas que somos a cadeia que mais demora a inovar pois possuímos o sistema mais complexo e com ainda pouco uso de tecnologia. Precisamos evoluir e encontrar a forma de inovar. Cada vez mais neste nosso mercado, tão distinto onde o consumo e o apelo das bebidas vegetais vêm aumentando, por vezes de maneira assustadora, o desafio em inovar e agregar valor se torna mais que uma meta do P&D; se torna uma meta estratégica do core business da empresa na busca do nicho ideal.
Inovação significa transformar conhecimento em produtos, serviços ou processos. É algo continuo e em constante transformação. A busca da renovação, ou inovação, é uma das forças motrizes mais importantes na economia global. Inovação está na moda. A inovação estimula a concorrência e afeta nosso dia a dia. De acordo com o estudo de Tendências Globais de Alimentos e Bebidas de 2018 da Mintel, vivemos uma nova era no mercado de alimentos onde os consumidores vão orientar e definir suas escolhas de forma cada vez mais consciente, priorizando questões como transparência nas informações, sustentabilidade dos processos, opções mais saudáveis e conveniência e por que não produtos que nunca existiram?
Pergunta difícil de responder, a evolução tecnológica é vista como um fenômeno complexo e sistêmico, em que o governo tem seu lugar de destaque no sentido de promover os processos inovativos por meio de políticas científicas e tecnológicas, o que se observa em muitos dos países que mais inovam. Por que aqui no Brasil temos mais dificuldade?
O leite a2 foi um desafio enorme e que nos fez permear todos os espaços do setor técnico e regulatório, percorrendo caminhos diferentes, e com muitas pedras para encontrar formas de regularizar e enquadrar o produto dentro do rigor da lei. Prezamos pela honestidade, idoneidade e pela legitimidade da lei, portanto, queríamos fazer tudo certo do começo ao fim. Nosso sistema regulatório existe para proteger o consumidor e temos que zelar pelo sistema. Respeitamos as instituições.
Temos a obrigação de pensar na inovação colocando o consumidor no centro das escolhas, dando-lhe a oportunidade de decidir, de conhecer as oportunidades.
Também temos a responsabilidade de inovar seguindo os protocolos próprios do setor, garantir a segurança do alimento e a inocuidade. Cabe a indústria, ao setor e ao sistema de inspeção identificar estas demandas e conseguir oferecer produtos de qualidade e com os requisitos desejados mantendo a qualidade total. Temos que estar ligados e em sintonia no que ocorre no mundo a fora para antecipar demandas e desejos. Todos em prol do desenvolvimento.
Não queremos aqui fazer apologias apenas expressar um sentimento de dificuldades e alertar para que pensemos como cadeia. A regulamentação de produtos alimentícios se dá através do Código de Defesa do Consumidor e regulamentações gerais e específicas de acordo com o MAPA e a ANVISA. Os aspectos sanitários são imprescindíveis para a produção de alimentos, tanto de origem animal quanto vegetal e envolvem desde a higiene na produção até as informações nutricionais, alegações de funcionalidade, presença de alérgenos e rotulagem. Cada órgão tem atribuições diferentes, mas que se complementam, e muito. Cabe a ANVISA as principais legislações de higiene na produção, rotulagem, produtos com finalidades especiais, alimentos infantis, alimentos contendo alérgenos. Ao MAPA cabe a inspeção alimentos de origem animal na área de produção e seus procedimentos de registro. A sintonia entre ambos é importantíssima, para rompermos as barreiras e temos que zelar para que seja a melhor possível.
"Temos a obrigação de pensar na inovação colocando o consumidor no centro das escolhas, dando-lhe a oportunidade de decidir, de conhecer as oportunidades".
Portanto, temos que aprender com quem já fez (outros países que já percorreram estes caminhos e enfrentaram as dificuldades) e sermos mais pragmáticos. Temos que dar a oportunidade para o consumidor fazer escolhas, seguirmos caminhos muitas vezes desconhecidos em um primeiro momento. Na outra ponta os órgãos regulatórios precisam assumir um papel mais protagonista no processo de inovação. Algumas questões precisam ser encaradas de maneira mais objetiva e participativa pela cadeia, governo e sociedade. Temos um mercado a desenvolver respeitando as leis e regras sanitárias porem não podemos deixar as oportunidades passarem a nossa frente sem que sejamos ágeis e objetivos.
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