Segundo Maggi, o leite não precisa de incentivos para ser consumido no Brasil e a retomada da economia deve resolver a situação dos produtores, prejudicados pela queda dos preços internos. “Todos nós consumimos leite pela manhã, compramos produtos com leite. Para aumentar o consumo tem que aumentar a renda. Quanto maior a renda dos consumidores, mais eles partirão para a compra de comida e de insumos pessoais”.
O ministro reconheceu que o governo poderia comprar o leite, estocá-lo e vendê-lo quando as condições de mercado estivessem melhores, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mas disse que não há orçamento para isso neste momento. “O ministério não tem orçamento. Há uma discussão dentro do MDA [Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário] para que possam alocar algum recursos ainda neste ano e a gente possa fazer uma compra maciça, enxugando o mercado, isso ajuda bastante.”
Em todo o Brasil, há mais de 1 milhão de produtores de leite e há registro de atividade leiteira em 99% dos municípios. Em toda a cadeia do leite estão envolvidos cerca de 4 milhões de trabalhadores.
A suspensão da importação de leite do Uruguai ocorreu por suspeita de que nem todo o leite vendido era uruguaio
Suspensão do Uruguai
Na semana passada, atendendo a uma demanda do setor e da Frente Parlamentar da Agropecuária, Maggi decidiu suspender as licenças de importação de leite do Uruguai. Mais barato, o leite uruguaio, de acordo com o ministro, tem contribuído para a crise no setor no Brasil e a situação está se transformando em quase insuportável para o produtor local, em função dos custos que inviabilizam competir com o produto do país vizinho. O argumento usado pelo ministro foi de que o Uruguai exporta mais leite do que poderia produzir, o que poderia sinalizar que o país vende ao Brasil leite comprado de terceiros.
Ontem, Maggi voltou a falar sobre o assunto e disse que uma comitiva brasileira deverá ir essa semana ao Uruguai para fazer as vistorias necessárias. “Temos que acelerar as discussões externas e internas também. Eu vou dizer com toda a tranquilidade, não é uma medida definitiva, nós não conseguimos segurar isso por muito tempo. Até porque se eles [Uruguai] recorrerem à OMC [Organização Mundial do Comércio] e a qualquer organismo internacional, eles têm direito de vender o leite para o Brasil”, ponderou.
A suspensão da compra de leite uruguaio, segundo Maggi, valerá até que seja concluída a rastreabilidade do produto e só será revertida se conseguirem comprovar que 100% do volume exportado ao país são produzidos no Uruguai. O ministro defendeu o estabelecimento de uma cota de importação do produto pelo Brasil, o que ajudaria a regular o mercado.
Parceiro comercial
O comércio com o Brasil é estratégico para o Uruguai. Dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostram que o Brasil comprou 86% da produção de leite em pó desnatado uruguaio e 72% do integral, em 2017. Nos primeiros seis meses deste ano, já foram importadas 41.811 toneladas de leite em pó do país vizinho. No total, 36% do comércio de produtos do agronegócio e 25% de todos os produtos comercializados entre os países referem-se a produtos lácteos.
Ao receber a notícia da suspensão, o governo uruguaio se disse surpreso e afirmou que a decisão foi tomada de forma unilateral pelo Brasil, sem nenhuma advertência anterior. Segundo o chanceler Rodolfo Nin Novoa, é “absolutamente insustentável que se diga que o Uruguai triangula leite para vender ao Brasil”. Novoa diz que o Uruguai vende 100 mil toneladas de leite por ano ao Brasil. Por outro lado, importa apenas 300 toneladas de outros países.
O Uruguai advertiu que a postura do Brasil poderá prejudicar a abertura da União Europeia ao Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). “Quando os negociadores da UE virem como, entre nós, seguimos colocando travas, nossa posição se tornará inconsistente”, afirmou Novoa. O governo uruguaio enviou uma nota ao Brasil expondo esses riscos.
De acordo com nota divulgada pela presidência do Uruguai, na última sexta-feira (13), o presidente Michel Temer conversou por telefone com o presidente Tabaré Vázquez. Segundo os uruguaios, Temer comunicou “seu compromisso pessoal de que não haverá inconvenientes no ingresso de produtos lácteos uruguaios no Brasil”.
SOS Leite - Balde Cheio, Bolso Vazio
Com a presença do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, de diversos políticos e lideranças do setor, os produtores realizaram o Manifesto SOS Leite nesta segunda-feira (16/10), em Prata/MG.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Luiz Carlos Rodrigues, os produtores apresentaram ao ministro a grave situação da produção de leite no Brasil e pediram a regulamentação das importações de forma que o mercado interno não seja mais prejudicado. “O custo de produção é maior que o valor recebido pelo produtor e a grande entrada de leite do Uruguai só piora a situação”, diz Rodrigues. Enquanto o preço médio nacional pago ao produtor em setembro foi de R$1,13 (com vários Estados pagando menos de um real), o custo de produção está em torno de R$1,30. Hoje, o setor emprega mais de cinco milhões de pessoas.
Para o coordenador da Câmara de leite da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Vicente Nogueira, o ministro teve uma demonstração clara do quanto o setor está mobilizado na defesa de melhores condições para produção. “Ninguém deseja proibir totalmente as importações, mas esse mercado precisa ser organizado, ou seja, ter um volume mínimo e máximo para a entrada do leite do Uruguai para que o mercado interno não seja afetado”, ressalta Nogueira. Segundo ele, a pecuária leiteira passa pela maior crise já vivida. “Não adianta ter balde cheio e bolso vazio. Quando o produtor decidir cruzar os braços em razão de não ter mais condições de produzir o que será do país? Estamos preparados para ir à Brasília com milhares de produtores para entregar nosso pleito ao presidente Temer”, garante o representante da OCB.
Eduardo de Carvalho Pena, vice-presidente Faemg e presidente Comissão Técnica de Leite, lembra que essa é uma reivindicação feita pelo setor há mais de 10 anos. “Não queremos fechar as portas do mercado comercial na América do Sul, mas a importação precisa ser regulamentada. Da mesma forma que para a Argentina existe uma cota em torno de 4.500 toneladas/mês, para o Uruguai também deve existir. Hoje, essa importação é predatória para os produtores brasileiros, principalmente Minas Gerais que é o maior produtor de leite do Brasil. Até o mês passado já tinha entrado mais de 100 mil toneladas de leite do Uruguai. É um número gigantesco, como se estivesse abrindo uma grande empresa no país”, diz Pena.
Leia também:
"SOS Leite - Balde Cheio, Bolso Vazio": acompanhe o manifesto!
As informações são Agência Brasil, da FAEMG e do jornal O Estado de São Paulo.