Nas regiões do país onde a citricultura é uma atividade significante, sempre há uma grande disponibilidade de bagaço de laranja na época de colheita por parte das indústrias de processamento. O bagaço de laranja in natura, o qual chamaremos aqui de polpa cítrica úmida (PCU), é utilizado na dieta dos animais das propriedades rurais circunvizinhas àquelas indústrias processadoras que não decidiram por investir no processo de secagem do bagaço de laranja para a produção da polpa cítrica peletizada.
A PCU é um subproduto que se caracteriza, sobretudo, pelo seu alto nível de umidade apresentando geralmente entre 75 e 85% de água (ou 15 a 25% de matéria seca), e pelo seu elevado teor de carboidratos fermentáveis, os quais formam um perfil de alimento cujo adequado armazenamento é crucial para que seu uso seja satisfatório e forneça bons resultados, tanto técnicos quanto econômicos.
A elevada umidade da PCU constitui-se no principal fator limitante a sua utilização, impedindo uma participação mais substancial na dieta. No entanto, esse excesso de umidade pode ser útil quando se trabalha com certos ingredientes na ração total produzindo uma mistura mais homogênea e evitando a seleção de alimentos no cocho, assim como, para suprir os requerimentos de água dos animais, o que pode ser particularmente importante em algumas regiões do país, como o semi-árido nordestino.
A PCU pode ser utilizada na forma in natura podendo participar em até 30% da matéria seca (MS) da dieta, a depender dos outros ingredientes envolvidos, sem comprometimento de desempenho, devendo ser consumida rapidamente uma vez que os altos níveis de umidade e de carboidratos fermentáveis a tornam um produto de fácil deterioração. Ambas características, associadas às altas temperaturas presentes em nosso país e a um tempo de armazenamento prolongado dão suporte ao crescimento de fungos que promovem a degradação aeróbia do material, comprometendo severamente seu valor nutritivo, além de poderem produzir toxinas (micotoxinas) que afetam a saúde e o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais, assim como, podendo levar os mesmos a morte. Sendo assim, recomenda-se um período de armazenamento não superior a 3 dias.
Foto 1: PCU armazenada sob lona plástica e por um período de tempo prolongado. A coloração escura, a alta temperatura do material, o odor forte e o visível crescimento fúngico são sinais do avançado estágio de deterioração.
Caso a quantidade comercializada supere a escala de consumo de 3 dias, uma alternativa seria a desidratação da PCU fazendo uso da energia solar, o que aumentaria seu período de armazenamento e permitiria uma maior taxa de inclusão na dieta devido ao menor percentual de umidade.
Uma última alternativa seria o uso da PCU na forma de silagem, no entanto, mesmo sendo possível e mesmo realizando sua pré-secagem para elevar o teor de MS a níveis mais adequados, há grandes perdas de nutrientes durante a ensilagem, e somado a isso, os custos envolvidos no processo em si, a silagem de PCU pode se tornar economicamente inviável em uma grande quantidade de situações.
Contudo, e independente de sua forma de utilização, a PCU deve ser analisada economicamente antes de ser adquirida e introduzida na fazenda. Por ser um concentrado essencialmente energético e por entrar na dieta em substituição parcial ao milho, é necessário compará-la com o mesmo levando em consideração o custo da tonelada de MS, e com esse valor avaliar o custo da tonelada de proteína (PB) e energia (NDT), já que a princípio estamos pagando por nutrientes e não por água.
Foto 2: PCU armazenada de forma inadequada apresentando elevado nível de contaminação por fungos. A porção menos deteriorada deste material estava sendo oferecida a um rebanho de ovinos Santa Inês, muitos dos quais apresentavam sinais de intoxicação.
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