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Quem será você, produtor de leite, daqui a 5 anos?

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/05/2021

6 MIN DE LEITURA

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A produção de leite no Brasil é muito heterogênea, pois varia em: tamanho do empreendimento; tipo e nível de intensificação do sistema de produção; perfil do produtor; níveis de produtividade dos fatores de produção; forma e estrutura de acesso ao mercado e acesso aos insumos.

Essas variáveis diferem de patamar, conforme a região de localização da propriedade leiteira, formando, assim, uma matriz de heterogeneidade e complexidade muito grande.

A estrutura de produção de leite identificada pelo Censo Agropecuário do IBGE de 2017, retrata quase 600 mil produtores com menos de 20 litros de leite por dia, correspondendo a 51% das fazendas, produzindo 1,7 bilhão de litros (6% da produção nacional). Outros 500 mil produtores produziram entre 20 e 200 litros de leite por dia, representando 42% dos produtores e respondendo por 12,3 bilhões de litros (41% da produção nacional).

O conjunto de produtores com menos de 200 litros de leite por dia, total de 1,1 milhão de produtores, produziu menos da metade da produção de leite. Outros 87,5 mil que produziram mais de 200 litros de leite por dia, correspondem a 7%, produzindo 16,2 bilhões de litros (53% da produção) e, apenas 2% dos produtores com mais de 500 litros de leite por dia, produziram 30% da produção nacional (Tabela 1).

Na comparação entre os dados do Censo de 2017 e os de 2006, a dinâmica da estrutura de produção de leite brasileira evidencia a concentração da produção nas propriedades de maior escala e a redução do número de produtores com menor escala.

O grupo de produtores com menos de 10 litros/dia reduziu-se em 31%; o grupo entre 10 e 20 litros/dia, reduziu-se em 12%. A mesma redução ocorreu para quem produziu de 20 a 50 litros/dia.

É razoável afirmar que parte desses produtores aumentou sua produção passando para outros estratos, ou que alguns abandonaram a atividade e novos empreendedores podem ter iniciado no segmento leiteiro. Com isso, o número de produtores que produz entre 50 e 200 litros/dia aumentou em 13% no período.

As demais categorias também tiveram aumento do número de produtores, com grande destaque para o estrato que produziu mais de 500 litros/dia, cujo aumento foi de 163%, passando de 8,8 mil para 23,15 mil produtores.

Assim, materializa-se a concentração da produção, por meio da mobilidade entre os estratos de produção, redução do número de produtores com baixa escala, crescimento do número de grandes produtores e, ainda, pelo maior crescimento da produção dos maiores.

Informações do Milkpoint (2021), em seu levantamento dos 100 maiores produtores de leite, mostrou que que a produção dos Top 100 no ano de 2020 alcançou média diária de 23.057 litros, 10,29% superior a 2019 e 252,34% maior que no primeiro levantamento realizado, em 2001.

No Top 100 2019, os produtores selecionados representavam 2,86% da captação total de leite comercializado (702,191 milhões de litros). O Top 100 2020 passou a representar 3,05% da produção nacional (763,04 milhões de litros).

Isto possibilita inferir que com menos de 33.000 produtores padrão Top 100, poderíamos produzir a mesma quantidade de leite que os mais de 1.176 mil produtores hoje existentes.

Essas grandes plantas produtoras de leite são essencialmente empresas, com elevado grau de sofisticação tecnológica e gerencial, o que enfatiza a profissionalização do setor.


Tabela 1 - Estratos de produção de leite (2006 e 2017)

Há evidências de que os produtores de pequena escala de produção estejam sendo excluídos do processo produtivo por incapacidade de acompanhar o processo de inovação tecnológica.

Há também indicação de que, por conta das dificuldades enfrentadas pelos produtores de pequena e média escala, chamadas de “imperfeições de mercado ”, eles serão excluídos da atividade.

Também em defesa dessa tese, mostra-se a estrutura de produção em outros países que também estão passando por um processo de redução do número de produtores, configurando um movimento de concentração da produção de amplitude mundial (Gráfico 1).


Gráfico 1 - Taxa de diminuição do número de propriedades produtoras de leite em diferentes países (período entre 2002 e 2018) (*)


Assim, fica caracterizada a redução do número de produtores de leite no Brasil, a exemplo do que vem ocorrendo em outros países. É um processo inexorável, caso fiquem livres as forças dinâmicas do mercado.

Diante desse quadro, e em um país de elevada concentração de renda, esse processo no setor de produção de leite pode reproduzir e acentuar a concentração da riqueza, aumentando o fosso entre pobres e ricos, incluindo as diferentes regiões do País.

A sociedade brasileira, por meio do governo em diferentes níveis, precisa se posicionar se quer esse processo ou se prefere uma estrutura de produção mais pulverizada, que valorize a descentralização da riqueza pelos agentes produtivos e pelas regiões e fortaleça mercados locais e regionais.

Se há interesse em preservar uma estrutura mais descentralizada, surge políticas de suporte técnico e financeiro aos produtores de pequena e média escala de produção que estejam, deliberadamente, intencionados em melhorar de vida e deixar a pobreza.

O caminho para essa epopeia é conhecido e passa inexoravelmente pelo aumento de produtividade dos fatores de produção, da escala e da rentabilidade por meio do processo de inovação tecnológica.

Iniciativas como a ATER Digital em início de funcionamento no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), podem ser um dos braços do processo de revigoramento da produção de pequena e média escala, uma ótima e contemporânea iniciativa.

Mas, seguramente, é preciso melhorar a capacidade técnica e financeira do produtor para adotar e manejar tecnologias mais produtivas e que promovam maior rentabilidade do seu negócio, como sugere Leite (2019). Esse processo requer capacitação e domínio da tecnologia e não somente acesso a ela. É no detalhe da implantação e no manejo da tecnologia que reside o sucesso ou o fracasso da produção.

Gerar riqueza no campo por meio do processo de inovação tecnológica é o caminho, mas ele requer além da disponibilização de tecnologias, capacitação para escolha, implantação e manejo de tecnologias mais eficientes e, seguramente, atitude do produtor de enfrentar e resolver o problema. Sem atitude do maior interessado, não se vislumbra saída.

Considerando-se um mercado livre, deve haver redução das margens líquidas da produção de leite, implicando na exigência de aumento de escala e de eficiência total dos fatores de produção para maior retorno. Deve haver aumento das exigências por sanidade, qualidade, segurança do alimento e impacto ambiental, trazendo desafios para a produção de leite. Essa dinâmica não favorece os produtores de pequena e média escala e poderá excluir muitos do processo produtivo.

Os produtores sobreviventes serão aqueles com ação proativa, na direção de obter capacitação por meio da contratação individual ou coletiva de assistência técnica continuada que privilegie e se baseie no ciclo PDCA para médio prazo (5 anos).

Além disso, é preciso se associar a uma cooperativa/associação para ganhos de escala na compra e na venda de produtos, acesso a mercados, obtenção de financiamentos e agregação de valor.

Assim, o produtor que não for capaz de responder à pergunta: quem será você, produtor, daqui a 5 anos?”, não se vê no futuro e não tem capacidade e ou interesse em planejá-lo, por conseguinte, está fadado a deixar a atividade.

Autor
José Luiz Bellini Leite
Engenheiro Civil, Ph.D. em Economia Aplicada. Analista da Embrapa Gado de Leite 

 

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MARCELO BRANQUINHO PEREIRA

TRÊS CORAÇÕES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/05/2021

Muito bom. Só uma correção ,são necessárias 3.300 fazendas padrão top 100 para produzir todo o leite brasileiro e não 33.000 fazendas.
LEANDRO AUGUSTO VILELA RABELO

ABADIA DOS DOURADOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/05/2021

Muito lúcido o artigo. Sem planejamento e objetivos a serem alcançados, não há como ter bons resultados numa atividade tão desafiadora.
Parabéns!

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