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Listeriose: perigo para a produção leiteira e saúde pública

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PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/02/2021

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Atualizado em 04/02/2021

A listeriose é uma doença causada pela bactéria Listeria monocytogenes, que acomete tanto animais quanto seres humanos.

Transmissão

Sua ocorrência é relatada em locais como água, solo, vegetação, fezes de animais e produtos para alimentação animal e humana, tais como silagem contaminada, leite e derivados, queijo, sorvete, achocolatado, alface, maçã, cogumelo, brotos de feijão, presunto cozido, frango mal cozido, salada de camarão, entre outros (SCHELCH, 2019). Devido a capacidade do microrganismo de se reproduzir em baixas temperaturas (temperatura de geladeira) e de se fixar nas superfícies dos locais, ele também pode ser verificado nos equipamentos e instalações utilizados na produção de alimentos (CAMARGO et al., 2017).

Muitas espécies de animais podem ser infectadas pela L. monocytogenes, sendo que os suínos raramente desenvolvem a doença, com os sintomas ausentes em aves e presentes em ovelhas, cabras e vacas (OIE, 2018). A infecção nesses animais ocorre pelo consumo de água ou alimentos contaminados.

A doença é frequentemente associada a ingestão de silagem com baixa fermentação e elevado pH, no entanto, a contaminação ambiental de camas, água e alimentos no cocho são mais importantes para a ocorrência da infecção (WILESMITH e GITTER, 1986).

A doença pode ocorrer em forma de surtos. Independente da espécie infectada, os animais podem não apresentar sintomas ou desenvolver encefalite seguida de aborto no terço final da gestação, septicemia em recém-nascidos, mastite, ceratoconjutivite e uveíte (WALLAND et al., 2015).

Dentre os animais ruminantes, os ovinos são os mais frequentemente infectados, em seguida caprinos e bovinos. Nas vacas prenhes, por exemplo, existe ainda a possibilidade de emagrecimento, febre, retenção de placenta, infecções no útero e no feto (LOW e DONACHIE, 1997).

Embora seja uma doença rara na população humana, sua alta taxa de letalidade (morte entre os que adoecem) em determinados grupos de pessoas a transforma em uma questão relevante para a saúde pública (WHO, 2018).

Da mesma forma, em animais a doença apresenta altos índices de letalidade associado ao consumo de silagem ou contato com fezes ou leite contaminado (WILESMITH e GITTER, 1986). A presença da bactéria já foi relatada em amostras de leite cru em países como Suécia, Espanha, Estados Unidos, Itália e Brasil, sendo em nosso país, detectada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Paraíba, Ceará e Bahia.

Entretanto, muitas das vezes a ausência da bactéria nos testes não significa um resultado negativo, uma vez que na maioria dos estudos a amostragem é realizada de forma reduzida (BARANCELLI et al., 2020).

Apesar de ser uma infecção pouco diagnosticada, casos humanos no Brasil já foram descritos em vários pacientes, como gestantes com histórico de aborto crônico e parto pré-maturo, bebês, pacientes transplantados renais, bem como adolescentes e idosos com doenças preexistentes. Em outros locais do mundo também já foram observadas lesões cutâneas menores determinadas pela bactéria em pessoas que tiveram contato com bovinos durante abortos e partos, como fazendeiros e médicos veterinários (MCLAUCHLIN e LOW, 1994).

Impacto econômico da Listeriose 

A listeriose pode levar a um impacto econômico significativo na produção de ruminantes (bois, cabras e ovelhas) devido a morte de animais, a diminuição na produção e gastos com tratamento veterinário. A alta taxa de morte em casos graves e o envolvimento de alimentos de origem animal industrializados, como frios, salsichas, queijos macios e produtos de pesca defumados a frio nos surtos, faz com que o dano social e econômico desta doença seja um dos maiores entre as toxinfecções alimentares (WHO, 2018).

Em alguns casos a produção de lácteos não possui regularização no serviço oficial de controle de alimentos. No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabelece a ausência do microrganismo em 25 g de amostra em queijos de média e alta umidade, mas ainda assim a bactéria pode ser encontrada nos alimentos lácteos, principalmente queijo minas frescal.

Diagnóstico 

O diagnóstico da doença pode ser realizado por meio do isolamento do agente a partir de amostras de placenta, feto, secreções uterinas após aborto, sangue de animais septicêmicos, líquido cefalorraquidiano, esfregaços celulares, amostras de tecidos coletados na necropsia, silagem, produtos de origem animal e amostras ambientais, no entanto, é difícil e demorado.

Os testes sorológicos não são utilizados devido ao grande número de resultados falsos e técnicas como a aglutinação clássica ou a reação em cadeia da polimerase (PCR) estão disponíveis (OIE, 2018), mas são pouco difundidas e caras para uso em animais de produção.

Controle e prevenção 

No que se refere ao controle do patógeno durante o manejo de ovelhas, cabras e vacas, são recomendados o descarte correto de materiais contaminados como camas, carcaças e silagem por meio de incineração, o não fornecimento de vegetais estragados ou silagem com baixa fermentação, uso orientado pelo médico veterinário de tetraciclinas na ração de animais quando houver surto de listeriose e higienização das instalações (NIGHTINGALE et al., 2005).

Para um efetivo controle de L. monocytogenes nos produtos alimentares é essencial o emprego de Boas Práticas de Higiene, Boas Práticas de Fabricação, testes microbiológicos e monitoramento ambiental, uma vez que se trata de um microrganismo resistente a métodos de conservação rotineiros, como condição ácida, sal, fumaça e refrigeração em torno de 5 °C (WHO, 2018). A este respeito, existe no Brasil a instrução normativa n° 9 de 8 de abril de 2009, que institui procedimentos de controle de L. monocytogenes em produtos de origem animal prontos para consumo.

Tratamento 

Em relação ao tratamento, ele deve ser indicado pelo Médico Veterinário, que irá determinar o melhor método terapêutico. Geralmente, utiliza-se principalmente os antibióticos-lactâmicos (penicilina ou ampicilina) em associação com a gentamicina. Em casos de alergia à penicilina, boas alternativas são a vancomicina e a sulfametoxazol/trimetoprim.

Outras opções que também podem ser utilizadas são eritromicina, tetraciclina, cloranfenicol, rifampicina e linezolida (CAMARGO et al., 2017). Em ovelhas e cabras, a antibioticoterapia após o aparecimento dos sinais clínicos neurológicos é pouco eficaz. Como forma preventiva, podem ser utilizados em ruminantes antibióticos como sulfonamidas, penicilina e tetraciclina (RADOSTITS et al., 2008).

Prevenção para humanos

Quanto ao ser humano, a melhor maneira de se prevenir o contágio pela bactéria é por meio da pasteurização do leite, cozimento dos alimentos, armazenamento adequado dos produtos e a não ingestão de laticínios não pasteurizados, frios, bem como alimentos prontos para consumo, principalmente por parte de pessoas imunodeprimidas (WHO, 2018).

Apesar de ser uma doença pouco conhecida, a listeriose pode estar presente de forma silenciosa nos animais de produção, gerando perdas financeiras em toda a cadeia de produtos de origem animal, com destaque para o leite e seus derivados.

Em propriedades que utilizam silagem como alimento e houver alterações neurológicas nos animais e abortos, ela deve fazer parte da lista de doenças suspeitas. Assim, é muito importante a adoção de medidas de controle e prevenção que são de fácil aplicação. Mais estudos são necessários para entender a realidade da doença em nosso país e contribuir para sua melhor vigilância no cenário nacional.

 

Autores: 
Blenda Araújo Martins Ferreira - Graduanda em Medicina Veterinária, UFLA.
Raisa Abreu Bragança Colocho - Mestranda em Ciências da Saúde, UFLA.
Elaine Maria Seles Dorneles - Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária, UFLA.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARANCELLI, G. V. et al.  Listeria monocytogenes: ocorrência em produtos lácteos e suas implicações em saúde pública. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v. 78, n. 1, p. 155-168, 2011.  Disponível em:<doi.org/10.1590/1808-1657v78p1552011>.

BRASIL. Instrução Normativa n. 09 de 08 abril de 2009. Institui os procedimentos de controle de Listeria monocytogenes em produtos de origem animal prontos para o consumo. Brasília, 08 de abril de 2009. 

CAMARGO, A. C. et al. Listeria monocytogenes in Food-Processing Facilities, Food Contamination, and Human Listeriosis: The Brazilian Scenario. Foodborne Pathog Dis., v. 14, n. 11, p. 623-636, 2017. Disponível em:<doi:10.1089/fpd.2016.2274>.

LOW, J. C.; DONACHIE, W. A review of Listeria monocytogenes and listeriosis. Vet J., v.153, n. 1, p. 9-29, 1997. Disponível em:<doi:10.1016/s1090-0233(97)80005-6>. 

McLAUCHLIN, J.; LOW, J. C. Primary cutaneous listeriosis in adults: an occupational disease of veterinarians and farmers. Vet Rec., v. 35, n. 26, p. 615-617, 1994. Disponível em:<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/7716869/>

NIGHTINGALE, K. K. et al. Evaluation of farm management practices as risk factors for clinical listeriosis and fecal shedding of Listeria monocytogenes in ruminants. J Am Vet Med Assoc., v. 227, n. 11, p. 1808-14, 2005. Disponível em:<doi:10.2460/javma.2005.227.1808>. Erratum in: J Am Vet Med Assoc., v. 228, n. 5, p. 737, 2006.

OIE. Manual of Diagnostic Tests and Vaccine for Terrestrial Animal. 2018. Disponível em:<https://www.oie.int/standard-setting/terrestrial-manual/access-online/>.

RADOSTITS, O. M. et al. Veterinary medicine: A textbook of the disease of cattle, horses, sheep, pigs and goats. 10th ed. Philadelphia (PA): Saunders. 2008.

SCHELCH, W. F. Epidemiology and Clinical Manifestations of Listeria monocytogenes Infection. Microbiol Spectrum, v. 7, n. 3, p. 1-12, 2019. Disponível em:<doi:10.1128/microbiolspec>.

WALLAND, J. et al. Listeria monocytogenes infection in ruminants: Is there a link to the environment, food and human health? A review. Schweizer Archiv für Tierheilkunde, v. 157, n. 6, p. 319-328, 2015. Disponível em:<doi.org/10.17236/sat00022>.

WHO. Listeriosis. 2018. Disponível em:<https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/listeriosis>. 

BLENDA ARAÚJO

Graduanda em Medicina Veterinária, UFLA.

RAISA BRAGANÇA

Mestranda em Ciências da Saúde, UFLA.

ELAINE DORNELES

Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária, UFLA.

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