No caso específico das infecções oculares, a ceratoconjuntivite infecciosa figura como a doença ocular mais comum em ruminantes, segundo citações de Chaves et al., (2008). Em virtude de sua importancia e dos prejuízos econômicos relacionados a essa patologia, esse artigo descreve alguns dos principais aspéctos da doença.
Ceratoconjuntivite
A ceratoconjuntivite infecciosa, também conhecida por "Pynk eye" ou "doença do olho rosado" pode ser definida como a inflamação da córnea e conjuntiva, ambas estruturas internas que compõe os olhos. A principal característica dessa doença representa o caráter infeccioso dos surtos (causados por bactérias que podem ser transmitidas de animais enfermos para sadios), que podem acometer ovinos, caprinos e bovinos (CHAVES et al., 2008).
Ovinos e caprinos de qualquer idade são susceptíveis a doença, embora borregos e cabritos, além dos animais idosos, representam as categorias de animais mais severamente acometidos (HASKELL, 2008).
Uma variedade de microorganismos pode ser isolada a partir das secreções oculares de animais doentes, sendo que alguns desses agentes podem ser considerados como patógenos primários e outros secundários (RADOSTITS et al., 2002).
O principal agente causador da doença representa a bactéria Moraxella spp, embora outros microorganismos como o Mycoplasma conjunctivae, Chlamydia psittaci ovis, Escherichia coli e Stafilococos aureus podem ser isolados a partir de secreções oculares de animais doentes (CHAVES et al., 2008; AKERSTEDT & HOFSHAGEN, 2004; SMITH & SHERMAN, 1994).
A doença pode ser transmitida pelo contato direto entre animais doentes e sadios, por moscas e outros insetos que funcionam como vetores da doença (entram em contato com secreções oculares e transmitem as bactérias de um animal ao outro) e pela mão contaminada de técnicos tratadores (CHAVES, 2004).
A ceratoconjuntivite pode se manifestar em qualquer época do ano, embora uma maior freqüência de casos ocorra nos meses de verão, em assossiação ao aumento na população de moscas (CHAVES et al., 2008). Fatores que predispõe ao aparecimento dos surtos correspondem a introdução de novos animais na propriedade (sem a realização de um período de adaptação ou quarentena), excessiva lotação animal por área de manejo, problemas de ventilação e/ou instalações pouco arejadas, currais sujos e com grande acúmulo de poeira que pode exercer um efeito irritante sobre os olhos, além de problemas de higiêne que favoreçam a multiplicação de moscas que carreiam as bactérias (SCHOENIAN, 2008).
Sinais clínicos
Os animais acometidos exibem inicialmente desconforto ocular e lacrimejamento, que frequentemente evoluem para hiperemia (olhos avermelhados), fotofobia (evitam o contato direto com a luz mantendo os olhos fechados), blefarospasmo (piscar intermitente dos olhos), dor ocular, opacidade e formação de úlceras na córnea que podem, em muitos casos, determinar a perda completa da visão (CHAVES et al., 2008; TROTTER et al., 1977). Freqüentemente a infecção envolve ambos os olhos, embora os sinais clínicos se iniciem em apenas um dos olhos (AKERSTEDT & HOFSHAGEN, 2004).
Na grande maioria dos casos a ceratoconjuntivite infecciosa não leva há formação de úlceras de córnea em caprinos, que geralmente desenvolvem apenas opacidade nos olhos (olhos esbranquiçados) que pode evoluir para a perda de visão (HASKELL, 2008).
Como sintomas gerais freqüentemente se observam a anorexia (interrupção na alimentação causada sobretudo pelo desconforto ocular), perda de peso, prostração e febre. Dificilmente a ceratoconjuntivite infecciosa leva a morte dos animais acometidos (SCHOENIAN, 2008), embora os prejuízos decorrentes da perda de condição corporal e custos relativos ao tratamento dos animais enfermos acarretem grandes prejuízos econômicos às propriedades.
Figura-1: Ceratoconjuntivite infecciosa em ovinos. Animal presentando fotofobia, secreção e desconforto ocular. Adaptado de Schoenian, 2008.
Figura-2: Evolução do quadro de Ceratoconjuntivite Infecciosa em caprino. Neovascularização (proliferação de vasos sanguíneos em virtude do processo inflamatório), opacidade e úlcera de córnea. Adaptado de Schoenian, 2008.
Embora o diagnóstico da ceratoconjuntivite envolva basicamente a observação dos sinais clínicos e histórico da evolução da doença no rebanho, o agente causador só pode ser determinado através de testes laboratorias de isolamento e identificação dos microorganismos a partir de amostras de secreção ocular dos animais enfermos (CHAVES et al., 2004).
Tratamento e prevenção
A intensidade do tratamento depende do número de animais acometidos e muitas vezes do número de técnicos e funcionários disponíveis para execução dos cuidados.
Tratamentos locais baseados na limpeza dos olhos com solução fisiológica estéril e utilização de colírios e pomadas oftálmicas correspondem às primeiras medidas para o controle da doença. Em muitos casos, especialmente quando um grande número de animais é acometido em uma mesma propriedade, torna-se necessário a utilização de formulações comercias de antibióticos injetáveis, geralmente associados aos cuidados tópicos.
Os animais afetados devem ser isolados do restante do rebanho, preferencialmente em áreas ao abrigo da luz direta (HASKELL, 2008). Provimento de boa alimentação e fácil acesso a cochos e aguadas tornam-se importantes para um mais rápido restabelecimento dos animais (RADOSTITS et al., 2002).
Não existem vacinas específicas para ovinos e caprinos disponíveis comercialmente. Cabe ressaltar que as diferentes formulações disponíveis para bovinos não conferem proteção para ovinos e caprinos, visto que o microorganismo responsável pela ceratoconjuntivite infecciosa em bovinos (Moraxella bovis) é diferente da espécie que acomete os pequenos ruminantes (SMITH & SHERMAN, 1994).
Nesse sentido, a melhor forma de prevenção corresponde a adoção de medidas gerais de higiene (limpeza de currais e instalações de manejo, controle de moscas, conscientização da necessidade de desinfecção das mãos de técnicos e funcionários após o manejo de animais enfermos), realização de um período mínimo de 30 dias de quarentena antes da introdução de novos animais ao rebanho e isolamento e tratamento de ovinos e caprinos enfermos (SCHOENIAN, 2008).
Referências
AKERSTEDT, J., HOFSHAGEN, M. Bacteriological investigation of infectious Keratoconjunctivitis in Norwegian Sheep. Acta Veterinaria Scandinavica, v.45, n.1-2, p.19-26, 2004.
CHAVES, N.S.T.; LIMA, A.M.V.; AMARAL, A.V.C Surto de ceratoconjuntivite infecciosa em ovinos causada por Moraxella spp. No Estado de Goiás, Brasil. Ciência Animal Brasileira, v.9, n.1, p.256-261, 2008.
CHAVES, N.S.T. Olho Rosado. DBO Rural, p.132-133, out., 2004.
FAERBER, C.W.; McNEAL, L.G.; HARDING, R.L. Eye care. IN: Small Ruminant Production Medicine and Management, 2009. Disponível em: www.infovet.com. Acesso em 24/08/09.
HASKELL, S.R.R. Keratoconjunctivitis/Conjunctivitis. In____.: Blackwell´s Five Minute Veterinary Consult: Ruminant. ed.1. Ames: Iowa/USA: Wiley-Blackwell, p.450-453, 2008.
RADOSTITS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C. Ovine and caprine contagious ophthalmic (ovine and caprine infectious keratoconjuntivities, contagious conjunctivo-keratitis, pinkeye in sheap and goats). In____.: Veterinary Medicine - A textbook of the diseases of cattle, sheep, pigs, goats and horses. ed.9. Rio de Janeiro/Brasil: Guanabara Koogan S/A, v.1, p.1007-1008, 2002.
SCHOENIAN, S. Infectious Keratoconjunctivitis. Small Ruminant Info Series - University of Maryland Cooperative Extension, 2008.
SMITH, M.C.; SHERMAN, D.M. Ocular System. In____.: Goat Medicine. Ed.1. Baltimore/USA: Lippincott Williams & Wilkins, v.1, p.179-190, 1994.
TROTTER, S.L.; FRANKLIN, R,M., BAAS, E.J. Epidemic caprine Keratoconjunctivities: Experimentally induced disease with a pure culture of Mycoplasma conjunctivae. Infection and Immunity, v.18, n.3 p.816-822, 1977.