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Bem-estar na produção de bezerras leiteiras - Parte II

POR FERNANDA VIEIRA

E SARA SHIELDS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 02/03/2016

9 MIN DE LEITURA

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Escrevemos anteriormente sobre as questões de bem-estar associadas aos sistemas de alojamento para bezerras leiteiras. Neste artigo, vamos discutir outro problema comum na produção de bezerras: o aleitamento limitado.

Tradicionalmente na produção leiteira, os sistemas de aleitamento para bezerras são baseados na taxa diária de cerca de 10 % do peso vivo, de tal modo que uma bezerra de 40 kg recebe duas refeições de aproximadamente 2 kg cada uma. No entanto, bezerras amamentadas de forma natural voluntariamente bebem de 16% a 24% do seu peso corporal em seis a oito refeições por dia, o que representa um consumo diário de 10 litros ou mais. No Brasil, as bezerras leiteirassão normalmente amamentadas com 4 litros divididos em duas refeições por dia durante as duas primeiras semanas de idade e, depois desse período, uma vez por dia. Sabe-se que essa quantidade de alimentação está associada com fome crônica nesses animais (1,2), o que é um problema bastante preocupante em termos de bem-estar animal. Simplificando: bezerras leiteiras não estão sendo alimentadas suficientemente.

A prática de reduzir a quantidade de leite administrada às bezerras diminui o trabalho e os custos, e é conhecida por estimular o consumo de concentrado e facilitar o desmame mais cedo. De fato, um estudo de 2004 mostrou que o aleitamento restrito faz com que as bezerras comecem a consumir alimentos sólidos mais cedo (3). Alguns produtores também se preocupam pois acreditam que o aleitamento em grandes quantidades em uma única refeição possa resultar em diarreia. No entanto, a literatura científica recente mostra que, com um bom manejo, produtores e animais podem se beneficiar com a maior quantidade de leite fornecida às bezerras durante o aleitamento.

Alguns pesquisadores descobriram que o fornecimento de maior volume de leite resulta em maiores taxas de crescimento sem comprometer a saúde ou reduzir o consumo total de ração após o desmame. Por outro lado, limitar o leite resulta em menor ganho de peso em comparação às bezerras com acesso irrestrito ao leite. Um estudo de 2002 publicado no Journal of Dairy Science descobriu que bezerras alimentadas ad libitum (acesso ilimitado ao leite), através de um alimentador com teteiras, consumiram 89% mais leite e ganharam 63% mais peso do que bezerras alimentadas convencionalmente (duas vezes por dia através de balde). Os pesquisadores também descobriram que as bezerras que puderam mamar apresentaram o mesmo apetite para alimentos sólidos no desmame quando comparadas àquelas alimentadas por balde, e o maior consumo de leite, mais do que compensar as calorias adquiridas, fez com que as bezerras consumissem alimentos mais sólidos mais cedo.

Em outro experimento, bezerras que mamavam livremente ganharam 16,5 kg em comparação aos 4,5 kg das bezerras alimentadas convencionalmente. Bezerras alimentadas livremente ganharam peso 2,4 vezes mais rápido do que aquelas que foram convencionalmente alimentadas durante as duas primeiras semanas de vida, e 1,4 vez mais rápido durante as duas semanas seguintes. Outros estudos descobriram resultados semelhantes (4,5). A biologia das bezerras permite um crescimento rápido durante as primeiras semanas de vida e, se essa primeira oportunidade para ganhos rápidos não for atendida, altos níveis de ingestão mais tarde na vida podem não permitir o crescimento compensatório.

Alguns produtores podem estar alimentando as bezerras com quantidades restritas de leite devido à ideia de que o aumento da ingestão desse alimento pode sobrecarregar a capacidade do abomaso, fazendo com que o leite entre no rúmen. Isso poderia perturbar os micróbios da flora e fauna do rúmen e aumentar o risco de indigestão, diarreia e crescimento reduzido. No entanto, um estudo de 2015 mostrou que o aleitamento voluntário de 3,5 a 6,8 litros de leite morno fornecido através de um bico ou teteira não resultou em leite no rúmen, e não foi observado comportamento indicando dor ou desconforto abdominal, independentemente da quantidade de ingestão. Além disso, a ingestão de leite pode ser aumentada através de refeições menores ao longo do dia, em vez de apenas duas refeições maiores. Embora isso exija mais trabalho, alimentar as bezerras com refeições menores, e mais frequentemente, imita melhor o padrão de alimentação natural desses animais.

Também existem indícios de que alimentar bezerras com mais leite pode resultar em eventuais melhorias de produtividade. Um estudo de 2012 revelou que cerca de 25% da variação da produção de leite através da primeira lactação foi associada aos ganhos de peso antes do desmame, identificando a nutrição e o manejo das bezerras no pré-desmame como principais fatores ambientais que influenciam a expressão da capacidade genética do animal para a produção de leite. No entanto, nem todos os estudos concordam, e uma recente pesquisa com bezerras da raça holandesa alojadas em barracão em Ontário, Canadá, não relatou diferenças significativas na produção de leite ou na idade no primeiro parto, apesar de relatar melhor crescimento de bezerras alimentadas com 8 litros de leite por dia em comparação àquelas alimentadas com apenas 4 litros (6). Os resultados de produção podem, portanto, variar conforme a região do mundo e as práticas de gestão específicas.

Outra vantagem potencial de alimentar as bezerras com maior quantidade de leite ou sucedâneo do leite é a melhoria da saúde animal. O funcionamento reduzido do sistema imunológico afeta a susceptibilidade a doenças, e esse sistema fica comprometido em bezerras leiteiras com baixos níveis de nutrição (7). Na verdade, um experimento mostrou que o aumento da alimentação de leite pode de alguma forma melhorar a imunidade desses animais (8). Além disso, a alimentação ad libitum por bicos ou teteiras permite que as bezerras desenvolvam um comportamento de alimentação mais natural, e isso tende a reduzir a motivação para a sucção ou mamada cruzada, o que facilita o alojamento em grupo.

Bezerras alimentadas com maior quantidade de leite devem ser desmamadas aos poucos ou com mais idade. Embora o fornecimento de uma quantidade adicional de leite às bezerras resulte em melhor ganho de peso, se isso não for cuidadosamente gerido também é capaz de reduzir a ingestão inicial de concentrado, o que pode resultar em um período de desnutrição. É importante maximizar o consumo de ração sólida antes do desmame para minimizar a redução de crescimento que normalmente ocorre durante a mudança de dieta (9). Isso pode ser conseguido de várias maneiras.

A ingestão de sólidos aumenta com a idade, então atrasar a idade de desmame naturalmente reduz a dependência de leite (10). Além disso, o programa de alimentação pode ser adaptado para reduzir gradualmente a provisão de leite a partir de um valor inicial elevado (20% de peso corporal), durante as primeiras semanas de vida, para quantidades menores (10% do peso corporal) nas semanas que antecedem o desmame. Esse método tem demonstrado um aumento do consumo de concentrado e resultado em pouca ou nenhuma redução de crescimento.

Em um estudo com desmame tardio, bezerras com acesso livre ao concentrado e feno foram amamentadas com 20% do seu peso corporal até o 24º dia, momento em que o valor foi reduzido gradativamente pela diluição do leite em água até que uma taxa 10% do seu peso corporal em leite foi alcançada. Isso foi feito durante 16 dias até o desmame. Em comparação às bezerras alimentadas convencionalmente (10% do seu peso corporal por 44 dias), as que foram gradualmente desmamadas e inicialmente alimentadas com maior quantidade não só apresentaram nenhuma redução de crescimento antes ou durante o desmame, mas também mostraram melhor ganho de peso ao longo do estudo e um rúmen melhor desenvolvido metabolicamente e fisicamente. A facilitação social também pode incentivar a ingestão de alimentos sólidos, ou seja: as bezerras podem aprender a comer alimentos sólidos mais cedo e fazer uma transição mais suave se forem alojadas em grupos com outras bezerras. Bezerras observando suas parceiras comendo alimentos sólidos começarão a comer o mesmo alimento mais cedo.

Alguns pesquisadores do Programa de Bem-Estar Animal da Universidade de British Columbia concluíram que: "Bezerras leiteiras alimentadas com segurança podem ingerir aproximadamente 20% do peso corporal (PC) de leite por dia, e o maior consumo de leite promove maior ganho de peso vivo, melhor eficiência alimentar, incidência de doenças reduzida e maior oportunidade de expressar comportamentos naturais, que em combinação sugerem um maior nível de bem-estar. O método de desmame tem grande influência no consumo de ração, no desenvolvimento ruminal e no crescimento de bezerras amamentadas com maiores quantidades de leite".

Além disso, "o desmame gradual incentiva o consumo de concentrado durante o período de pré-desmame, e tanto a idade de desmame quanto a duração do desmame influenciam esse consumo. O aumento do consumo de alimentos sólidos durante o processo de desmame contribui para o desenvolvimento ruminal, permitindo maior ingestão inicial e maior ganho de peso vivo após o desmame".

Juntos, esses resultados indicam que o aumento das porções de leite tem importantes benefícios para o bem-estar das bezerras leiteiras. Está claro que o regime de aleitamento limitado é muito restritivo em comparação ao ad libitum ou àquele em que maiores quantidades de leite são fornecidas, e que bezerras amamentadas de maneira limitada têm menor consumo de nutrientes e menores ganhos diários em comparação às bezerras com acesso a maiores quantidades de leite. Bezerras jovens são deixadas com fome quando são alimentadas apenas de maneira convencional, com pouca quantidade de leite, e, levando em consideração as mais recentes pesquisas e compreensão do comportamento desses animais e da sua biologia, os produtores conscientes irão trabalhar para melhor atender essa necessidade básica.

Neste artigo e no último, abordamos as questões sobre bezerras leiteiras intensivamente confinadas e o aleitamento. Para o próximo artigo, vamos continuar com as questões de bem-estar animal e falaremos sobre a sucção ou mamada cruzada e o manejo para evitar esse comportamento.

Referências bibliográficas

1 Vieira, A.P., Guesdonb, V., Passilléb, A.M., Keyserlingka, M.A.G.V., Wearya, D.M. Behavioural indicators of hunger in dairy calves. Applied Animal Behaviour Science, 109, 180-189, 2007.

2 Jensen, M.B., Weary, D. Group Housing and Milk Feeding of Dairy Calves. WCDS Advances in Dairy Technology, 25: 179-189, 2013.

3 Garry, F.B. 2004. Animal well-being in the U.S. dairy industry. In: Benson, G.J. and Rollin BE (eds.), The Well-Being of Farm Animals: Challenges and Solutions (Ames, Iowa: Blackwell Publishing, pp. 207-40).

4 Appleby, M.C., Weary, D.M., Chua, B. Performance and feeding behaviour of calves on ad libitum milk from artificial teats. Applied Animal Behaviour Science, 74, 191–201, 2001.

5 Quigley, J.D., Martin, K.R., Bemis, D.A., POTGIETER, L.N.D., Reinemeyer, C.R., Rohrbach, B.W., Dowlen, H.H., Lamar, K.C. Effects of Housing and Colostrum Feeding on Serum Immunoglobulins, Growth, and Fecal Scores of Jersey Calves. Journal of Dairy Science, 78:893-901, 1995.

6 Kiezebrink, D.J., A.M. Edwards, T.C. Wright, J.P. Cant, and V. R. Osborne. 2015. Effect of enhanced whole-milk feeding in calves on subsequent first-lactation performance. Journal of Dairy Science, 98(1): 349-56.
7 J.M., Pollock, T.G., Rowan; J.B., Dixon, S.D., Carter, D., Spiller, H., Warenius. Alteration of cellular immune responses by nutrition and weaning in calves. Research in Veterinary Science, 55(3): 298-305, 1993.

8 Nonnecke, B.J., M.E. Van Amburgh, M.R. Foote, J.M. Smith, and T.H. Elsasser. 2000. Effects of dietary energy and protein on the immunological performance of milk replacer-fed Holstein bull calves. Journal of Dairy Science, 83:135. (Abstr.)

9 Weary, D.M., J. Jasper, and M.J. Hötzel, 2008. Understanding weaning distress.
Applied Animal Behaviour Science, 110: 24-41.

10 Passillé, A.M. and J. Rushen. 2012. Adjusting the weaning age of calves fed by automated feeders according to individual intakes of solid feed. Journal of Dairy Science, 95: 5292-5298.
 

SARA SHIELDS

Especialista em comportamento e bem-estar de animais de produção da Humane Society International (HSI)

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VICTOR IONATAN FIOREZE

PELOTAS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 07/06/2017

Boa tarde Luis Gustavo. Quando falo de referência quero dizer referência bibliográfica. Precisaria saber o autor ou autores, ano e revista ou congresso, algo para localizar a publicação original. Obrigado
RONALDO MARCIANO GONTIJO

BOM DESPACHO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/04/2016

Luiz,



Vai depender do peso do bezerro, não é mesmo?
LUIZ GUSTAVO

MARINGÁ - PARANÁ

EM 25/04/2016

Victor já foi descrito o volume referente a porcentagem de 16% a 24%, que é de 10 litros aproximadamente.
RONALDO MARCIANO GONTIJO

BOM DESPACHO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/03/2016

Como se sabe o que é um "comportamento natural" de um ser artificial?
VICTOR IONATAN FIOREZE

PELOTAS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/03/2016

Parabéns! Muito interessante e bem esclarecedor. Se pudessem eu gostaria que postassem a referencia dos volumes de leite, daquela parte que fala  "No entanto, bezerras amamentadas de forma natural voluntariamente bebem de 16% a 24% do seu peso corporal em seis a oito refeições por dia...". Seria muito útil pra mim. Obrigado!

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