ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Um panorama sobre lácteos com Scott Briggs

POR STEPHANIE ALVES GONSALES

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 04/12/2023

6 MIN DE LEITURA

0
4

Durante os dias 07 e 08 de novembro, a Expo Dom Pedro, em Campinas/SP, foi palco da 9ª edição do Dairy Vision, evento que contou com a presença de mais de 400 agentes do setor e fez jus, mais uma vez, ao título de um dos principais fóruns de discussão da cadeia láctea no país e um dos mais representativos em conteúdo, no panorama mundial. 

A primeira sessão do evento trouxe perspectivas do que esperar no panorama nacional e internacional no setor lácteo e contou com a palestra “O novo paradigma para a oferta de leite: como a demanda será suprida?”, apresentada por Scott Briggs, Diretor Administrativo na National Milk, Austrália.

Scott ajudou o público presente a compreender as implicações na oferta atual durante sua palestra, e logo após conversou com a equipe do MilkPoint para esclarecer ainda mais as perspectivas para o cenário do setor. Confira:

MilkPoint: Durante sua palestra você enfatizou as mudanças que demanda vem sofrendo. Como você entende que esse movimento deve impactar o mercado?  

Scott: Meu objetivo foi enfatizar que a demanda está mudando muito, temos sentido muito a questão de inflação mundial que acaba impactando nos desejos de compra. Sendo assim, eu vejo que a oferta tem que pensar no que a demanda quer, para aí sim fornecer. A ideia é responder ao mercado, a oferta tem que responder aos pedidos do consumidor.
 

MilkPoint: Você comentou várias vezes que o Brasil tem oportunidades de crescimento, mas ele tem que pensar mundialmente, não só em proteger o mercado. Como você enxerga essa questão de proteção de mercado?

Scott: Estou vendo aqui muitas pessoas falando “a gente tem que proteger o mercado de importação”, mas também vejo que o Brasil está enfrentando muita dificuldade de crescer na produção de leite, muita dificuldade de ter mais produtos. Aí talvez fique difícil a gente ser competitivo. O país só perde com esse tipo de pensamento, porque ao pensar em apenas suprir o mercado interno, acaba atraindo ainda mais a importação. Por exemplo, na Austrália, a gente sempre pensava que a manteiga australiana nunca iria perder espaço na prateleira. Aí agora você vai lá, é tudo da Europa, da Nova Zelândia. A gente pensou que nunca poderia perder aquele mercado. Mas perdemos. A varejista vai pensar “eu posso pegar um produto melhor com um custo interessante” então ele vai ver pelo custo e qualidade na entrega. É o que vem acontecendo aqui. Precisa focar mais em aumentar a produção interna. Aqui a produção permanece andando de lada há vários anos, e isso acaba, de uma forma ou de outra, impactando as questões de mercado.

MilkPoint: E a China, como impactou as questões de oferta e demanda no mercado de lácteos mundial?

Scott: A oferta interna da China cresceu bastante. Por volta de 2014, 2015, o governo chinês estabeleceu que precisava de uma oferta interna maior de leite para não ficar na mão de fornecedores externos. Depois disso, a produção local cresceu de 30 bilhões de litros para 40. O que representa um grande crescimento, 30% em 5 anos, em um período curto. E também profissionalizou o setor.  Foram construídas fazendas de 50 mil cabeças, 100 mil cabeças, com alta tecnologia etc. Então esse crescimento da China e o melhoramento da qualidade do produto, impactou na menor necessidade de importação Chinesa.

MilkPoint: E mesmo com esse aumento de produção interna, a China ainda permanece como grande player importador de lácteos?

Scott:  Naquela época, a demanda estava crescendo também. No lado da oferta, o governo falou que deveria crescer a produção interna. Mas, também no lado de demanda, o governo estimulou o consumo para o povo. Isso foi até a época de covid, pois durante a pandemia, embora ainda existisse o consumo dentro das casas, grande parte do consumo de lácteos na China é fora de casa. Então, a parte da demanda caiu muito, tínhamos a oferta da China subindo 7%, 8% por ano, mas na época de Covid, a demanda parou de crescer; não caiu tanto, mas parou de crescer. Então, com isso, abriu-se um gap, e o que ela fez com esse leite? Ela produziu muito LPI (Leite em pó integral), aí ela parou de importar de outros países. Então, o que mudou lá na China para o longo prazo é que o país agora tem mais opções, mais flexibilidade, ela não tem que importar tanto a não ser que a demanda continue crescendo, e não acredito que vá crescer no mesmo ritmo que crescia antes. A China ainda vai ter necessidade de importar, mas não tanto como antes.

Scott Briggs no DV 2023

MilkPoint: Seguindo a linha de importação e exportação, você acredita que o Brasil possa vir a ser um exportador de lácteos?

Scott: Sim. Mas a produção interna tem que voltar a crescer. Estamos estagnados num volume de produção de cinco ou seis anos atrás, tem alguns grandes produtores que são os melhores do mundo. Aqui existe a produtividade altíssima, mas tem outros que são bem pequenininhos. Vai acontecer que, ao longo dos anos o maior produtor vai receber mais investimentos e o pequeno tende a sair da atividade. E tem o fato de que a indústria láctea é uma indústria cara, né? Cada fazenda custa, não sei quanto que custa aqui, mas se pegarmos a Austrália por exemplo, estamos falando de 5 milhões de dólares, 10 milhões de dólares, é muita coisa. Então, eu acredito que esse aumento de produção vai demorar, você tem falta de capital aqui e além de tudo é um processo que leva tempo. Pegando de exemplo o que já falamos da China, o governo estimulou, levou tempo até as grandes fazendas serem construídas para só depois a produção passar a crescer.

MilkPoint: Mudando um pouco para a produção porteira adentro, você comentou sobre as limitações da produção a pasto. Atualmente vemos um crescimento de produção de leite confinado, como você enxerga essa mudança do pasto para o Compost ou Freestall?

Scott: O leite e pasto cresceu muito entre 2005 e 2015 e parou de crescer. Todo terreno bom e barato já foi comprado. Isso foi um movimento que aconteceu no Uruguai, na Holanda, na Nova Zelândia. Toda a área destinada a produção de leite se já não está, uma hora vai estar toda ocupada. O que eu vejo que pode acontecer é a transformação desses espaços em apenas fornecedores de alimentos, silagem, grãos, pasto etc., que passam ser fornecedores para fazendas maiores, no caso, com animais confinados. A fazenda que trabalha a produção de leite confinada é capaz de ter uma maior eficiência produtiva. Mas acredito que seja um processo longo, não vai ser amanhã.

MilkPoint: Você acredita que o clima, com cada vez mais instabilidades, fenômenos naturais etc., acaba impactando na hora da escolha do sistema ser voltado ao confinado e não ao pasto, devido a maior possibilidade de controle?

Scott: O clima, com certeza, impacta. Por exemplo, os últimos 3 anos foram muito bons para a produção na Austrália, enquanto aqui teve problemas com secas etc. Agora estamos com uma boa precipitação aqui. Mas a gente não pode ter controle sobre isso, sobre o clima. E isso acaba impactando mais fortemente produções a pasto. Diante disso, em sistemas confinados essa variável é menos complexa: barracões bem planejados permitem que a eficiência se mantenha independente das condições climáticas.  

Scott Briggs é Diretor administrativo na National Milk e Bridgecape Commodities, trabalha com soluções comerciais e logísticas para leite e derivados na Austrália Oferecendo opções inovadoras de gerenciamento de risco e financiamento para todos os membros da cadeia de suprimentos de lácteos australiana.

Scott Briggs no DV 2023

Você confere outros conteúdos sobre o Dairy Vision aqui. Continue acompanhando o MilkPoint, novos materiais e entrevistas com especialistas presentes no evento estão sendo preparados para você, e não deixe de reservar na sua agenda: durante os dias 05 e 06 de novembro de 2024, em Campinas, São Paulo, acontecerá a décima edição do Dairy Vision. Faça parte!

 

STEPHANIE ALVES GONSALES

Zootecnista formada pela Universidade Estadual de Maringá e pós-graduada em Gestão do Agronegócio. Integrante da Equipe de Conteúdo do MilkPoint.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures