A pesquisa de sangue em leite permite estabelecer uma relação com a saúde do animal, pois sendo o leite proveniente de úberes doentes, pode haver a presença de sangue no mesmo, indicando ordenha de animais com infecções.
Conforme legislação brasileira, entende-se por leite, sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. A legislação também menciona que a obtenção desta matéria-prima deve ocorrer em condições higiênico-sanitárias. Sendo assim, um leite que apresenta sangue não pode ser considerado leite, pois as vacas que o produziram não são sadias. O sangue pode aparecer no leite devido alguma infecção no animal ou até mesmo ferimentos ocasionados acidentalmente.
O leite é formado através de células do úbere que recebem nutrientes que, por sua vez, chegam pelo sangue. Sendo assim, o úbere da vaca é irrigado por sangue, e estas veias que o transportam podem ser rompidas, ocasionando a liberação de sangue juntamente com o leite durante a ordenha quando, por exemplo, um animal pisoteia o úbere do outro, ou então o úbere está muito grande e raspa nas pernas do animal.
Tronco (2008) descreve em seu livro uma metodologia fácil e rápida para detecção de sangue em leite, a qual pode ser implantada facilmente em qualquer laboratório de controle de qualidade de laticínios. Somente a visualização da amostra não é o suficiente, pois sofre influência da intensidade de luz do ambiente, bem como percepção do analista. Para esta análise utilizam-se vidrarias e equipamentos que já existem no laboratório e são utilizados em outras análises de rotina, como: pipeta ou pipetador automático de 10 mL, tubo de ensaio com tampa e centrífuga (pode-se utilizar a mesma da análise de gordura por Gerber).
Passo-a-passo da análise:
1. Pipetar com o auxílio de uma pipeta ou pipetador automático, 10 mL da amostra de leite para o tubo de ensaio com tampa;
2. Preparar um contra-peso para centrifugação (um tubo de ensaio contendo 10 mL de leite);
3. Posicionar os tubos com as amostras de forma paralela dentro da centrífuga, para que não ocorra trepidação;
4. Centrifugar os tubos de ensaio por 5 minutos à 1200 -1500 rpm;
5. Após centrifugação completa, remover o tubo de ensaio da centrífuga;
6. Observar sempre o fundo do tubo de ensaio: se existir depósito de sangue ao fundo (cor vermelha), significa resultado positivo, ou seja, presença de sangue na amostra de leite;
7. Em caso de ausência de coloração vermelha, o resultado é negativo para sangue.
Abaixo uma imagem de uma amostra de leite com resultado positivo para sangue:
Esta não é uma análise explicitamente exigida pela legislação e também não é muito praticada pelos controles de qualidade de laticínios, entretanto, como podemos ver, é uma análise simples e rápida, praticamente sem custo e sem necessidade de investimentos. Porém, auxilia significativamente na manutenção da qualidade do leite. Sugere-se implantar este teste na recepção do leite, analisando uma amostra por compartimento. Bem como, disponibilizar esta análise aos produtores, para que os mesmos possam encaminhar amostras caso tenham dúvidas.
Fonte: TRONCO, V.M. Manual para Inspeção da Qualidade do leite. Santa Maria: 3º Ed. p.129; UFSM, 2008.