A recente entrevista do Sr. Eduardo Desimoni (clique aqui para lê-la) descreve muito bem a realidade da produção na Nova Zelândia. Como o preço do leite naquele país tem sido discutido neste site em outras ocasiões, talvez seja de interesse notar que o preço de R$ 0,70 por litro, pago ao produtor afiliado a Fonterra, inclui não apenas o leite, mas também a distribuição dos lucros, já que os produtores são também os donos da cooperativa. A composição do preço para o exercício de 2003/2004 foi a seguinte (Tabela 1):
Os R$ 0,70 são realidade, dinheiro mesmo, enquanto que o preço do leite (R$ 0,62) é uma estimativa do preço que a Fonterra poderia pagar ao cooperado, depois de cobrir seus custos e ter um lucro razoável, no caso hipotético que todo o leite fosse processado e vendido como commodities, segundo métodos de firma auditora internacional. Os lucros são distribuídos totalmente, após retenção para reinvestimento, e o montante decorre da diferença entre a remuneração total e o preço do leite.
Para avaliar o retorno do investimento realizado pelo produtor, eles começam por fixar o "valor justo" das ações, com base nas estimativas da firma auditora, obtendo assim a valorização das ações no ano. Os lucros decorrentes das vendas de leite são calculados subtraindo do total recebido pelo produtor a parcela correspondente ao preço do leite, a matéria prima, utilizando-se neste caso o preço histórico. É como se o leite entrasse na conta com um custo de oportunidade. Desta forma, como pode ser visto na Tabela 2, o produtor cooperado, que em média tinha investido em ações R$ 0,88 por litro, teve um retorno de R$ 0,10 por litro, metade decorrente da valorização das ações e metade das vendas da Fonterra, correspondente a 11% do capital investido. No ano anterior o retorno foi 16,7%.
Desta forma, o produtor pode avaliar o seu investimento como "acionista" da cooperativa. E o lucro como produtor de leite? Para isto ele deve comparar o preço do leite com o seu custo de produção. No mesmo site informa-se que o custo de produção está em torno de 0,13 dólares dos EUA por litro, que, a taxa de R$ 2,76 por dólar, correspondem a custo de R$ 0,36 por litro. Nada mal, comparando esse custo com o preço histórico da Tabela 2, de R$ 0,65 por litro.
Por sinal, no site da Fonterra, o baixo custo de produção é citado em primeiro lugar como causa para explicar a competitividade da Nova Zelândia no leite. Já visto de fora, outras causas, subjacentes, impressionam mais. Eduardo Desimoni acertadamente menciona a organização dos produtores, e poderiam acrescentar-se outras, como eles serem donos do laticínio, e, no fundo, no fundo, terem criado uma sociedade nacional pouco predatória. Eles aprenderam que estão todos no mesmo barco.
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1 Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária - Universidade Federal de Minas Gerais