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Impacto da distocia na saúde, bem estar, desempenho e sobrevivência de bezerros

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E MARÍLIA RIBEIRO DE PAULA

CARLA BITTAR

EM 26/04/2013

7 MIN DE LEITURA

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O nascimento e as primeiras horas de vida do bezerro são cruciais para a saúde e sobrevivência ao longo de sua vida, sendo que os partos distócicos são um grande problema para os sistemas de produção. A distocia é caracterizada por um parto com dificuldades e que necessita de assistência, muito embora a necessidade de auxílio seja muitas vezes mal interpretada. Em bovinos, a distocia é um dos fatores que mais contribui para a mortalidade perinatal, tendo incidência entre 10 e 50% nos rebanhos, sendo os casos de distocia severa representados por índices entre 2 e 22%.

A distocia tem impacto negativo sobre a saúde e bem estar tanto das vacas quanto dos bezerros, podendo comprometer o desempenho destes durante toda a vida. Pesquisas sugerem o efeito negativo da distocia em longo prazo, comprometendo a taxa de sobrevivência na fase adulta e subsequente produção de leite.

No período perinatal, os bezerros podem sofrer hipóxia e acidose grave, resultando em dificuldades respiratórias e inadequado funcionamento dos órgãos. Lesões internas, como hemorragia e fraturas, podem ocorrer durante o parto distócico, como resultado da pressão exercida durante a assistência realizada no parto. Outro efeito relatado em bezerros nascidos de parto distócico é a dificuldade na termoregulação, pois estes animais nascem menos preparados para enfrentarem situações de estresse por frio.

Animais nascidos de parto distócico em geral apresentam baixo vigor, o que pode afetar negativamente a absorção de imunoglobulinas do colostro, assim como as taxas de crescimento, quando comparados a animais nascidos de partos eutócicos (sem assistência).

Em vista disso, pesquisadores avaliaram o efeito de partos distócicos sobre a transferência de imunidade passiva e a sobrevivência de bezerros leiteiros, bem como seu desempenho até a fase adulta.

O estudo foi realizado em uma fazenda localizada em Dumfries/Reino Unido. Os partos foram acompanhados por uma equipe de profissionais qualificados e a assistência no parto ocorria quando, de acordo com os profissionais, a vaca estava com dificuldades para parir. A dificuldade de parição foi classificada em escores:

1 – Normal (sem assistência);
2 – Dificuldade leve (parto auxiliado pelo tratador, bezerro bem posicionado)
3 – Dificuldade moderada (parto auxiliado pelo tratador, bezerro mal posicionado);
4 – Dificuldade elevada (necessidade da intervenção de um veterinário).
O mau posicionamento foi definido como qualquer desvio na posição do bezerro, como por exemplo, o mau posicionamento da cabeça e das patas dianteiras.

Um total de 490 bezerros da raça Holandês, nascidos entre setembro de 2008 e agosto de 2010, foram monitorados (Tabela 1). Para cada parição foram registrados: data do nascimento, estação do ano, peso ao nascer, condição do nascimento (nascido vivo ou morto), partos gemelares, sexo do bezerro, grupo genético, dados da mãe e do pai, paridade da mãe (primíparas ou multíparas) e a dieta da mãe durante a gestação.

Tabela 1. Descrição do número de bezerros monitorados ao longo do experimento, de acordo com o grau de distocia



Os animais foram separados de suas mães 24 horas após o nascimento e receberam dois litros de colostro, proveniente de suas próprias mães. Os animais que se recusavam a mamar o colostro na mamadeira recebiam o colostro através de sonda esofágica. Após o período de colostragem, os bezerros foram alojados em baias individuais por 11 dias, recebendo diariamente 4 litros de leite divididos em duas refeições, água e concentrado à vontade. 

Passados estes 11 dias, os animais eram remanejados para baias coletivas, onde recebiam diariamente 6 litros de sucedâneo, através de um alimentador automático; além disso, os animais recebiam água, feno e concentrado à vontade. O desaleitamento ocorreu de forma gradual aos 50 dias de idade.

Após o desaleitamento, as fêmeas foram remanejadas para grupos de mesma idade e foram inseminadas quando o peso corporal era maior do que 330kg, aproximadamente aos 15 meses de idade.

Os parâmetros avaliados durante o experimento foram: cortisol salivar (24 horas após o nascimento); temperatura retal (até o 4º dia de vida); taxa de sobrevivência (animais mortos até o desaleitamento); transferência de imunidade passiva (coletas de sangue dos 3 aos 7 dias de vida); pesagem dos animais do nascimento até o primeiro serviço (no caso de fêmeas).

Como resultados, os autores encontraram que os animais nascidos de parto com dificuldade moderada apresentaram maior temperatura retal durante os primeiros 4 dias de vida (Figura 1).

Figura 1. Temperatura retal (oC) de bezerros leiteiros nos primeiros quatro dias de vida, de acordo com a dificuldade do parto.

Os animais que necessitaram de qualquer assistência no parto apresentaram maior cortisol salivar que os animais nascidos de parto sem assistência. De acordo com os autores, este aumento pode ser reflexo de uma resposta do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, a fim de se adaptar ao meio extrauterino.

A falha na transferência de imunidade passiva observada neste experimento foi de 26,8%, 43,1% e 45,5% para partos normais, com dificuldade leve e dificuldade moderada, respectivamente. Estas falhas podem ser explicadas pelo estado de acidose e hipóxia ocorridos nos bezerros após os partos com assistência. Abaixa imunidade passiva em bezerros nascidos de partos distócicos podem ser resultado de baixo vigor comumente observado nestes bezerros, o que está associado ao atraso no consumo de colostro, além de consumo de volumes reduzidos. Ainda não está claro se as maiores concentrações de cortisol observadas nestes bezerros tem efeito na absorção de imunoglobulinas. Nos primeiros 60 dias de vida, a porcentagem de bezerros medicados foi de 31,6; 29,1; 65,3% para partos normais, com dificuldade leve e dificuldade moderada, respectivamente. Quando analisados apenas os dados das fêmeas, os números foram ainda maiores (normal: 36,3%; dificuldade leve: 37% e dificuldade moderada: 98,5%). A medida usada para morbidade neste estudo foi a proporção de “dias tratados”, assumindo-se que o medicamento foi administrado em resposta a uma doença.

As taxas de mortalidade foram de 4,9; 9,4 e 40% para bezerros nascidos de parto normal, com dificuldade leve e dificuldade moderada, respectivamente. Em geral, as taxas de mortalidade foram 2,8 vezes maiores entre os animais que tiveram alguma dificuldade no parto, quando comparados aos animais nascidos de parto sem assistência.

Em relação ao desempenho das fêmeas, a distocia não afetou o crescimento do nascimento até o primeiro serviço nestes animais. Isto pode parecer surpreendente, pois as fêmeas nascidas de partos distócicos tiveram uma saúde mais debilitada, o que está relacionado com menores taxas de crescimento. No entanto, é possível que as fêmeas mais afetadas pelos partos distócicos tenham morrido antes do desaleitamento, deixando para a segunda fase de crescimento, somente animais que não foram afetados tão severamente. Contudo, muitos estudos comprovam que a distocia tem efeitos negativos em longo prazo na sobrevivência, e desempenho de bezerras, e mostra que a distocia tem impacto significativo na saúde dos animais antes e após o desaleitamento.

Pode-se concluir que animais nascidos de partos distócicos experimentam maior estresse fisiológico, apresentam falhas na transferência de imunidade passiva, bem como maior morbidade e mortalidade. Estes resultados são ainda piores para animais que estavam mal posicionados (parto com dificuldade moderada, já que os animais nascidos de parto com dificuldades severas não sobreviveram após o parto), pois estes bezerros exigiram maiores cuidados e ainda assim tiveram maiores taxas de mortalidade. Além de afetar o bem estar dos bezerros, os efeitos da distocia ao longo da vida do animal oneram ainda mais a criação, devido a maior necessidade de tratamentos. Desta forma, torna-se necessário reduzir tais causas, melhorando o ambiente, a nutrição da vaca no período seco e aumentando a seleção genética para a facilidade de parto. Além disso, assistência qualificada e higiene são fundamentais para reduzir os efeitos adversos na hora do parto.

Referência

BARRIER, A.C.; HASKELL, M.J.; BIRCH, S.; BAGNALL, A.; BELL, D.J.; DICKINSON, J.; MACRAE, A.I.; DWYER, C.M. The impact of dystocia on dairy calf health, welfare, performance and survival. The Veterinary Journal, 195: 86-90, 2013.

Comentários

Os partos distócicos são comuns em alguns sistemas de produção e muitas vezes está mais relacionado ao mal julgamento da real necessidade de assistência do que falhas no manejo que possam aumentar a freqüência deste tipo de parto. A definição do momento e situação em que o parto necessita de intervenção, normalmente resultando no tracionamento do bezerro, deve ser discutida com o técnico que acompanha esta propriedade. A isso deve-se se associar a escolha de touros com alta facilidade de partos, principalmente para a inseminação de novilhas, além de nutrição de animais no pré-parto adequadas, assim como a condição do piquete ou baia maternidade. Os partos distócicos tem efeitos deletérios tanto para a vaca quanto para os bezerros. As vacas podem apresentar retenção de placenta, metrite e podem ter sua produção comprometida. Como mostra o trabalho, os bezerros de partos distócicos tem maior dificuldade de controle de sua temperatura corporal, menor absorção de imunoglobulinas e consequentemente maiores taxas de mortalidade. Aqueles que sobrevivem tem desempenho semelhante aos bezerros de partos normais. No entanto, o maior custo com tratamentos, assim como o menor número de animais em criação devido a mortalidade, aumenta o custo de produção de novilhas de reposição. Evitar partos distócicos deve ser uma meta em todos os sistemas de produção de leite e para isso o treinamento do responsável, assim como o manejo adequado, são essenciais!

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

MARÍLIA RIBEIRO DE PAULA

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EDVARDO PEREIRA DE MELO

TERESINA - PIAUÍ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/05/2013

Carla, boa tarde.

Excelente trabalho do ponto de vista técnico.

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