Rússia: boom de tecnologias para o setor lácteo

A Rússia está vivendo um boom na demanda dos produtores de leite por tecnologias, a fim de obter melhor lucratividade e resolver alguns problemas antigos da produção.

O Ministério da Agricultura da Rússia solicitou recentemente às empresas locais que desenvolvessem tecnologias para que o país não dependesse de equipamentos estrangeiros. De acordo com o Ministério, o objetivo é construir fazendas "inteligentes", nas quais o desempenho médio da produção seja de 13.000 litros por vaca por ano e o risco de ocorrência de mastite seja substancialmente reduzido, enfatizando que investimentos em automação e robotização são necessários para acompanhar as tendências globais.

“Espera-se que o mercado de robotização de fazendas de leite [mundial] alcance 504 bilhões de rublos (US$ 7,5 bilhões) em 2023”, disse o Ministério. “Atualmente, dezenas de milhares de robôs de ordenha já estão empregados em fazendas de leite em todo o mundo. Este mercado é estimado em 120 bilhões de rublos (US$ 1,8 bilhão) por ano atualmente.”

Artem Belov, diretor geral do sindicato russo de produtores de leite, Soyuzmoloko, disse que seria errado dizer que as tecnologias inteligentes serão introduzidas nas fazendas apenas com o pedido do governo. Na maioria das vezes, isso ocorre pelas próprias necessidades da produção de leite, a fim de obter economias reais de custos de produção, redução de perdas e solucionar o problema de falta de mão de obra experiente.

Todas as empresas modernas tentam introduzir o maior número possível de sistemas automatizados e soluções inteligentes, desde o início do projeto. As tecnologias são utilizadas para calcular dietas, monitorar riscos de doenças, controlar perdas no processamento, trabalhar melhor com o varejo, etc. e, para isso, as fazendas frequentemente optam por empresas internacionais com um nome e reputação bem conhecidos. No entanto, também existem soluções na indústria russa e elas são procurados no mercado.

Lucratividade da "fazenda inteligente"

A lucratividade das fazendas leiteiras tecnológicas é geralmente 40% maior do que a média, e a ocorrência de mastite é reduzida em até 70%, afirmou o Ministério, acrescentando que fazendas tecnologicamente avançadas na Rússia frequentemente produzem leite que atende aos padrões da classe extra, que é o leite da mais alta qualidade na classificação russa.

“O setor de produção de leite na Rússia é um dos consumidores mais ativos de soluções digitais e robóticas modernas. Uma vaca é cara, por isso é economicamente viável usar todos os tipos de sensores e coleiras inteligentes”, comentou Oleg Bukhantsev, gerente de projeto sênior no Centro Skolkovo, o “Vale do Silício” da Rússia.

“Os produtores de leite utilizam análise de vídeo para rastrear estágios importantes da vida de um animal, como quando uma vaca está sexualmente ativa (cio) ou está na hora do parto, e assim por diante”, disse Bukhantsev.

Ele explicou que a robotização na produção de leite russa não é impulsionada apenas por empresas internacionais conhecidas. As fazendas russas estão cada vez mais reconhecendo os benefícios das tecnologias inteligentes e injetando dinheiro nos departamentos de P&D (pesquisa e desenvolvimento) para desenvolver soluções exclusivamente para suas necessidades de produção.

“Essa tendência está principalmente associada à grande competição no mercado. Posições de liderança podem ser assumidas por uma empresa que implementa soluções que visam otimizar os custos de produção ou melhorar a qualidade dos produtos”, disse Bukhantsev.

Até agora, um período de retorno bastante longo impede que as empresas invistam maciçamente na maioria das tecnologias na Rússia. No entanto, todos os participantes do mercado concordam que a robotização na indústria de leite russa está prestes a ganhar impulso.

Governo, uma mão amiga

O governo russo está incentivando os produtores a modernizar os equipamentos e mudar para tecnologias mais eficazes. Para alguns, o auxílio estatal será uma virada de jogo.

Fedor Yaroslavtsev, diretor de uma fazenda leiteira na Rússia, admitiu que há vários anos está pensando em estabelecer uma fazenda com robôs. Ele disse que viajou para muitos países, visitou colegas russos e, no final, estava convencido de que a agricultura inteligente era uma necessidade.

“O futuro pertence às tecnologias avançadas. Não é segredo que o número de pessoas dispostas a trabalhar na pecuária está diminuindo a cada ano. Os experientes vão embora, mas você não pode atrair os jovens para fazendas antigas”, disse ele, acrescentando que nem todo fazendeiro na Rússia pode se dar ao luxo de mudar para tecnologias inteligentes, no entanto.

“Fomos ajudados pelo programa regional de apoio estadual lançado no ano passado, que, aliás, fomos os primeiros a usar”, disse Yaroslavtsev. “O resultado final é que, ao construir uma nova fazenda, você obtém metade do custo do equipamento subsidiado pelo orçamento regional”, acrescentou.

Cada vez mais regiões do país estão introduzindo programas destinados a apoiar projetos inovadores na agricultura. Atualmente, quase todas as fazendas na Rússia poderiam obter ajuda estatal de alguma forma, especialmente se planejarem empregar algumas tecnologias inteligentes.

Novos players chegando

Muitas empresas nacionais de diferentes setores estão expressando interesse em tecnologias agrícolas inteligentes. Por exemplo, a maior empresa de telecomunicações russa, MTS, anunciou recentemente que desenvolveu uma solução para o gerenciamento de fazendas leiteiras e já fez um primeiro acordo para empregar a tecnologia.

“A solução permite monitorar a saúde das vacas, prever o início do cio e parto, emitir tarefas para os funcionários da fazenda e monitorar sua implementação. A tecnologia consiste em um sensor de bolus inteligente instalado no estômago da vaca e um software que analisa as informações e atribui tarefas à equipe”, disse a MTS em um comunicado, acrescentando que espera que o sistema seja mais procurado entre as grandes e médias fazendas leiteiras, com 300 cabeças ou mais.

O bolus controla a atividade motora do animal, a temperatura corporal e coleta dados sobre a ingestão de água. O sistema determina o modelo habitual de comportamento de um animal, identifica desvios e faz suposições sobre o que pode tê-los causado. Entre outras coisas, o sistema provou garantir uma economia de 15% em medicamentos usados, prever partos em 15 horas e reduzir o período de serviço de 148 dias, em média na Rússia, para 90 dias ou menos.

O sistema funciona com base em um serviço de nuvem e permite que um operador monitore a condição do rebanho e o desempenho operacional da equipe. Cada animal tem uma conta individual para armazenar um passaporte virtual.

“A agricultura é uma das áreas mais promissoras para a digitalização. Nos últimos 5 anos, os investimentos na indústria de tecnologia agrícola em todo o mundo aumentaram 2,5 vezes. A MTS pretende se tornar um dos impulsionadores do desenvolvimento do emergente mercado russo de digitalização da agricultura. Nosso objetivo final é criar uma fazenda digital, que ajudará a gerenciar processos com base em análises preditivas”, comentou Dmitry Khalin, vice-presidente da MTS para soluções digitais e em nuvem.

“Nosso complexo pecuário é um dos mais modernos da região. Como experiência, compramos 250 bolus e implantamos uma rede inteligente na fazenda. Os bolus já estão instalados nas vacas. Eles se sentem bem: os dispositivos são completamente inofensivos para os animais e apenas os beneficiam”, comentou Vyacheslav Chekhovskikh, presidente da fábrica de laticínios Deveryansky.

Algumas outras empresas de telecomunicações russas estão refletindo sobre planos de desenvolvimento no segmento de tecnologias para agricultura e pecuária. Por exemplo, a Rostelecom, da Rússia, assinou recentemente um memorando com a Naretrends, uma empresa de agricultura de precisão na Coreia, sobre cooperação no campo das tecnologias de informação e comunicação (TIC) na agricultura.

As empresas concordaram em participar de um projeto de desenvolvimento de agricultura inteligente utilizando sistemas de gerenciamento, monitoramento e análise de dados baseados em tecnologias TIC, Internet das Coisas (IoT), sensores inteligentes e uma plataforma de processamento de Big Data. O plano é criar infraestrutura para introduzir tecnologias de precisão na Rússia com gerenciamento automático, disseram as empresas.

As informações são do Dairy Global, traduzidas e adaptadas pela Equipe MilkPoint.