Efeito das patologias do pós-parto na eficiência reprodutiva de vacas leiteiras

Os principais impactos das doenças uterinas sobre a lucratividade dos sistemas de produção de leite estão relacionados à piora nos índices reprodutivos dos rebanhos leiteiros, especialmente devido ao prolongamento do intervalo parto-concepção e ao descarte prematuro de vacas por estas não se tornarem gestantes durante a lactação (BELL e ROBERTS, 2007; SHELDON et al., 2008; BUSO et al., 2018).

Entre outros prejuízos associados à ocorrência de doenças uterinas, destaca-se a redução na ingestão de matéria seca que, consequentemente, leva à perda de ECC e que resulta em uma considerável diminuição na produção de leite (LEWIS, 1997).

Esses prejuízos podem ser ainda maiores em fazendas leiteiras onde há alta incidência de infecções uterinas, considerando o aumento dos custos com medicamentos utilizados no tratamento, além do fato de que as doenças uterinas comprometem a saúde, o bem-estar e a produtividade das vacas acometidas (SHELDON et al., 2009).

Monteiro et al. (2020) verificaram em um estudo conduzido no Brasil que a ocorrência de um ou de vários episódios de doenças no pós-parto de vacas leiteiras Holandesas aumentou em 2 e 3 vezes, respectivamente, o risco de as vacas apresentarem falhas na ovulação dentro dos primeiros 50 DEL.

Mais especificamente, a RP aumentou em 2,7 vezes e a metrite em 3,2 vezes o risco de anovulação em relação às vacas saudáveis. Estes resultados evidenciam que as doenças do pós-parto de vacas leiteiras predispõem o atraso na retomada da atividade ovariana. Esta condição anovular vista em algumas vacas leiteiras que adoecem no pós-parto é uma consequência de um BEN severo (OPSOMER et al., 2000).

Ao avaliarem os fatores de risco para o reestabelecimento da ciclicidade ovariana no pós-parto e para a sobrevivência embrionária, SANTOS et al. (2009) concluíram que o ECC ao parto e no momento da primeira IA pós-parto, assim como sua variação durante o pós-parto são fatores que influenciam o reinício da atividade ovariana avaliada aos 65 DEL, a taxa de concepção à primeira IA pós-parto e a sobrevivência embrionária avaliada aos 58 dias de gestação em vacas leiteiras Holandesas.

A ocorrência de RP promoveu atraso de 2 a 3 dias até o primeiro serviço e de 6 a 12 dias na concepção, além de reduzir de quatro a 10% a taxa de concepção ao primeiro serviço (FOURICHON et al., 2000). Em clima tropical, vacas acometidas pela RP tiveram um período de serviço cerca de 27 dias mais longo do que vacas saudáveis (REZENDE et al., 2013). Além disso, a RP foi responsável pelo aumento da taxa de descarte, da duração do período de serviço e do número de inseminações requeridas por concepção em vacas leiteiras mestiças (BUSO et al., 2018).

Já com relação à metrite, houve um atraso de sete dias até o primeiro serviço e de 19 dias na concepção, e uma queda de 20% na prenhez por inseminação (P/IA) ao primeiro serviço de vacas leiteiras (FOURICHON et al., 2000).

Gilbert et al. (2005) reportaram um aumento de 88 dias no período de serviço e uma redução de 26% na taxa gestação aos 300 DEL em vacas com endometrite clínica em relação às vacas sadias.

Vacas Holandesas diagnosticadas com endometrite subclínica apresentaram como consequência redução na P/IA e prolongamento do período de serviço (GALVÃO et al., 2009; LIMA et al., 2013). No entanto, a endometrite subclínica não comprometeu o desempenho reprodutivo de vacas leiteiras mestiças (CARNEIRO et al., 2014; BUSO et al., 2018).

Em um estudo desenvolvido por Carvalho et al. (2019) avaliou-se os efeitos a longo prazo das doenças clínicas ocorridas nos primeiros 21 DEL sobre o desempenho produtivo e reprodutivo de vacas leiteiras Holandesas. Como resultado, verificou-se que até os 305 DEL houve uma redução de 4% na produção de leite e um aumento de 95% na taxa de descarte considerando vacas que tiveram pelo menos um episódio de doença clínica no fim do período de transição. Em relação ao desempenho reprodutivo, os autores reportaram 19% de queda na taxa de prenhez e de 31% na taxa de parição, provavelmente porque os efeitos negativos causados pelas doenças do pós-parto afetam a manutenção da gestação mesmo p após a recuperação clínica da doença.

A inflamação do endométrio de vacas que desenvolveram doenças uterinas no pós-parto parece ser o principal fator associado à perda de gestação em vacas leiteiras. Edelhoff et al. (2020) demonstraram que vacas receptoras de embriões à fresco, produzidos in vitro, que foram acometidas pelas doenças uterinas (RP, metrite, endometrite clínica e subclínica) tiveram 33,9% de perda de gestação à primeira transferência de embriões (TE) após o parto, o que evidencia o comprometimento do ambiente uterino por estas patologias, e que assim altera o desenvolvimento e a manutenção da gestação.

O número de casos de infecções uterinas que resultam em óbito é pouco relevante, porém há um aumento no risco de descarte de vacas acometidas pelas doenças uterinas devido ao baixo desempenho produtivo e reprodutivo destas fêmeas (LEWIS, 1997; BUSO et al., 2018). De acordo com LeBlanc et al. (2002) há um aumento de 1,7 vezes no risco de descarte de vacas diagnosticadas com endometrite clínica entre os 20 e 33 DEL em relação às vacas livres de infecção.
 

Conclusão

Baseado nos dados apresentados pode-se concluir que a prevenção é a melhor estratégia para combater os efeitos negativos da ocorrência das doenças do pós-parto na eficiência reprodutiva, pois mesmo após a cura clínica dessas patologias a eficiência reprodutiva não é reestabelecida, e seus efeitos persistem por toda a lactação.

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