O assunto desse artigo é a APLISI (Associação dos Produtores de Leite Independentes de Santa Isabel), associação que vem congregando produtores de leite nos últimos 22 anos. Uma história de união e progresso!
Vamos, no entanto, começar contando o que se passou com um ex-produtor de leite no final de 2023: No interior do estado de São Paulo, produtor de 2.600 litros por dia, Compost Barn, CBT 3, CCS 180, gordura 3,85. Logística fácil e pessoa honesta. Bom demais para a “cooperativa” compradora. Preço de leite alto, R$ 2,60, em novembro de 2023, em comparação com os R$ 1,80 do Spot (preço comercializado na época para a região em questão). Esta, a “cooperativa”, que considerava o produtor Sr. “Ludovico”, apenas um fornecedor e não um cooperado, enviou-lhe uma cartinha informando de que captaria o seu leite por mais 30 dias, paralisando a coleta após esse prazo.
Pode? Leite bom demais e, portanto, caro demais. Para não alterar as tabelas de ágios, o que afetaria o preço de privilegiados cooperados, os dirigentes decidiram pela forma mais fácil: excluir o produtor que ousou entregar ao comprador leite de qualidade superior ao previsto em seus planos. O produtor teve oferta de outro laticínio para a compra do seu leite, mas com valor 20% menor do que estava entregando. No desespero vendeu todas as vacas para um produtor maior, que naquele momento precisava aumentar o volume produzido.
História verídica, (o nome do produtor é fictício), recente e extremamente lamentável. O ex-produtor, “Ludovico”, chora diariamente debaixo de seu enorme galpão vazio.
Uma indignidade com um abnegado, incansável batalhador.
Agora vamos a APLISI, associação cujo símbolo é uma flor, o copo de leite – de nome científico Zantedeschia aethiopica, mas que poderia ser também um cachorro Border Collier, que mantém as ovelhas em um só bloco, no rebanho, para que não se desgarrem e sejam devoradas pelo lobo, ou pelo voraz comprador de leite.
Um ‘’case”, como as academias chamam os eventos institucionais raros. Uma história de extremo sucesso protagonizada por produtores que vem se unindo para comercializar o leite por eles produzidos com estabilidade, visão de futuro, preço justo, parceria e, principalmente, segurança contra os ataques inclementes como o que vitimou “Ludovico”.
Parceria que, por parte do comprador, oferece redução de custo, por negociar com uma diretoria ao invés de, considerado o atual quadro de associados, negociar com 80 produtores um volume de mais de 120.000 litros por dia. Redução de custo que inclui também o preenchimento da capacidade ociosa de suas plantas, segurança e possibilidade de planejamento anual e de longo prazo.
Algumas características únicas da APLISI:
- Contrato anual com parceiro (parceiro mesmo! Com objetivo comum de longo prazo);
- Administração virtual a partir de um micro escritório central que acompanha o cumprimento do contrato de cada um dos associados;
- Localização dos produtores geograficamente expandida, atualmente em 20 municípios dos estados de RJ e MG, proporcionado pelo fato da administração ser virtual;
- Proposta de adesão e termo de compromisso anual do produtor com a associação. O contrato completo detalhado é firmado em cartório, entre a APLISI e a indústria compradora;
- Volume vendido é o total da soma dos volumes de todos os associados, com logística sob responsabilidade da indústria;
- Tabela de ágio de volume que permite preço justo para produções atuais de 50 a 10.000 litros por dia;
- Ágios e deságios de gordura, proteína, CCS e CBT, são, contratualmente comum a todos;
- Planilha mensal, aberta ao conhecimento de todos os associados e “rankeada” de 1 a 80 em cada característica do leite fornecido, volume, gordura, proteína, CCS e CBT;
- Quatro análises por mês realizadas pela Rede Brasileira de Laboratórios;
- Subsídio percentual descontado na fonte e transferido à conta da APLISI que custeia as despesas do escritório, duas festas de confraternização (São João Del Rei MG, e Ipiabas RJ) e premiações com troféus para qualidade, sólidos e volume;
- Faturamento do leite entregue mensalmente transferido diretamente à conta corrente de cada produtor;
- Cinco diretores não remunerados;
- Estrutura simples e com foco apenas na negociação do leite.
Um pouco da APLISI para o leitor.
Só temos a lamentar que, com tanta dedicação, capricho e sucesso na sua fazenda, nosso amigo Ludovico, se associado à APLISI fosse, não estaria chorando diariamente sob o teto ventilado de seu vazio Compost Barn.
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Autores
Polyana Pizzi Rotta
Professora e Pesquisadora na Universidade Federal de Viçosa. Coordenadora do Programa Família do Leite. Esposa de produtor de leite associado à APLISI.
Paulo Fernando Andrade Corrêa Silva (Poleca)
Diretor administrativo e financeiro da APLISI. Fundador da APLISI. Produtor de leite desde 1989. Atuou por 30 anos na General Motors como superintendente responsável pela montagem de motores, sendo boa parte desse período no exterior.