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Efeitos do estresse calórico e do resfriamento na eficiência alimentar, fatores importantes na economia de fazendas leiteiras em climas quentes

POR ISRAEL FLAMENBAUM

COWCOOLING - FLAMENBAUM & SEDDON

EM 25/08/2023

6 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 19/01/2024

Muitas informações foram publicadas nas últimas décadas sobre o efeito negativo do estresse calórico do verão nas características produtivas e reprodutivas da vaca de alta produção. No entanto, até os últimos anos as informações sobre o efeito do estresse calórico na eficiência alimentar de vacas (estimado pela relação alimento/leite) são muito limitadas.

Conhecer toda a extensão das perdas econômicas causadas às vacas devido à carga de calor pode ajudar a apresentar aos produtores de leite suas perdas e, assim, convencê-los a investir na instalação e operação adequada de meios de mitigação de calor em suas fazendas.

Uma publicação especial do NRC, do início dos anos 80, mostrou que, em comparação com vacas em condições normais, os requisitos de energia para mantença de vacas leiteiras são 20% maiores quando expostas a temperaturas ambientes de 30°C e 35% maiores para aquelas expostas a temperaturas de 40°C.

Estudos realizados nas instalações do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) no final dos anos 60 mostraram que a relação alimento/leite era 10% maior em vacas que pariam no verão em comparação com aquelas que pariam no inverno. A quantidade de energia destinada à produção de leite foi de 60% da energia consumida quando as vacas estavam em condições normais, mas de apenas 35% quando as vacas foram expostas por duas semanas a condições de estresse calórico em câmaras climáticas (32°C).

Em uma pesquisa em larga escala realizada em 13 fazendas leiteiras comerciais no Alabama, as vacas produziram 1,4 kg de leite por cada kg de MS consumida, nos meses de inverno, em comparação com apenas 1,3 kg de leite nos meses de verão (redução de 5% na "eficiência alimentar").

Pesquisadores da Universidade do Arizona publicaram um estudo realizado em suas novas cowcooling câmaras climáticas localizadas em Tucson.  Eles compararam o consumo e a produção de leite de vacas de alta produção mantidas em condições climáticas normais e cujo consumo de ração foi restrito ao das vacas estressadas pelo calor. As primeiras tiveram queda de produção de apenas metade da queda obtida nas vacas com estresse calórico (30% e 15% nas vacas com estresse calórico e com alimentação restrita, respectivamente). 

Em outras palavras, a queda no consumo de ração por vacas com estresse calórico pode explicar apenas metade do declínio na produção de leite, assumindo que a metade restante pode ser atribuída à possibilidade de que parte da energia consumida foi usada para ativação de mecanismos corporais para dissipar o calor, bem como a outras alterações metabólicas no sistema digestivo da vaca. Em outras palavras, o estresse térmico causa “ineficiência nutricional”.

Utilizando o mesmo protocolo experimental, realizamos alguns anos atrás em Israel uma pesquisa nas instalações da fazenda leiteira experimental do Ministério da Agricultura de Israel. Dois grupos de 21 vacas de alto rendimento cada, com média de 45 kg/d, foram alimentados ad lib com uma ração TMR (fornecida em caixas individuais de ração pesadas diariamente) e ordenhadas três vezes ao dia. Todas as vacas foram intensamente resfriadas por uma combinação de aspersores e ventilação forçada, fornecida por seis horas cumulativas por dia, em oito "sessões de resfriamento".

No meio do verão, o tratamento de resfriamento foi gradualmente interrompido para um dos grupos, enquanto o fornecimento de alimentos para as vacas do outro grupo (onde o resfriamento continuou) foi restrito, comparado ao consumido pelas vacas não resfriadas e estressadas pelo calor. Assim como no estudo do Arizona, também em nossa pesquisa, a queda de 20% no consumo de ração (de 24,4 para 19,4 kg/vaca/dia) no estresse calórico poderiam explicar apenas metade da queda na produção de leite.

A queda na produção de leite nas vacas com estresse calórico foi quase o dobro daquela obtida nas vacas resfriadas e com alimentação restrita (14 e 8 kg/vaca/dia, respectivamente). Em outras palavras, resfriar as vacas no verão pode melhorar a eficiência alimentar em 5 a 10%, quase a mesma taxa obtida com vacas em condições normais e de estresse térmico no Arizona.

Um prejuízo na eficiência alimentar também é obtido a partir do efeito direto da queda na produção anual de leite da vaca e se soma ao obtido devido ao efeito direto do estresse calórico na eficiência alimentar apresentado até agora. As necessidades de alimentação para mantença são constantes e a mesma quantidade necessária para manter vacas que produzem 10 ou 40 kg de leite por dia. Assim, os gastos com mantença serão menores em vacas de alta produção, já que elas “dividem” com mais quilos de leite produzidos por dia. 

Em uma pesquisa realizada em Israel com 40 fazendas leiteiras e durante um período de 20 anos, a quantidade de matéria seca por litro de leite produzido anualmente foi registrada para fazendas cuja produção anual variava de 9.000 a 14.000 kg de leite por vaca. Neste levantamento, constatou-se que são necessários 0,78 kg de matéria seca para produzir 1 kg de leite com uma produção anual de 10.000 kg, enquanto que com uma produção de 12.000 kg são necessários apenas 0,70 kg de alimento (10% menos). 

Com base em um artigo bastante citado, publicado há quase 20 anos por St. Pierre da Ohio State University, uma queda de 2.000 kg de leite por vaca anualmente pode ser esperada em fazendas leiteiras de alto rendimento no sul dos EUA (e também, em grande parte do Brasil), devido ao calor do verão e à falta de uso efetivo de meios de mitigação de calor.

Hoje sabemos, com base em nossa experiência em Israel, que a implementação adequada de meios de resfriamento pode evitar a maior parte dessa diminuição. Um acréscimo de 2.000 kg à produção anual da vaca nesses climas significa uma redução adicional de 10 a 15% nas despesas anuais com alimentação para produção de leite, quando, como mencionado, essa melhoria é independente e adicional à melhoria econômica relacionada ao efeito direto do calor nas vacas, descrito anteriormente neste artigo.

Para ilustrar ao leitor o benefício econômico completo devido ao efeito na eficiência alimentar e ao benefício decorrente do resfriamento das vacas, fiz um cálculo para os produtores de leite brasileiros com base nos resultados dos estudos apresentados acima.

Descrevo um cenário onde o custo diário de alimentação por vaca (maio de 2023) é de R$ 1,6 por 1 kg de MS (variando entre R$ 32 – R$ 38 diários para vacas consumindo 20 e 24 kg de MS por dia). A fazenda leiteira está localizada em uma região com 150 dias de verão que podem causar estresse calórico (Minas, Goiás, SP), e a eficiência alimentar anual cai em aproximadamente 15%.

Nesse caso, resfriar adequadamente as vacas tem potencial para aumentar o lucro anual por vaca em cerca de R$ 1.600, mais de quatro vezes o investimento necessário para resfriar as vacas no verão. Presumo que podemos esperar de 70 a 80% desse benefício em fazendas leiteiras localizadas em regiões mais frias do Sul do Brasil (SC, RS, Paraná).

Em conclusão, a queda na eficiência alimentar em condições de estresse calórico tem um impacto significativo na economia da fazenda leiteira, especialmente para as fazendas localizadas em climas quentes, mas também para aquelas localizadas em regiões temperadas. Apresentar esses números, bem como os benefícios esperados com o resfriamento intensivo e adequado das vacas, estimulará os pecuaristas de todo o Brasil (e do mundo) a investir na implantação e operação adequada de meios de mitigação do calor. Isso será, antes de tudo, para o próprio benefício dos produtores brasileiros, mas também para o meio ambiente, pois o leite pode ser produzido com menos vacas, menos alimentos para manutenção e produção e, ao mesmo tempo, menos emissão de GEE para a atmosfera.

 

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ISRAEL FLAMENBAUM

Especialista no estudo do estresse térmico em vacas leiteiras, professor na Hebrew University of Jerusalém, tem ministrado cursos e treinamentos sobre o assunto em diversos países.

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LUCAS ADRIANO ANGST

TOLEDO - PARANÁ - ESTUDANTE

EM 29/08/2023

Informações de dieta das vacas, sobre manejo, jeitos de conseguir fazer mais leite com menos vacas 🐄 e negócios importantes que todos os precisão saber. Isso é um conteudo interessante para eu saber tratar melhor nas vacas 🐄 🐄.

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