A principal causa da “crise” no setor leiteiro é a má gestão dos empresários. O preço baixo não ajuda, mas não explica todo o fracasso. Países como o Uruguai, que são tomados como exemplo para o setor leiteiro da Argentina devido aos bons preços, perderam nos últimos anos cerca de 30% de suas fazendas leiteiras, enquanto se registra uma concentração da produção.
No Uruguai, o litro de leite cru tem um preço de 47 centavos de dólar, cerca de 3,83 pesos argentinos (US$ 0,47) no tipo de câmbio oficial, enquanto que na Argentina, o preço do litro de leite não supera os 3 pesos (US$ 0,36). No entanto, segundo o último Censo Agropecuário do Uruguai, 27% das fazendas leiteiras deixaram de funcionar entre 2000 e 2011, quando se tem os últimos dados. Porém, depois disso, as pesquisas realizadas pelo órgão estatístico do país continuam registrando ano após ano uma menor quantidade de empresas leiteiras, junto a um aumento da produção, um indicador da forte concentração que existe.
O gerente da Associação de Produtores de Leite da Argentina (APL), Manuel Ocampo, acredita que a queda de fazendas leiteiras no Uruguai precisa ser analisada em um contexto mais amplo, como da baixa internacional nos preços do leite. Isso “faz com que as economias muito pequenas (produtores de baixa escala) não possam sobreviver”, disse ele.
Se a visão é feita de uma perspectiva global, “hoje são um problema no mundo as fazendas que produzem 500 litros (por dia) e em todas as partes há uma sangria permanente. Isso mostra em princípio que as margens da produção são muito pequenas para sustentar as pequenas economias”.
Que escala deveria ter uma fazenda leiteira atualmente na Argentina para ser viável com as políticas atuais? A pergunta para Ocampo é de difícil resposta. “O certo é que a bibliografia mostra que a competitividade não depende tanto da escala como da gestão”.
Porém, ele disse que “receber um lucro por litro da ordem de 10 centavos de peso (1,22 centavos de dólar) por litro em uma fazenda de 500 litros, significa 50 pesos (US$ 6,14) por dia. Dessa forma, além da gestão, “é muito difícil viver com 50 pesos (US$ 6,14) por dia para essas produções”. Em poucas palavras, um produtor de 100 hectares e 80 vacas que ordenha com a família “acaba sendo não rentável” se não tem apoio para expandir a escala com a compra de campo, por exemplo, através de empréstimos em condições favoráveis.
Ocampo disse que essa situação que é dramática para os pequenos produtores – não somente argentinos, mas de todo o mundo – traduz-se em uma “realidade que beneficia o consumidor”, porque definitivamente a eficiência de gestão e a ampliação da escala gera um custo menor do produto final, ou ao menos isso deveria acontecer.
É necessário dizer que uma fazenda de 500 litros diários de produção é menos que pequena. Considera-se que a média geral de produção diária de leite na Argentina é de cerca de 2.700 litros, 500 litros é apenas 18% da produção de uma “fazenda média”. Há políticas governamentais que fomentam o cooperativismo e o associativismo para subir a escala de produção total, entre várias fazendas leiteiras, e possibilitando agregar valor a seu próprio leite.
Juan José Linari, da Fundação para Promoção e Desenvolvimento da Cadeia Láctea (FunPEL) compartilha a visão de que a escala não é uma condição nem necessária, nem suficiente para a rentabilidade. Ele, que é ex-coordenador do Programa Nacional de Política Leiteira da então Secretaria de Agricultura da Argentina entre 2002 e 2008, considera que ainda nas presentes circunstâncias, uma fazenda leiteira familiar pode ser um bom negócio.
Qual seria a escala para Linari? A resposta tampouco é tão determinante. “Há produtores pequenos com propriedades familiares que têm rentabilidade, crescem e têm um bom nível de vida”. Porém, por outro lado, “há propriedades muito grandes e muito sofisticadas com graves problemas de rentabilidade”, compara, para mostrar a importância da gestão.
A análise é mais complexa e “depende da eficiência no manejo de todos os recursos: reprodução, sanidade e alimentação” e a eficiência dos recursos humanos é um dos mais importantes. “São um fator crítico na Argentina e em todos os países leiteiros”, disse Linari, acrescentando que é necessário “dar condições às pessoas para que vivam melhor e não saiam das fazendas leiteiras”.
Parece que existem vários problemas que os preços não conseguem explicar completamente. Um de ordem microeconômica, que deriva da ineficiência própria de um mal empresário, que não está relacionada com a escala de produção. Como em qualquer atividade econômica, ou mudam ou se fundem e um preço mais alto somente servirá para esconder a inoperância empresarial, nada mais.
Por outro lado, há um problema de escala que, para as fazendas leiteiras muito pequenas, como exemplificado por Ocampo, de 500 litros diários, estão sentenciados a um destino de desaparecimento, por melhor que seja a gestão. A solução que propõe o gerente da APL é precisamente aumentar a escala, já que não conseguirão rentabilidade nem aqui, nem em nenhum outro lugar do planeta, já que é uma tendência global.
Um terceiro fator é que a concentração da produção, que também é uma tendência global, favorece o consumidor, mas o outro lado é o drama do pequeno produtor. Por oposição, pagar mais ao produtor pequeno é prejudicar o consumidor e, por sua vez, nadar contra a corrente, porque se trata de uma tendência global. Cedo ou tarde, esse preço voltará a ser insuficiente.
A reportagem é do El Enfiteuta, traduzida pela equipe MilkPoint Brasil.
Argentina: nem só de preços vive o produtor de leite
A principal causa da "crise" no setor leiteiro é a má gestão dos empresários. O preço baixo não ajuda, mas não explica todo o fracasso. Países como o Uruguai, que são tomados como exemplo para o setor leiteiro da Argentina devido aos bons preços, perderam nos últimos anos cerca de 30% de suas fazendas leiteiras, enquanto se registra uma concentração da produção [...]
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RODRIGO GREGÓRIO DA SILVA
LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO
EM 17/06/2014
Boa matéria.