De fato, no atacado, tanto a muçarela quanto o leite longa vida tiveram aumento de 3% em relação ao mês passado, mas ainda estão abaixo dos valores praticados há um ano atrás. No varejo, segundo o levantamento feito mensalmente pelo MilkPoint em Piracicaba - SP, não houve ainda nenhuma reação significativa no leite longa vida, apesar da alta expectativa de aumento no preço ao consumidor, mantendo o preço médio de R$ 2,12 com 33 dias de fabricação, como pode ser visualizado do gráfico 1.
Gráfico 1: Preço do leite longa vida (UHT) e dias de fabricação no varejo de Piracicaba-SP.
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A produção nos estados do Sudeste e Centro-Oeste tem mantido ritmo praticamente constante de produção. Segundo o Índice de Captação de Leite calculado pelo Cepea (ICAP-Leite), houve um aumento de 1,1% em agosto frente julho. E segundo informações de agentes do mercado, pouca alteração na produção foi observada no mês de setembro de forma geral. Apesar de pontuais pancadas de chuva, elas ainda não foram suficientes a ponto de refletir nas melhora das pastagens. No sul do país, as tempestades nos primeiros dias de outubro compromentaram pontualmente a região noroeste do Rio Grande do Sul, mas a produção de leite mantém o perfil sazonal de produção.
Esse ritmo lento na produção é consequência não só das condições climáticas, mas dos custos de produção altíssimos, que provocaram o recuo dos investimentos dos produtores diante de um cenário de preços pagos no campo praticamente estáveis desde julho, tendo a média ponderada em setembro ficado em torno dos R$ 0,7996/litro (valor líquido), segundo o levantamento do Cepea (Gráfico 2).
Gráfico 2: Preços pago ao produtor deflacionados (Fonte: Cepea)
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Apesar da baixa rentabilidade do produtor ser um assunto recorrente nos panoramas de mercado desse ano, em agosto, ela parece estar mais evidente do que nunca. O gráfico 3 foi feito a partir dos dados do ICPLeite/Embrapa e preços do leite em Minas Gerais apontados pelo Cepea/USP. No entanto, como o ICPLeite/Embrapa trabalha com os valores relativos apenas, nós arbitrariamente colocamos o valor de R$ 0,525/litro como custo em julho de 2007, corrigindo a partir daí pela inflação dos insumos utilizados pelo produtor. Percebe-se um descolamento importante entre o preço do leite e o custo estimado, atípico para essa época do ano.
Esta alta no índice calculado pela Embrapa foi impulsionada principalmente pela quebra da produção de soja no Brasil e as incertezas quanto à safra de milho nos Estados Unidos. Como os preços dessas commodities estão bem atrelados ao mercado externo e como houve recente recuo das cotações, a situação tende a aliviar um pouco, mas continua complicada em termos de custos.
Gráfico 3: Estimativa de preços, custo e lucro de um produtor em Minas Gerais (deflacionado).(Fonte: MilkPoint)
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A grande questão é o comportamento futuro dos preços. A tendência de leve recuperação nas cotações do UHT e queijos, com reflexo no Spot, chegarão ao produtor nesse final de ano?
Observando a disponibilidade interna de leite, as importações voltaram a subir em setembro, com 111,3 milhões de litros de leite em equivalente-leite, aumento de 26% frente a agosto. Nesse cenário, é pouco provável que haja recuperação de preços nessa época do ano.
Também, é pouco provável que haja queda significativa. O baque no meio do ano foi considerável, os custos permanecem altos e não se pode dizer que o produtor está estimulado, principalmente quando se pensa no cenário de 2013, em que as indústrias precisam garantir seu suprimento de leite. Embora não seja possível quantificar o possível efeito da baixa rentabilidade do produtor na oferta do ano que vem, faz sentido supor que a produção crescerá abaixo nas médias históricas no ano que vem, e a indústria precisa manter a captação, ainda mais em um cenário de ociosidade de boa parte das plantas.
De 1997 em diante, a produção aumentou em média 10,9% do terceiro para o quarto trimestre, fruto basicamente da retomada das chuvas e das pastagens em boa parte do país. Seguindo a lógica desse raciocínio, temos a possibilidade do aumento da produção nessa época do ano, e no outro lado, a tendência de diminuições das importações. O leilão da plataforma gDT, realizado em 16/10, reforça essa possibilidade, uma vez que verificou-se um aumento de 9% no leite em pó integral, passando novamente dos US$ 3400/tonelada. Com isso (tabela 1), o preço de equivalência para entrada do leite do Mercosul no Brasil chegou próximo aos R$ 0,77/litro, o que diminui o ímpeto importador.
Tabela 1: Preço aproximado do litro de leite que entra no Brasil do Mercosul, em R$ (Fonte: MilkPoint, a partir de dados do gDT, Cepea/USP)
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Dentro desse cenário, o mais provável é que tenhamos um final de ano equilibrado, resultado de um ano marcado pela estabilidade, ao menos do lado dos preços, sempre lembrando que o número e a magnitude das variáveis que afetam o cenário dificultam previsões no médio prazo.