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Restrição às importações define mercado

POR MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

E MARLIZI M. MORUZZI

PANORAMA DE MERCADO

EM 21/07/2009

7 MIN DE LEITURA

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Seguindo a tendência do último mês, os preços ao produtor mantiveram ritmo de alta. De acordo com os dados do Cepea-Esalq/USP, em junho a alta foi mais expressiva, resultando no maior reajuste do ano, de quase 7%, com a média nacional em R$ 0,7086/litro. Na primeira quinzena de julho, novos reajustes foram reportados por empresas consultadas pelo MilkPoint. Mas os produtores não se entusiasmaram com os reajustes: perdas acumuladas ao longo de meses, a experiência frustrante do final de 2007 e de 2008, custos mais altos de produção e preços acima de R$ 2,50 para o leite UHT no varejo - gerando certo senso de injustiça - fizeram com que o produtor mantivesse a produção sob controle, sem grandes investimentos. Ao menos por enquanto.

Há, também, a questão climática. Em entressafra, a produção no Sudeste e Centro-Oeste permanece reduzida, sendo que mesmo em regiões mais especializadas (que normalmente têm aumento de produção devido ao fornecimento de suplementação alimentar), a produção não mostrou reação. No Sul, além de atrasada devido a fatores climáticos, a safra iniciou-se em ritmo mais lento. Os produtores, alertas em relação a um passado recente (2007) - em que preços altos estimularam fortemente a produção, com consequente queda de preços -, não se mostram estimulados para investir na produção. De acordo com o Índice de Captação de Leite do Cepea, a produção de maio foi 2,44% menor que a de abril. Nos primeiros 5 meses do ano, o volume captado foi 6,76% menor que o do mesmo período do ano passado. Mas a diferença está se reduzindo.

Aliada à oferta restrita de leite, a alta nos preços do leite UHT no atacado e varejo certamente influenciaram o aumento de preços ao produtor - apesar do descontentamento dos produtores pelo fato de que esse aumento não ocorreu na mesma proporção. Contudo, o leite UHT é apenas um dos produtos derivados (importante, claro, na formação de preços, já que mais de 30% do processamento de leite é direcionado para o longa vida). Nesse sentido, leite em pó e os queijos precisam também ser considerados. Analisando o gráfico 1 - variação de preços no varejo pelo IPCA, medido pelo IBGE, e que engloba o UHT no item pasteurizado -, vê-se que o UHT foi o único item que apresentou crescimento significativo de preços. No entanto, mesmo que em proporções bem menores, queijos e leite em pó também tiveram reajustes.

Gráfico 1. Variação dos preços no varejo, de acordo com o IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo - medido pelo IBGE.
 

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No atacado, o UHT também se mostra como o produto com alta mais expressiva; porém, os queijos também tiveram reação. De abril para maio, a alta no preço da mussarela, segundo o Cepea, foi de 10,9%. Segundo informações de agentes de mercado consultados pelo MilkPoint, a média do quilo do produto no atacado, em junho, era de R$ 10,00, sendo que em julho o quilo foi negociado, em média, a R$ 11,50.

O gráfico 2 mostra os preços de venda no atacado menos o preço da matéria-prima. Nota-se que, a partir de março, a diferença entre o preço no UHT no atacado e o preço ao produtor ficou maior, denotando a alta de preços do leite longa vida. O mesmo ocorreu com os queijos, em abril. Já com o leite em pó, a situação se inverte - preços do produto em queda e alta no preço ao produtor, fez com que a curva, para esse produto, ficasse decrescente, estabilizando em maio.

Gráfico 2. Preço de venda no atacado menos custo da matéria-prima, ajustado para base 100 (jan/07).
 

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Do lado do produtor, apesar dos últimos reajustes, a situação não é de todo favorável. As perdas acumuladas no período de junho a dezembro de 2008, além de custos de produção crescentes, foram motivos para os produtores - apesar da reação dos preços - não se sentissem motivados para aumentar a produção. De acordo com o ICPLeite/Embrapa, nos cinco primeiros meses do ano a alta nos custos foi de 3,59%. Nos últimos 12 meses, a elevação no custo dos insumos foi de 7,71%. O índice RMCR - Receita Menos Custo de Ração - elaborado pelo MilkPoint - apesar de ter melhorado nos últimos meses, ainda é inferior ao registrado em períodos anteriores, de preços melhores e/ou custos mais baixos.

O que esperar para frente?

Mesmo em níveis inferiores, a RMCR não está de todo ruim. Além disso, a previsão é de baixa no preço da proteína vegetal (soja), em função da maior safra americana; a menor demanda por milho para produção de energia deve dar pouco espaço para altas das cotações. Essas condições devem favorecer um aumento de produção de leite de outubro em diante, ou mesmo antes, caso a safra do sul comece a crescer com força. Chuva e frio estão retardando o crescimento das pastagens no Sul, resultando em aumento lento da oferta.

No aspecto da demanda, já se vê um recuo nos preços do longa vida. De acordo com agentes do setor consultados pelo MilkPoint, o preço no atacado caiu nos últimos 15 dias, sendo cotado, em média, a R$ 1,90/litro no Centro-Oeste e Sudeste e R$ 1,85 no Sul. No varejo, os preços estão estáveis, mas algumas redes varejistas já estão fazendo promoções. Esses dados podem indicar que os preços ao produtor não devem subir mais, sendo essa também a opinião da maioria dos agentes consultados - estabilidade de preços no pagamento de agosto (referente ao leite de julho), principalmente na segunda quinzena. O Conseleite-PR projetou, para o pagamento de julho, valor já praticamente estável em relação ao pagamento de junho (valor projetado para julho, leite padrão, é de R$ 0,7128 - posto plataforma, bruto -, sendo R$ 0,7100/litro o valor final de junho). A margem da indústria de UHT, no entanto, continua bastante favorável apesar do recuo dos preços no atacado.

O que realmente preocupa é o cenário externo. Os preços do leite no Brasil, em dólar, estão bem acima dos preços vigentes em vários concorrentes (gráfico 3). Dados da LTO Nederland mostram que, em dólar, o preço do leite no Brasil está acima dos valores dos EUA e da Nova Zelândia, sendo superado apenas pelos preços praticados na Europa (e mesmo assim, já ficaram bem próximos nas cotações de maio).

Gráfico 3. Preço pago ao produtor em diferentes países, em dólar.
 

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Dentre os fatores apontados para essa causa, a valorização do real frente ao dólar é relevante. Segundo o Índice Big Mac, tradicional ranking elaborado pela revista britânica "The Economist", o real estaria com uma sobrevalorização de 13% em relação ao dólar, o que fez o Brasil superar os Estados Unidos no valor em dólares do sanduíche Big Mac. Na avaliação da revista, uma moeda excessivamente valorizada encarece os produtos de um país e os tornam menos competitivos no exterior. Como o Real está, em termos de PPP (Paridade do Poder de Compra), mais valorizado do que o dólar, isso faz com que estejamos sem competitividade externa para exportar leite, cujos preços lá fora seguem andando de lado, em um patamar baixo.

E tudo indica que a valorização do real vai continuar. E mais, há quem diga que vai piorar, ou seja, não se pode esperar uma mudança em relação à competitividade do leite brasileiro no mercado internacional. Em relação aos preços externos dos lácteos, o mercado também não espera mudanças significativas nos próximos meses.

O principal aspecto que mantém os preços internos acima dos externos é, no entanto, o travamento às importações de leite. As restrições às importações de lácteos oriundas de diversos países, criam uma situação interna bastante particular e, com isso, fazem com que o comportamento do mercado interno - em especial a subida do leite UHT - se reflita nos preços ao produtor, gerando um cenário distinto do panorama global. Portanto, se essas restrições forem mantidas, deveremos ter mais algum tempo de calmaria, até que o estímulo à produção interna diante dessa conjuntura possa desequilibrar oferta e demanda. Caso não mantidas, teremos uma grande quantidade de leite entrando no país, e não só do Mercosul: hoje, fazendo as contas, é viável importar da Nova Zelândia, Austrália, Estados Unidos e até da União Europeia, com anti-dumping e todas as tarifas.

É uma situação incômoda: preços ao produtor valorizados se comparados com a média mundial, mas não tão atrativos quando comparados com os custos de produção. E, principalmente, com os bons preços atingidos pelo UHT no atacado (e, em menor grau, ao queijo).

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

MARLIZI M. MORUZZI

Médica Veterinária pela FCAV/UNESP-Jaboticabal.

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THOMAS STRAUSSS

SÃO PAULO - SÃO PAULO

EM 18/08/2009

Bom dia Marcelo e Marlizi,

O artige é excelente, quero somente lembrar que as variações em dólar frequentemente são mais fortes que as variações do preço do leite para o produtor tanto aqui como no exterior. Com o nosso Real supervalorizado qualquer preço brasileiro parece alto. Tivemos no início de Março uma taxa cambial de R$ 2,44 = US$ e hoje ela beira 1,86, nosso Real é tão forte assim ? Isto distorçe e atrapalha muitas previsões e cálculos. Com uma taxa mais "realistica" do Real teremos provavelmente o preço mais baixo do mundo e seria justo o produtor reclamar uma remuneração mais adequada. Infelizmente a politica cambial desestimula o produtor.

Grande Abraço !

Thomas Strauss

<b>Resposta MilkPoint:</b>

Thomas,

Obrigado pela participação. É isso aí, o câmbio é a principal variável nessa questão, e tudo indica que daqui para frente não vai dar para contar com ele para termos competitividade. Você trabalha em alguma trading?

Abraço,

Marcelo
SAVIO

BARBACENA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 27/07/2009

Boa tarde Marcelo e Marlizi;

Conforme comentei em artigo anterior, acho que a especulação dos laticínios que produzem UHT já prejudicou o mercado. As altas do leite foram reais e ajudaram o mercado a se posicionar frente a uma valorização natural e acima de tudo vital para o setor, mas infelizmente os produtores de UHT se precipitaram especulando um sobre o preço do outro.
A realidade de hoje, 27/07/2009, é a seguinte: Mercado do RJ - Longa Vida de marca de R$ 1,65 a R$ 1,80, Longa Vida do Sul e Marcas de outras regiões R$ 1,45 a R$ 1,60. E o pior: Estoque da até 10 dias.
Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.

Um abraço a todos,

Sávio Santiago
VIVIANE FIGUEIREDO VIEIRA

ITAPETINGA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/07/2009

Parabéns Marcelo e Marlizi,

Importantíssima essa análise para nos manter informados dos cenários internos e externos do mercado do leite. Com base nesses dados vamos traçando caminhos para nossa produção leiteira. Contamos com novas informações.

Abraços,

PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/07/2009

Marcelo / Marlizi,
Uma análise muito importante porque alerta o produtor do risco de investir neste momento. O máximo que dá para fazer é reforçar a suplementação com concentrados, mas, mesmo assim, mantendo o pagamento dos fornecedores em dia!

Abraço.
Paulo Fernando
ANTONIO LUIS B.DE LIMA DIAS

MOCOCA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 21/07/2009

Parabéns Marcelo

Bela análise sobre a conjuntura atual.

Vale destacar que quando compararmos demais produtos agrícolas com o dólar atual, também temos valores bem acima do que os preços históricos de mercado.

Abraços

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