A expectativa de aumento na oferta de leite nessa época é um fator que se justifica historicamente, e em 2011 não deve ser diferente: o final do ano deve acompanhar a expectativa do aumento da produção, como vem sendo observado pela média histórica, do IBGE (captação formal). O último trimestre (4T) tende a ser maior do que o terceiro trimestre (3T). Em 2010, por exemplo, o 4T foi maior que 3T em 8% e em 2009, o aumento foi de 12%, como pode ser observado no Gráfico 1. Nos últimos 13 anos, o aumento médio foi de 10,9%.
Gráfico 1. Histórico de captação de leite formal (mil Litros)
Mesmo considerando que a safra no Sul tenha sido menor do que o esperado e que em 2011 a oferta não deva mostrar nem de longe o vigor do último ano, os dados do CEPEA sugerem que a produção vem apresentando um sutil mas contínuo aumento nos últimos meses, e que os preços ao produtor têm se mantido firmes até setembro, estimulados pelos valores no atacado, apesar desse aumento na captação (Gráfico 2).
Gráfico 2. Captação vs Preço ao Produtor - 2011
A oferta interna vem sendo ampliada pelas importações, que tem sido um elemento importante na disponibilidade de leite no país. Nos últimos 3 meses (Gráfico 3), atingiram 347 milhões de litros em equivalente-leite, a maioria como queijos e leite em pó, aumentando a oferta desses produtos e fazendo com que muitas empresas direcionassem sua produção para o leite UHT, possivelmente elevando a oferta desse produto que estava com cotações atrativas para a indústria. Nessa situação, aumentou a oferta de leite UHT (e queijos também) no atacado, iniciando a queda de preços desses produtos no início de outubro.
Gráfico 3. Volume e valor das importações em 2011.
Apesar de algumas informações desencontradas de alguns agentes de mercado, tudo indica que os estoques de UHT têm aumentado, dando algum suporte para a redução nos valores do produto no atacado, que agora giram em torno de R$ 1,60/L a R$ 1,65/L, cerca de R$ 0,25 a 0,35 abaixo dos valores de 60 dias atrás (mercado de São Paulo).
No entanto, os valores ao consumidor pouco se alteraram no mercado de São Paulo. O gráfico 4 retrata o levantamento realizado pelo MilkPoint no varejo de Piracicaba, em início de novembro, mostrando consistência nos preços.
Gráfico 4. Variação dos preços e dias de fabricação do UHT no mercado de Piracicaba
O fato dos preços no atacado terem caído, mas não os preços no varejo, levam agentes do mercado a ponderar que o recente movimento de preços reflete uma estratégia do varejo para forçar a queda de preços no atacado e ampliar a margem de lucro uma vez que o reflexo de queda de preço nos produtos ainda não foi sentido nas prateleiras dos supermercados. A estratégia funcionaria da seguinte maneira: com o aumento dos preços ao consumidor, o consumo é afetado; esse fato, aliado ao aumento da oferta, reduzem o apetite de compras do varejo, o que pressiona a indústria a vender a preços mais baixos; o não repasse imediato ao consumidor não estimula o consumo e força baixas ainda mais altas no atacado, para então finalmente os preços serem repassados ao consumidor, estimulando algum aumento de consumo e reestabelecendo as margens, porém em preços mais reduzidos para a indústria (e para o produtor).
Para os últimos meses do ano de 2011, muito provavelmente, a queda de preços = ao consumidor coincidirá com a safra das regiões Sudeste e Centro-Oeste. A redução dos preços no leite spot, que precederam a redução ao produtor nas indústrias, é outro fator que pressiona as cotações para baixo. Porém, a magnitude desse "ajuste" não pode ser muito significativa por dois aspectos principais.
Primeiro, em 2012 o salário mínimo será reajustado para R$ 619,21, representando uma significativa elevação de 13,6%, que deverá manter o consumo das famílias em alta. Com o mínimo vindo a partir de janeiro, após um ano de oferta relativamente apertada, as empresas não poderão descuidar sob o risco de ficar "sem leite" em meados do ano.
Segundo, os custos estão elevados (gráfico 5). Tomando como base as estimativas de preços pagos ao produtor vs custo de produção de Minas Gerais estimados pelo MilkPoint a partir de dados da Embrapa Gado de Leite, é possível observar que o produtor veio obtendo margens interessantes frente a um histórico de muitas oscilações, mas os custos acompanharam de perto os preços. Ainda que o leite de pasto seja mais barato, a perspectiva para 2012 é continuarmos com insumos caros, de forma que a produção sofreria muito caso a redução fosse muito significativa.
Gráfico 5. Estimativa histórica de preços pagos ao produtor, custo de produção e margem de lucro em Minas Gerais.
Apesar de vários fatores poderem afetar a análise futura (como o comportamento das importações), o cenário mais provável é de um 2012 equilibrado. De um lado, um consumo elevado de lácteos, puxado pela economia interna. De outro, uma oferta que será maior do que em 2011, caso tenhamos uma estação produtiva mais favorável no Sul, o que é esperado. Nesse cenário, empresas e produtores devem estar atentos aos movimentos do mercado, uma vez que, quando há equilíbrio, a mudança em um dos fatores poderá desequilibrar o mercado, para cima ou para baixo.