Você já se sentiu atraído por ir em um supermercado mais distante da sua casa para comprar mais barato, mas acabou pensando: “o custo de eu ir lá não compensa”?
Pois bem! O mercado lácteo do Brasil hoje vive uma situação parecida: o preço do leite brasileiro está atrativo para os compradores internacionais, mas o custo logístico tem sido um empecilho (mas não impeditivo!) das exportações.
Para se ter uma ideia, o custo do frete do leite em pó integral do Brasil para Argélia passou de US$100 a 120/ton para US$400 a US$450/ton. Ou seja, um aumento de praticamente 400%.
Esse empecilho do forte aumento do custo logístico não é uma jabuticaba só do Brasil, mas é um problema mundial, causado pela escassez de containers, diminuição das rotas marítimas e congestionamento nos portos ao redor do mundo.
E como isso tem afetado o setor lácteo?
O aumento dos custos marítimos tem afetado toda a dinâmica de exportações e importações de lácteos ao redor do mundo – refletindo, inclusive, no mercado brasileiro.
Conforme abordado em matéria publicada aqui no MilkPoint há uns dias, o CEO da Leprino Foods, Mike Durking, relatou que os atuais problemas logísticos representam uma ameaça aos exportadores de lácteos dos EUA.
No Brasil, não é diferente.
Diversos players do mercado têm relatado dificuldades logísticas em suas exportações – seja pelos altos custos, alto tempo de espera nos portos e diminuição das rotas marítimas. O MilkPoint Mercado com Otávio Farias, da Embaré, que relatou algumas das dificuldades logísticas que o mercado brasileiro tem enfrentado.
Entretanto, apesar dos altos custos logísticos, tudo indica que o Brasil continuará tendo um prato cheio para exportação nos próximos meses, com dólar alto, preços internacionais em ascensão e diminuição do custo de aquisição do leite brasileiro.
A expectativa do mercado financeiro é de um dólar fechando 2021 acima de R$5,50. Para o primeiro trimestre de 2022, as expectativas também são de uma taxa de câmbio ainda em altos patamares.
Ao analisarmos as expectativas do preço do leite em pó internacional, também esperamos preços firmes para os próximos meses, o podemos observar no gráfico abaixo.
Gráfico 1. Preços futuros para o leite em pó integral - dia 06/12/2021
Fonte: GDT (Global Dairy Trade) e NZX (New Zealand's Exchange) - elaborado pelo MilkPoint Mercado.
Por outro lado, olhando o preço do leite brasileiro pago ao produtor, após consecutivos aumentos ao longo deste ano, o mercado praticou baixas nos pagamentos de outubro a novembro e tende a praticar uma baixa (não muito forte) no pagamento de dezembro – o que torna ainda mais competitivo o nosso leite.
Ou seja, tudo (ou quase tudo) está se alinhando em prol das exportações brasileiras.
Como o aumento das exportações refletirá no mercado brasileiro?
O aumento das exportações e, por outro lado, a diminuição das importações, pode levar à diminuição da disponibilidade de leite no mercado interno.
Além disso, a produção brasileira também tem sido menor do que a esperado para o período – o que tem aumentado a demanda por leite no mercado spot e refletiu nos preços da primeira quinzena deste mês.
Uma das razões para essa menor produção, pode ser justificada pela mudança na sazonalidade da produção, conforme discutimos no artigo “A sazonalidade da produção ainda é a mesma?”
Tudo isso, em um cenário de baixo estímulo à produção, com a arroba do boi voltando a ganhar força – o que estimula o abate de vacas – e RMCR (Receita Menos Custo de Ração) em declínio, conforme podemos observar no gráfico abaixo.
Gráfico 2. Receita Menos Custo de Ração (RMCR)
Dessa forma, olhando o cenário nacional, podemos esperar duas principais consequências:
1º - queda do preço ao produtor mais suave que a anteriormente esperada: devido a menor disponibilidade interna (pela menor produção nacional e diminuição no saldo da balança);
2º - possível aumento do preço de venda do leite em pó no mercado interno: devido, principalmente, a menor entrada do produto importado.
Paralelamente, olhando o cenário de exportação, com todos os problemas logísticos, fica a pergunta: o frete compensa? Tudo indica que sim, e que nos próximos meses veremos alguns países pagando a conta para buscar o leite brasileiro.