Iniciando 2010, a pergunta que se faz é se essa elevação de preços será mantida e, no mercado interno, quais serão os reflexos da mesma. Até o final do ano, essa recuperação no mercado internacional não refletiu nos preços internos, sendo que o valor médio nacional pago ao produtor registrou queda de 5,4% em dezembro, de acordo com o Cepea-Esalq/USP, ficando em R$ 0,6024/litro. O valor médio pago ao produtor em 2009 (R$ 0,667/litro) ficou 4,0% abaixo em relação ao valor médio de 2008, R$ 0,694 (ambos corrigidos pelo efeito da inflação).
Gráfico 1. Preços do leite ao produtor (deflacionados pelo IGP-DI).
A atividade agropecuária sofreu fortes dificuldades em 2009. No caso do leite, o desestímulo em função dos baixos preços praticados no final de 2008 acarretou na queda de 4,52% na captação do 1º semestre. Também, as adversidades climáticas (seca e depois excesso de chuva) castigaram o Sul do país, afetando a produção, que deve ter fechado 2009 com valores próximos à produção de 2008, segundo analistas da região consultados pelo MilkPoint. A antecipação do período de chuvas também fez com que o pico da safra no Centro-Oeste e Sudeste chegasse antes. No 3º trimestre, a Pesquisa Trimestral do Leite, divulgada pelo IBGE, já apontou essa recuperação na captação nacional, que ficou 4,7% superior em relação a 2008.
No cenário externo, o mercado lácteo brasileiro também não conseguiu desenvolver-se; ao contrário, apresentou retrocesso. O país, que saiu da condição de importador de lácteos em 2004, voltou a apresentar déficit em sua balança comercial no ano de 2009. Dentre os diversos efeitos da crise econômica, a forte valorização do real frente ao dólar foi o principal desafio dos exportadores neste ano. Ao todo, foram exportadas 73,5 mil toneladas de lácteos, no valor de US$ 178,5 milhões, o que representa uma queda de 50,5% em volume e 67% em valor quando comparado a 2008.
Tabela 1. Balança comercial de lácteos em 2009 e 2008 e variações.
Em virtude da variação cambial, o leite brasileiro chegou a ser um dos mais caros do mundo, superando até mesmo os preços europeus. Nesta condições, passou a ser vantajoso para as empresas nacionais importarem leite de outros países, principalmente do Mercosul. Como resultado, foram importadas 45 mil toneladas de leite em pó da Argentina e 22,6 mil toneladas do Uruguai. Ao longo do ano, foram aplicadas várias medidas pelo governo brasileiro visando controlar a entrada de leite em pó desses países.
No mercado interno, os efeitos da crise não foram tão acentuados. O consumo de alimentos e bebidas aumentou ao longo do ano, em função da melhora no poder de compra da população (aumento real do salário mínimo e de programas assistenciais). Também contribuiu para o aumento do consumo familiar a queda da inflação, que em 2009 registrou a segunda menor taxa dos últimos 10 anos, sendo que a redução no preço dos alimentos no decorrer do ano foi o principal fator para isso. Já para 2010, na visão de economistas, é pouco provável que o grupo alimentação ajude a segurar a inflação.
Apesar da queda nos preços dos alimentos, durante algum momento do ano o leite foi o vilão da inflação em 2009. Entre dezembro de 2008 e o encerramento de 2009, produtos alimentícios de maior importância na mesa do brasileiro, como o arroz e feijão, ficaram mais baratos em todas as 17 capitais pesquisadas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). No entanto, leite, óleo e batata também tiveram predomínio de alta na maioria das capitais brasileiras em 2009, de acordo com dados do Dieese. Em pesquisa realizada pela Equipe MilkPoint no varejo de Piracicaba-SP, verificou-se que o preço médio do leite UHT em 2009 ficou em R$ 1,87/litro, com preço médio máximo de R$ 2,34/litro (junho) e mínimo de R$ 1,49/litro (dezembro).
2010
No intuito de saber as expectativas dos produtores de leite para este ano, perguntamos aos nossos leitores quais serão os três principais desafios para 2010. Dentre as inúmeras respostas, a maioria dos participantes do debate acredita que uma política de preços que amenize a curva de altos e baixos ao longo do ano, assim como uma maior integração indústria-produtor, sejam aspectos prioritários. Também, a melhoria da qualidade do leite, dentro e fora da porteira, trazendo maior reconhecimento do leite brasileiro no exterior e ampliando as possibilidades de exportação. Por fim, o terceiro desafio mais citado diz respeito ao marketing do leite, divulgando os benefícios do produto e, assim, estimulando o consumo interno, que ainda tem muito espaço para crescer. Ainda, foram citadas: redução dos custos de produção, qualificação de mão-de-obra, união dos produtores, assistência técnica, entre outros.
Em relação aos preços, apesar do resgate de certo otimismo no mercado internacional, as primeiras cotações de 2010 mostraram queda. No primeiro leilão realizado pela Fonterra, o preço médio do leite em pó integral (US$ 3.309/ton) ficou 7% abaixo em relação ao valor de dezembro. Na visão de analistas internacionais, isso se deve ao cenário ainda instável do mercado e da existência de estoques na Europa e nos Estados Unidos. O período de férias também é de vendas mais fracas, impactando nos preços do atacado e varejo.
No Oeste da Europa, os preços também recuaram, e o leite em pó integral foi cotado a US$ 3.600/tonelada na primeira semana do ano, queda de 6% em relação ao preço médio de dezembro (US$ 3.830/ton). Segundo informações da European Dairy Farmers, o mercado mundial encontra-se bastante equilibrado e, portanto, os preços internacionais dos lácteos não devem subir durante o primeiro trimestre de 2010, ficando estáveis.
Os agentes do setor consultados pela Equipe MilkPoint acreditam que, em janeiro, os preços ao produtor no mercado interno devam ficar estáveis ou ter leve alta, com valores médios a R$ 0,60/litro no Sul, R$ R$ 0,65/litro no Centro-Oeste, e R$ 0,65-0,68/litro no Sudeste. O volume comercializado no mercado spot (entre as indústrias) já mostra redução em alguns estados, como Minas Gerais - onde a produção já começa declinar - com o litro sendo negociado em média a R$ 0,70. Já no Sul os preços do leite spot estão por volta dos R$ 0,64/litro e, no Centro-Oeste, a R$ 0,63/litro para a primeira quinzena de janeiro.
Em pesquisa realizada pela Equipe MilkPoint no varejo de Piracicaba-SP, observa-se que os preços do leite longa vida já mostram reajustes em relação aos valores de dezembro. Na primeira quinzena de janeiro, o valor médio para o leite UHT integral ficou em R$ 1,67/litro, valor 12% superior em relação ao preço médio de dezembro (R$ 1,49), como mostra o gráfico abaixo.
Gráfico 2 Preços do leite longa vida integral no varejo de Piracicaba-SP, e dias de prateleira do produto (dia de fabricação - data da pesquisa).
De modo geral, este início de ano se comportou de forma bem semelhante ao final de 2009. Daqui para frente, o ritmo da produção e da demanda - principalmente com a volta às aulas - é que devem dar novos sinais ao mercado. É fato que há muitos fatores importantes na formulação de preços, mas considerando a possibilidade de reabrirmos as exportações, com preços internacionais na casa dos US$ 3.500/ton e mantido câmbio atual (ao redor de R$ 1,70), forma-se um teto de preços para o mercado interno que, se fortemente extrapolado, pode dar novas condições para importação, retrocedendo esse início de alta, a não ser que a política de controle das importações seja mantida, ou que os preços internacionais continuem subindo, aposta que pouca gente faz hoje. Atualmente, as vendas brasileiras ao exterior são bem reduzidas, segundo analistas do setor, podendo considerar que as exportações ainda não foram retomadas. Vale lembrar que para vários países exportadores, os preços atuais são suficientes: remuneram produções a pasto, como na NZ, reduzem o risco de substituição por produtos concorrentes e afugentam países que têm custo de produção mais alto, como EUA e talvez Brasil.